O Contrato
Depois de muito insistir, Osvaldo conseguiu convencer Gisela, a prostituta, a firmarem um contrato detalhando o relacionamento entre ambos para que, dessa forma, ficasse claro que havia interesse mútuo naquela relação e, por fim, coibir futuras decepções.
Gisela estranhou e resistiu, resistiu bravamente a essa história estapafúrdia de contrato, mas por amar, incondicionalmente, Osvaldo, acabou cedendo.
— Se queres assim, que sejas! — concordou de vencida a prostituta.
Chegando ao escritório de um advogado situado no Rio Vermelho, Osvaldo foi logo pedindo:
— Faça, Doutor! Faça depressa que ainda hoje reconheço firma em cartório.
O advogado sem jeito tentou resistir:
— Senhor, Osvaldo, mas para que este tipo de contrato? De que lhe serviria? E para que usá-lo? Vá para casa, pense melhor e amanhã nos falamos, está certo?
— Mas é claro que não, Doutor! Estou te pagando, não estou? Por favor, faça o que eu te peço, faça depressa. — insistia Osvaldo aflito e impaciente.
— Por que não se casam? Assim terás um contrato, um belo contrato de casamento.
Osvaldo reagiu aos berros:
— Está maluco, Doutor? Não sabes que este tipo de contrato esfria o relacionamento? E de mais a mais eu também já sou casado!
— E então homem? Por que isso?
— Porque assim eu quero! — respondeu Osvaldo com um soco na mesa.
O advogado percebeu a inutilidade dos seus argumentos, vira que o Osvaldo estava decidido.
Gisela, por sua vez, embora estivesse com o semblante de desaprovação não havia dito uma só palavra desde que chegara.
— Pois bem, o que deve constar no tal contrato? – disse o advogado enquanto posicionava suas mãos no teclado do computador a sua frente.
Animado, magnânimo, extasiado, Osvaldo arregalou os olhos e se agitou:
— Eu quero um contrato grande, Doutor, um contrato enorme... de páginas infindas e letras pequeninas. — dizia Osvaldo absolutamente maravilhado — Bote aí o seguinte: — Osvaldo pigarreou antes de começar — "Fica firmado, por meio deste, o relacionamento sexual insaciável entre Osvaldo Pereira dos Santos e Gisela Letícia da Glória, com carga horário incontável, inclusive, aos feriados e finais de semana.”
Mesmo resistente o advogado indagou:
— E o que mais?
Osvaldo começou a circular pela pequena sala abafada do escritório do advogado e extasiado continuou:
— “Fica a cargo de Osvaldo Pereira dos Santos o pagamento em espécie na quantia de quinhentos reais à senhorita, Gisela Letícia da Glória, sempre que o mesmo sentir-se realizado.”
Houve silencio!
Com os olhos arregalados o advogado quis questionar a última parte do texto, mas desistiu, encarou Gisela, moça jovem, que não alcançara 25 anos, no seu vestido cafona agarrado ao seu belo corpo, reparou também no seu vulgar decote de seios exageradamente siliconados. O olhar da moça era de pesar e melancolia, era evidente sua contrariedade com tudo aquilo.
Depois, o advogado, tirando os olhos da moça, voltou-se para Osvaldo, um homem de meia idade, calvo, de estatura média e barriga pontuda. Logo, pensou: “Uma prostituta e um bocó apaixonado, agora está explicado!”
— Isso não é necessário, meu amor! Bem sabes que eu te amo e que não quero o seu dinheiro. — interrompeu a prostituta com autenticidade.
Osvaldo sem dar ouvidos continuou:
— Bote aí também, Doutor: “Fica terminantemente proibido amar, o amor entre as partes é um atenuante que pode afetar o sexo gostoso e as demais fantasias sexuais, por esta razão, fica passível de quebra de contrato qualquer sentimento de afeto ou ternura. Porém, juras de amor inverídicas, apelidos carinhosos, confissões de lascívia, de lubricidade, estes sim, podem e devem ocorrer com frequência.”
Osvaldo continuou “declamando” com eloquência o seu contrato para que o advogado redigisse, enquanto expelia as palavras, Osvaldo se sentia extasiado, emotivo, realizado... Até que por um instante parou e reparou nas lagrimas da prostituta:
— O que houve, meu bem? — perguntou Osvaldo preocupado.
— Esse... esse contrato! — o choro aumentava.
— O que tem de errado? Quer mudar alguma clausula?
— Não quero mudar nada! Eu pensei que você fosse diferente, mas é igual aos outros, é exatamente igual a todos os outros que me humilharam.
Imediatamente Osvaldo aproximou-se de Gisela e ajoelhou-se para encarar melhor a moça que estava sentada, depois segurou a sua mão e rebateu:
— Não, não, não! Não é isso! Te humilhando eu? Como poderia? Estou apenas colocando no papel o nosso relacionamento, o nosso relacionamento bom, gostoso e feliz.
— Você não vê, Osvaldo? Esse contrato serve apenas para atestar a minha condição de mulher promiscua, de uma mulher sem valor e libidinosa, uma mulher que só quer dinheiro em troca de sexo e nada mais. Logo agora que me apaixonei por ti, que não ligo para o teu dinheiro, mas para tua atenção, para o teu carinho...
Osvaldo olhou para o chão por um instante parecendo refletir, depois voltou-se para Gisela com os olhos marejados e olhando para ela gritou para o advogado:
― Doutor, cancele o contrato, já não há mais a parte interessada.
O advogado rebateu:
― Como não se a moça, inclusive, chora por ti?
Então afastando-se e aproximando-se da porta disse:
― Não ouviu? Ela está morta! ― fez uma pausa e terminou com os olhos inconsoláveis ― Aqui jaz uma prostituta!
