Cavaleiro templário, Cavaleiro moderno

Fui, em tempos idos, guerreiro por assim dizer. Não importa a época, mas estive empunhando espadas e rebatendo, com meu escudo, o ataque inimigo. Batalhas eram feitas de força e empenho. Não sabia, ou não pensava em certo ou errado. Apenas cumpria o que me era pedido. Em raros momentos de paz, em ruas e vilarejos vi a crueldade minha e de outros. Ossos partidos, mãos decepadas e elmos fendidos. Cansado, sentei, mas sempre alerta com as sombras ao redor. Então, eu vi! Você com seu vestido alinhado e sujo na barra. Ruas de terra com valas de água e sangue, misturados com os cascos e fezes dos cavalos combalidos pela batalha. Me ofereceu algo para beber e seu cabelo, solto, caindo igual a quedas d'água me davam um conforto real. Entoei um obrigado e toquei sua tez macia feito seda. Me olhou com sorriso e fez, talvez pela espada, uma reverência contida.

Tratou dos meus ferimentos, menos os da alma e do coração.

Depois de tanto tempo caminho pelos escuros das ruas e ainda vejo espadas afiadas em línguas de fogo cortando a honra entre irmãos, escudos do ego se defendendo da limitação humana. As batalhas de hoje, quase todas, matam, mas te mantém vivo como um ser sem vida. Subjulgado pelo ter e ser. O ter quase sempre vence. Então, encontrei você novamente! Ainda oferecendo seu sutil sorriso entre as pausas dessas batalhas modernas. Em uma nova roupagem, mas com o mesmo cabelo e afeto profundo que um dia me alçou em vôo de anjo sobre brancas nuvens. Parece que agora tens uma maneira voraz de se comunicar através de palavras.

Nos olhamos e era como se algo no firmamento trouxesse o passado no presente. Não havia campo de batalha nesse momento, mas a pequena lembrança deu uma pontada de dor. Entretanto, suprimi e superei porque queria o momento de paz! Nos aproximamos e começamos a conversar. Notei suas unhas bem feitas. Exalava um doce perfume, quase afrodisíaco. Ficamos um tempo apenas nos olhando como se decifrando algo entre velhos conhecidos que não se viam há tempos.

Diferente dela, lembrei de todo o episódio. Era por isso que eu estava ali. Venci eras e buscas para encontrá-la. Como que uma rainha cortejada pelo súdito. Ficamos de nos ver novamente.

Espero tocar sua tez e dessa vez pedir que não vá. Será que se eu contar essa história ela acreditará? Ou pensará que é apenas uma cantada inteligente?

A história ainda precisa ser concluída para selar a paz do meu coração...

Scrittore
Enviado por Scrittore em 30/01/2019
Reeditado em 11/11/2019
Código do texto: T6563334
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