Cristian_e_Beatriz_Cap_II_Uma_Canção

O dia amanheceu com um convite para vivê-lo, Cristian abria os olhos lentamente e se deparava com o céu de azul tão intenso, e se imaginava voando sobre a imensidão de um mar que não havia fim, assim como nos seus sonhos, onde sempre existia o rosto Beatriz. Cristian se perguntava por que aquele rosto fora tão marcante a ponto de invadir os seus pensamentos mais profundos, e assim, mantinha a sua mente fixa no rosto mais lindo que os seus olhos já teriam contemplado. Decidido a se levantar, vestiu-se com as primeiras peças de roupa que viu em sua frente, arrumou os seus cabelos com as próprias mãos, e saiu de sua casa sem dar muitas explicações.

Naquele momento, Beatriz tomava uma xícara de café sentada próximo ao jardim particular localizado nos fundos de sua casa. Rosas, tulipas, lírios e outros espécimes formavam um mosaico de belíssimas flores com uma variedade embriagante de aromas. Beatriz mantinha em sua face um parecer calmo e sereno, como o de uma pessoa que não conhecia o mal, o parecer de um ser imaculado, entretanto, escondia no fundo da alma todos os seus pensamentos. E mesmo por coincidência ou por um golpe do destino, os pensamentos de Beatriz também visavam Cristian, o que a deixou confusa e levemente tonta ao se levantar rapidamente com a intenção de sair de casa, rapidamente deixou o desjejum para trás e saiu as pressas em uma bicicleta sem qualquer destino traçado, como se a cada pedalada, o seu caminho fosse mais claro, porque mesmo sem qualquer trajeto planejado, dentro de seu coração ela sabia exatamente para onde deveria ir.

Caminhando para a mesma direção, Cristian e Beatriz não tinham nada ensaiado, não se vestiram para impressionar e se quer tinham certeza de que iriam se encontrar novamente. Beatriz chegou primeiro onde queria, ela decorou o caminho após o encontro com Cristian, e passava pela mesma rota todos os dias com a intensão de vê-lo aos dedilhados com o seu instrumento, mesmo não admitindo isso para si. Beatriz deitou sua bicicleta na grama seca, retirou suas sandálias e deu alguns passos descalços até se aproximar da antiga macieira, e estando ela parada ali, percebeu que fazendo o mesmo trajeto nunca tinha parado para analisar o local e descobrir o quanto era bonita aquela imagem. Ela ficou nervosa de repente, pois sentiu um pouco de medo de estar ali sem qualquer motivo aparente. Ela olhou para a pedra que encontrava – se junto à árvore, e percebeu próximo a raiz da macieira, algumas raspas de lápis e um papel castigado, o mesmo estava todo amassado, mas não fez a sua curiosidade desaparecer, no mesmo momento, Beatriz se sentou na pedra, encostou suas costas no tronco e começou a desamassar o papel, nele continha algo escrito e ela nem ao menos pensou se estava invadindo a privacidade de um estranho, apenas começou sua leitura em um leve sussurro:

“Por favor, me diga qual é o seu medo? Você pode chorar no meu ombro, todos nós amamos alguém em segredo, você deve viver o seu sonhos. Nossas vidas se resumem em desejos, de poder desfrutar desses planos, as estrelas podem ver o que queremos, é só você acreditar...”.

Ao ler esses versos, Beatriz se convenceu de que estava lendo a letra de uma música, e ao compreender o sentido daquelas palavras, se emocionou com a sensibilidade dos versos e se lembrou de que, mesmo reconhecendo a força que aquelas palavras tinham, para ela não faziam muito sentido, pois até aquele momento, Beatriz não conhecia qualquer forma de amor. Uma voz grave e estrondeante a fez gritar de susto, o que levou seu corpo para frente, fazendo-lhe sentar na grama virando seu corpo diretamente para onde o som lhe chamava, era Cristian, que caminhava em passos curtos na direção de Beatriz enquanto terminava os versos que faltavam naquele pedaço de papel:

_ O céu está tão lindo! Não importa aonde você possa estar... Eu vou te esperar!

_ Já não quero mais ter que sofrer todo amanhã! A vida é frágil pra se arrepender, viver sem questionar.

_ O céu está tão lindo! Não importa aonde você possa estar... Eu vou te amar! Toda a vida!

Enquanto Cristian soltava sua voz, Beatriz mantinha-se em choque, sem saber o que pensar, sem saber aonde ir, e enquanto isso, Cristian executava a última nota, segurava as mãos de beatriz e lhe dizia com toda a ternura que a sua voz poderia emitir:

_ Me desculpe por ter te assustado desta forma, você se machucou?

Beatriz encarava o olhar de Cristian como se aqueles olhos fossem dois buracos negros prontos para abduzi-la, sentiu sua garganta seca, suas mãos começando a transpirar e seu coração gravando um rosto.

_ Você não se feriu? Perguntou Cristian com um tom de preocupação.

_ Não, eu apenas me assustei, mas estou bem. Dizia Beatriz ainda desconcertada com a situação.

_ Seu nome é Cristiano não é?

_ Ha! Ha! Quase acertou moça, sua memória é muito boa. Meu nome é Cristian e suponho que o seu seja Beatriz correto? Perguntou Cristian com um tom animado em sua voz.

_ Sim! Acho que a sua memória é superior a minha. Disse um pouco envergonhada.

_ Venha! Deixe-me te ajudar a se levantar, na verdade, nunca esqueceria um rosto como seu.

Beatriz ficou tão corada quanto às maçãs que caíam de tão maduras, enquanto Cristian pedia desculpas pela cantada que tinha saído sem intenção, bem, pelo menos sem intenção naquele momento.

_ Me desculpe pelo mau jeito, mas o que fazia sozinha aqui?

_ Ah sim! Andava de bicicleta e achei nesta árvore uma boa sombra para descansar.

_ Eu reparei que você achou o esboço da minha canção, ela não é tão boa, mas a melodia possui uma forte conexão com esses versos.

_Eu gostei muito Cristian, é um jovem muito talentoso, além de ter uma voz muito bonita.

_ Tão bonita que te assustou não foi? Disse Cristian tentando parecer engraçado.

_ Ha! Ha! Engraçadinho! Estando sozinha aqui, a voz de qualquer pessoa me assustaria.

_ Não deixa ser verdade Beatriz, me desculpe novamente.

_ Tudo bem! Em relação a música, qual é o título da sua canção senhor cantor?

_ Ainda não a batizei, pois além da letra, o título precisa transparecer tudo o que eu senti no momento da composição, ou pelo menos, o que eu queria ter sentido.

Ela se manteve em silêncio até ganhar coragem para perguntar:

_ E o que você queria ter sentido?

_ Cristian disse sem hesitar e olhando diretamente no verde refletido nos olhos de Beatriz:

_ Eu gostaria de ter sentido tudo o que senti quando lhe vi pela primeira vez.

Fábio R Jorge
Enviado por Fábio R Jorge em 16/02/2016
Reeditado em 17/02/2016
Código do texto: T5545914
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2016. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.