“ELA”
Está mais magra e tem uma nova tatuagem de um dragão nas costas.
ELE entra no mercadinho e anda olhando pro chão... Pois não quer que ELA o veja. “Pra que conversar? Conversar sobre o que... tantos anos depois? Fingir que há apreço, e ao mesmo tempo... indiferença. Mó-trabalhão, essa tanta... educação.”
- Eeii! – Ela grita e olhares inevitavelmente se encontram. – Seus olhos estão vivíssimos, mas ela não sorri com os dentes.
Ele se assusta, exagera... Dá-lhe o maior sorrisão e um aceno abobalhado... Quando se aproximam abre os braços num abraço que caberia um planeta. Ela estanca os pés no chão, dando o lado da bochecha num cumprimento formal entre dois conhecidos, jamais amantes, jamais amigos. O constrangimento lhe deixa trêmulo...
A conversa se inicia... Uma conversa que se parece mais entrevista de emprego... Em que os dois disparam a falar apenas de suas qualidades e êxitos. ELA olha o relógio, olha pros lados... Dá um suspiro impaciente. Olha o celular diversas vezes enquanto ele termina de contar sobre sua vida tediosa e banal.
- Então. Bom te ver. – ELA diz com um ar de desdém. ELE se entrega e chega ao fim. “Ok, você venceu, Criatura Divina... Óh, Mulher SUPERIOR... a mim.”. – Se sente diminuído, sem valor... E ao mesmo tempo aliviado por não tê-la mais em sua vida simplória de reles mortal.
ELA dá um aceno formal (já falando ao celular algo que parece de grande importância). Eles se afastam. ELE sai... Parecendo estar querendo pintar o chão com os olhos.
ELA segura o telefone com força na orelha, seu rosto fica quente, de repente... E de seus olhos começam a brotar rios d’água. Agora que ELE se foi, pra sempre...
- A...Alô...?
- E então, como foi? Como se sente? - Pergunta seu analista.