Encantamento

E mais uma vez ela chorou... choro dolorido, choro repetido. Já tinha chorado assim, duas vezes. Seria a terceira vez.

Isabella, não tinha sorte no amor. Viúva, por duas vezes, chorava a terceira e última morte de seus casamentos, pois desistira do amor naquele velório. Jurou a si mesma. Nunca mais...

Maldição? Talvez. Mas, a todos eles, ela se entregou, da forma mais profunda e intensa que pudera.

Numa manhã de primavera, enquanto apanhava as frutas que descuidadamente deixou cair sobre o chão da feira, um estranho, de porte elegante, alto, belíssimo e com um sorriso encantador nos lábios, a ajudou a recuperá-las.

— Obrigada.

Ela disse um pouco constrangida por seu descuido.

— Disponha.

Ela olhou para os seus olhos e lembrou-se do mar. Lembrou, o quanto foi feliz com seu último marido, vivendo numa bela casa no litoral de São Paulo.

Por alguns segundos, sentiu novamente, a dor e o desejo tomarem conta de sua alma. Já conhecia aquela sensação, por duas vezes, e não deixaria acontecer uma terceira; não aguentaria.

Rapidamente, colocou as frutas na sacola, agradeceu novamente ao estranho, e prosseguiu...

Admirado, por seu tímido olhar cabisbaixo, por sua face angelical, introduziu um novo rumo à conversa, e a seguiu.

— Será que posso ajudá-la nas compras? Só assim não deixaria escapar mais coisas pelo chão da feira!?

Ela sorriu... Já sabia de suas intenções. Sempre assim...

Não que ela quisesse. Para ela, não ser notada, seria muito mais satisfatório, mas impossível. Sua simplicidade e educação a tornavam encantadora. Uma verdadeira feiticeira.

— Pode deixar! Eu me viro! Já estou acostumada.

Sozinha, sem filhos e com a família distante, ela sabia se virar muito bem. Tinha a companhia de seus alunos em sala de aula, e isso, já bastava.

— Não! Faço questão de acompanhá-la.

Ela não relutou.

— Tudo bem.

Ela escolhia laranjas, cachos de uvas, peras, hortaliças, enquanto ele; se apaixonava.

Ele colocava tudo na sacola, e se prestava a ser somente seu escravo naquele momento, a seguia com seus olhos e guardava em sua memória cada detalhe de seus movimentos. Acompanhou-a, até sua casa. Ficava perto dali. Uns cinco minutos que se tornaram em segundos, não queria deixá-la. Tinha encontrado seu grande amor, num acaso, e isso, o deixava mais encantado ainda.

Ela sabia. Sentia o mesmo. Quando tinha a sensação de frio na barriga pela manhã; Já sabia. Era o amor chegando.

Ele pediu seu número de celular e ela, não relutou.

O primeiro encontro foi regado por vinho numa linda cantina. Italiano e chefe de cozinha, a levou para provar do sabor de suas mãos.

Ele disse em seu ouvido antes de beijá-la: Ti voglio molto bene.

Ela rendeu-se as palavras encantadoras daquele italiano e o beijou calorosamente. Tiveram ali, no chão de uma cantina italiana, uma das noites mais inesquecíveis de sua vida.

Casaram-se. Viveram felizes por longos anos, até que a vida foi ingrata com ele e beirando seus 60 anos, novo ainda, foi acometido por uma grave insuficiência renal que, o levou a óbito.

Ela chorou sobre seu corpo, deixando que suas lágrimas inundassem o rosto de seu amado; já sem vida. O beijou pela última vez e se despediu de seu grande amor e, pois, em seu coração, uma enorme pedra. Nunca mais se permitiria amar novamente. Quando a terra o engoliu, o levando para um novo mundo, ela teve esperanças de um dia reencontrá-lo. De todos, foi seu mais profundo amor...

NickaScar
Enviado por NickaScar em 08/12/2017
Código do texto: T6193414
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