Na sombra de um ipê. Parte I
Era como uma tarde qualquer de primavera, o calor já dava sinais de um verão severo. Peguei minha bolsa de chimarrão e fui apreciar o pôr do sol à beira do Guaíba, sentei embaixo de um ipê com a copa cheia de folhas amarelas. A paisagem era uma poesia, o momento era um privilégio.
A poucos metros dali havia uma linda moça sentada, cabelos ruivos, sardas, como uma autêntica princesa de histórias infantis, seu cachorro, um labrador de pelo cinzento corria em sua volta, pedindo atenção.
Ela parecia com o olhar fixado em mim. Sim, ela estava olhando em minha direção, não era impressão minha. Mas por quê? Por que uma garota tão bela, aparentemente com uns vinte anos, estaria olhando para um cara como eu, já perto dos quarenta?
Não me considero feio, sou um pouco vaidoso, e há muitos anos solteiro. Aquela moça estava fazendo minha virilidade vim a tona, como uma injeção de testosterona, dei uma arrumada no cabelo que o vento já havia bagunçado, notei ela fazendo o mesmo.
Ela sorriu, nossa meu corpo deu uma contorcida, o que ocorreria a partir dali eu não imaginava, trocaríamos whatsapp, teríamos um romance de semana, meses, ou apenas nos entregariamos um ao outro naquela noite.
Abanei e não fui correspondido, ela virou o rosto e chamou o cachorro, depois voltou a olhar para mim sorrindo, ela começou a calçar as sapatilhas, precisava tomar uma atitude. Me levantei, bati a bermuda para tirar a areia, peguei minha cuia, arrumei a postura e andei em sua direção.
Ela se levantou, pegou o cachorro pela coleira, tirou do bolso um óculos escuro e do outro uma bengala fina e dobrável. Definitivamente ela não estaria olhando para mim. Mas o que custava tentar uma aproximação:
- Olá!
Ela se assustou e consequentemente o cachorro começou a latir.
- Quem é?
- Meu nome é Pedro, só queria saber se precisaria de ajuda, como tem um lance de escadas mais a frente.
- E uma rampa logo ao lado, não? - Meu rosto deve ter ficado muito vermelho, mas não quis passar o constrangimento nas palavras.
- Desculpe-me o incomodo. Boa noite.
- Espere! Caso queira pode me ajudar a atravessar a avenida.
Sorrir timidamente como um adolescente a frente de uma moça pela primeira vez. Fui andando ao seu lado, o semáforo estava vermelho para os pedestres, não conseguia pensar como puxaria assunto, “você vem sempre aqui?”, bem capaz, isso é tão da minha época.
- De onde você é Pedro? - Nossa que bom que ela puxou assunto.
- Cidade Baixa e você?
- Aqui da Tristeza.
- O sinal abriu! - atravessamos a avenida em silêncio. - Você não me disse seu nome.
- Júlia! Como pode ter notado Max sempre me ajuda a atravessar a rua, mas quis aceitar a sua ajuda. Seu tom de voz pareceu simpático.
- E.. Eu? Eu? - gaguejei. - Mas só pareci?
- Bom não posso afirmar, mas talvez se eu o encontrar outras vezes, poderei tirar uma conclusão.
- Claro, estou sempre ali, então com certeza nos veremos mais vezes. - Falei empolgado. Provavelmente ela notou, porque deu uma risada tímida.
- Então boa noite Pedro - Despediu-se estendendo a mão.
- Boa noite - Peguei sua mão suavemente, não percebendo que por tempo demais.
Sou um homem experiente, não é a primeira vez que flerto com uma mulher, mas aquela moça, com poucas palavras, em poucos minutos que a vi, mexeu comigo. Estaria eu encantado por aquela moça tão cedo. Não sei, mas com certeza voltaria o quanto antes para vê-la de novo.