Depois de muito insistir, Osvaldo conseguiu convencer Gisela, a prostituta, a firmarem um contrato detalhando o relacionamento entre ambos para que, dessa forma, ficasse claro que havia interesse mútuo naquela relação e, por fim, coibir futuras decepções.
Gisela estranhou e resistiu, resistiu bravamente a essa história estapafúrdia de contrato, mas por amar, incondicionalmente, Osvaldo, acabou cedendo.
— Se queres assim, que sejas! — concordou de vencida a prostituta.
Chegando ao escritório de um advogado situado no Rio Vermelho, Osvaldo foi logo pedindo:
— Faça, Doutor! Faça depressa que ainda hoje reconheço firma em cartório.
O advogado sem jeito tentou resistir:
— Senhor, Osvaldo, mas para que este tipo de contrato? De que lhe serviria? E para que usá-lo? Vá para casa, pense melhor e amanhã nos falamos, está certo?
— Mas é claro que não, Doutor! Estou te pagando, não estou? Por favor, faça o que eu te peço, faça depressa. — insistia Osvaldo aflito e impaciente.
— Por que não se casam? Assim terás um contrato, um belo contrato de casamento.
Osvaldo reagiu aos berros:
— Está maluco, Doutor? Não sabes que este tipo de contrato esfria o relacionamento? E de mais a mais eu também já sou casado!
— E então homem? Por que isso?
— Porque assim eu quero! — respondeu Osvaldo com um soco na mesa.
O advogado percebeu a inutilidade dos seus argumentos, vira que o Osvaldo estava decidido.
Gisela, por sua vez, embora estivesse com o semblante de desaprovação não havia dito uma só palavra desde que chegara.
— Pois bem, o que deve constar no tal contrato? – disse o advogado enquanto posicionava suas mãos no teclado do computador a sua frente.
Animado, magnânimo, extasiado, Osvaldo arregalou os olhos e se agitou:
— Eu quero um contrato grande, Doutor, um contrato enorme... de páginas infindas e letras pequeninas. — dizia Osvaldo absolutamente maravilhado — Bote aí o seguinte: — Osvaldo pigarreou antes de começar — "Fica firmado, por meio deste, o relacionamento sexual insaciável entre Osvaldo Pereira dos Santos e Gisela Letícia da Glória, com carga horário incontável, inclusive, aos feriados e finais de semana.”
Mesmo resistente o advogado indagou:
— E o que mais?
Osvaldo começou a circular pela pequena sala abafada do escritório do advogado e extasiado continuou:
— “Fica a cargo de Osvaldo Pereira dos Santos o pagamento em espécie na quantia de quinhentos reais à senhorita, Gisela Letícia da Glória, sempre que o mesmo sentir-se realizado.”
Houve silencio!
Com os olhos arregalados o advogado quis questionar a última parte do texto, mas desistiu, encarou Gisela, moça jovem, que não alcançara 25 anos, no seu vestido cafona agarrado ao seu belo corpo, reparou também no seu vulgar decote de seios exageradamente siliconados. O olhar da moça era de pesar e melancolia, era evidente sua contrariedade com tudo aquilo.
Depois, o advogado, tirando os olhos da moça, voltou-se para Osvaldo, um homem de meia idade, calvo, de estatura média e barriga pontuda. Logo, pensou: “Uma prostituta e um bocó apaixonado, agora está explicado!”
— Isso não é necessário, meu amor! Bem sabes que eu te amo e que não quero o seu dinheiro. — interrompeu a prostituta com autenticidade.
Osvaldo sem dar ouvidos continuou:
— Bote aí também, Doutor: “Fica terminantemente proibido amar, o amor entre as partes é um atenuante que pode afetar o sexo gostoso e as demais fantasias sexuais, por esta razão, fica passível de quebra de contrato qualquer sentimento de afeto ou ternura. Porém, juras de amor inverídicas, apelidos carinhosos, confissões de lascívia, de lubricidade, estes sim, podem e devem ocorrer com frequência.”
Osvaldo continuou “declamando” com eloquência o seu contrato para que o advogado redigisse, enquanto expelia as palavras, Osvaldo se sentia extasiado, emotivo, realizado... Até que por um instante parou e reparou nas lagrimas da prostituta:
— O que houve, meu bem? — perguntou Osvaldo preocupado.
— Esse... esse contrato! — o choro aumentava.
— O que tem de errado? Quer mudar alguma clausula?
— Não quero mudar nada! Eu pensei que você fosse diferente, mas é igual aos outros, é exatamente igual a todos os outros que me humilharam.
Imediatamente Osvaldo aproximou-se de Gisela e ajoelhou-se para encarar melhor a moça que estava sentada, depois segurou a sua mão e rebateu:
— Não, não, não! Não é isso! Te humilhando eu? Como poderia? Estou apenas colocando no papel o nosso relacionamento, o nosso relacionamento bom, gostoso e feliz.
— Você não vê, Osvaldo? Esse contrato serve apenas para atestar a minha condição de mulher promiscua, de uma mulher sem valor e libidinosa, uma mulher que só quer dinheiro em troca de sexo e nada mais. Logo agora que me apaixonei por ti, que não ligo para o teu dinheiro, mas para tua atenção, para o teu carinho...
Osvaldo olhou para o chão por um instante parecendo refletir, depois voltou-se para Gisela com os olhos marejados e olhando para ela gritou para o advogado:
― Doutor, cancele o contrato, já não há mais a parte interessada.
O advogado rebateu:
― Como não se a moça, inclusive, chora por ti?
Então afastando-se e aproximando-se da porta disse:
― Não ouviu? Ela está morta! ― fez uma pausa e terminou com os olhos inconsoláveis ― Aqui jaz uma prostituta!