Primeiro amor (ou, Primeiro dente-de-leão)
- Assopra!, ela desafiou.
Empunhava o dente-de-leão bem na frente do rosto do menino.
- Como assim?, estranhou ele, que do alto dos seus 10, quase 11 anos, ainda não sabia da brincadeira.
- Vai, assopra!, ela repetiu, e agora com um riso que já vinha nascendo na boca.
Ele ia dizer, orgulhoso, que não ia assoprar nada porque não queria assoprar. Mas, como fingir?, gostava dela de um jeito tão estranho que se a menina o mandasse pular ele pularia. Duas vezes até.
- Fuuush!
E o pompom do dente-de-leão se desfez em vários filetezinhos emplumados, que pegaram carona no vento morno que varria aquela tarde de primavera. E a menina desatou a rir.
- Careca! Careca! Vai ser careca! - e ria e ria e ria.
O menino ensaiou uma brabeza toda dele mas, como poderia se zangar?, gostava da menina de um jeito tão estranho que se ela risse automaticamente já ria junto.
Foi então que começou a entender. Primeiro, a brincadeira. E depois, e junto daquele trambolho agitado e descompassado que batia no peito, e com todo o rubor a que descoberta lhe dava o direito, entendeu que o vento levaria aqueles filetezinhos longe, muito longe, cruzando ainda muitas primaveras, como que enfeitiçados pela promessa do verão.