C a r m i n h a

Sou uma fingida. Sempre fui, aparento ser bem comportada, educada, gentil... Mas não sou nada disso. É udo fingimento. A culpa não é minha, é da minha mãe. É ela que me faz aparentar o que não sou. Ela exige que eu banque a mocinha modelo, está me preparando para ser uma dama, desejando, quem sabe, que eu dê um golpe do baú, desde criancinha que ela molda meu comportamento, me poda de fazer o que eu gosto. Na verdade, ela é uma traumatizada por não ter sido bem-sucedida na vida. Desejava ser uma dama da tal alta sociedade e viu seu sonho desabar quando casou com meu pai que era bem de vida, mas dissipou tudo o que tinha no jogo e na bebida. Quando morreu, precocemente, vitima de suas extravagâncias, não tinha mais nada, só nos deixou este sobradinho onde moramos, numa ponta de rua. Minha mãe teve que cair na real, trabalhar duro ara sobrevivermos. Arrumou um emprego na prefeitura, além de exercer à noite o ofício de costureira e anda preparar bolos e doces ara as festas dos ricos.Nunca mais, segundo ela, quis saber de homens. Sua meta se limitou a me criar e me reparar para ser uma grande dama, ser aquilo qe ela não conseguiu ser. Ela quer se realizar por meu intermédio. Mas que posso fazer contra isso? Eu sei e su testemunha dos sacrifícios dela, dos seus esforços, da sua dedicação. Não, não posso contrariá-la. Por isso sou uma fingida. Ela chega a me privar da companhia de pessoas que gosto. Diz que são péssimas companhias orque não têm o que oferecer, são mais pobres que nós, e repete um ditado preconceituoso: "Minha filha, dois lisos juntos, escorregam". O alvo preferido dela é Nelsinho. Somos colegas de escola desde o Jardim da Infância, gostamos demais um do outro afinamos em quase tudo, mas minha mãe não aceita - nunca aceitou - nossa amizade, dz que ele é um moleque filho de um comunista, péssima companhia. E Nelsinho é ótimo aluno na escola, meio folgado e arengueiro, ms gosta de mim e eu dele. Acho que nos amamos desde crianças. Nelsinho sabe desse problema, mas aceita a minha fantasia: fingimos que não nos damos bem. coo fingimos! Só que não conseguimos enganar as pessoas mais atentas, caso de Dona Norma, a professora e dona da escola. Ela já manjou nosso fingimento e, não raro, pisca o olho para a gente, ela gosta da encenação, se diverte com isso, acho que vibra com o nosso namoro. E é amiga da minha mãe que sempre manda ua compota de doce ara ela. E mamãe quando a encontra sempre recomenda que ala não me deixe se aproximar de Nelsinho. Mas Dona Norma nem liga, até nos colocou em bancas vizinhas. Deve ser ara se dvertir co a nossa encenação. A principal é a disputa pelas notas mais altas: num mês eu fico na frene de Nelsinho, noutro mês ele me ultrapassa. Fingimos que estamos disputando na vera, mas a verdade é que tanto ele como eu até procuramos errar quesitos para que um asse outro. Mas em público quase brigamos. em até torcidas para um e ara outro. Quando conseguimos ficar a sós, o que é muito difícil, aí rimos muito e, claro, ficamos de mãos dadas e, às vezes, trocamos beijos rápidos, mas desejando que fossem demorados. Ele tem 14 anos e eu 13 . já sentimos certos desejos, o que é bom demais. Ele tem mais cuidado que eu, se contém me respeita. Tem ocasiões que até fico com raiva do excesso de respeito dele. Mas m dia desses, no corredor da escola, ficamos sozinhos e nos agarramos e eu senti que ele se armou e, ara minha alegra se melou todo. E ficou gaguejando desculpas. Nelsinho me ama. Mas sei que nunca seremos felizes junto, ha no nosso caminho uma pedra enorme: minha mãe. Jamais terei coragem de decepcioná-la. E algo mais forte do que eu.. Infelizmente.

P.S. Capítulo de uma tentativa de romance. Inté.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 20/08/2019
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