Eu parti por amor
Parecia a história de amor perfeita. Nós conhecemos por acaso, num barzinho. Conversamos, nos demos bem e rolou a famosa “química”. Começamos a sair, o beijo era bom e nos dávamos bem. Veio a primeira brigar, a primeira reconciliação e éramos um casal comum e feliz. Até que um dia ele foi embora sem motivo algum, sem qualquer explicação plausível ou não, sem um adeus. Apenas o derrubar de malas e roupas em cima da cama, uns gritos incompreensíveis, um bater de porta e o silêncio que fica após o vazio. E lá se foram três anos e um dia (mas quem está contando, né?) sem que eu o visse. Eu mudei e com certeza ele também mudou. E agora sei disso. Irônica coincidência ou brincadeira de muito mal gosto do destino, o encontrei por acaso. Ele continuava muito bonito, sorridente e barbudo. Tentei fingir, em vão, que não o tinha visto. No entanto, ele me viu e me reconheceu na hora. Senti pelo seu olhar. Já eu não o reconheci, afinal, talvez nunca o tenha conhecido realmente. Veio em minha direção, exalando a familiar confiança. Eu senti um frio na barriga (o passado causa uma desconfortável sensação no estômago). Quando eu senti o seu perfume ao meu redor, senti náusea. Sua presença me sufocou. Nunca pensei que reagiria assim. Ele perguntou como eu estava. Respondi secamente que bem e devolvi a pergunta de forma desinteressada. Isso não o desencorajou. Ele falou que arrumou um bom emprego e concluíra a faculdade. Fez-se silêncio. Ele me olhou demoradamente e disse algo me pegou de surpresa: “Eu me arrependo”. Não disse nada. Nada parecia ser bom o suficiente a ser dito. Ele insistiu e soltou um “eu te amo” rouco e apaixonado e mais uma vez não disse nada. Não parecia ser certo. Quis tanto isso e quando finalmente acontece, parece errado, fora de rumo. Após segundos torturantes, respondi um “tá bom”. Sem ressentimento ou frieza. Mas para mim que para ele. Ele ficou chocado e decepcionado. Os olhos ficaram marejados. Eu me senti culpada. Tentou me convencer que agora era o nosso momento, que podíamos dar certo, que ele era diferente. O que ele não percebeu era que eu também era outra pessoa. Não mendigava mais o amor dele. Mas uma vez só recebeu de mim o silêncio. Era tudo o que eu podia oferecer. Tudo o que ele merecia de mim. Pode ser egoísmo, mas era o que eu tinha a dar. E confesso que foi bom vê-lo sentir o que eu sentira a três anos e um dia atrás. Todavia, ao contrário dele, fui direta. Agradeci o seu amor e disse que não poderia aceitá-lo. Disse ainda algo que ele me disse antes de partir da minha vida repentinamente: “Não adianta chorar, baby, suas lágrimas não resolvem nada”. Me despedi, desejei que fosse feliz e encontrasse um amor bonito. Saí feliz comigo mesma e parecia que o mundo não pesava mais em minhas costas. Não me entenda mal. Eu ainda o amo, mas ausência dele me fez descobrir uma força para ser melhor que eu desconhecia. Embora o amasse muito, já não podia pertencer a ele. Eu era livre. Um dia talvez entenda porque tive que fazer isso e talvez me agradeça. Eu pertenço a algo maior: a mim mesma. Por amor eu fiquei, mas por mais amor, eu partir.