SENDAS & GLÓRIAS

O vento morno, amolecia os sentidos de Nancy, o ar úmido e quente tornava cada passo dela, muito mais difícil, o pântano cheio de perigos, de água turva, escondia seus segredos e sons. O vestido lilás, longo e leve de Nancy colava, amoldando seu corpo maduro e esguio, de sorriso cálido que ilumina seu olhar de fé inabalável, isso não deixava que ela desistisse e também, por saber que seu amado filho Éder, tão sensível e especial, dependia de seus cuidados,  e também a sua enfermeira Dinah,  já deveria estar muito preocupada com tanta demora. O carro quebrara e se desgovernara, caindo no pântano, ela conseguira sair por muita sorte, a ideia de atravessar o pântano à pé fora péssima, ela percebia isso só agora, uma verdadeira sandice, mas, queria chegar logo em casa, que loucura, meu Deus! 

Nancy sentia, raízes se enroscando em suas pernas, rezava para que não fosse, alguma cobra, seus delicados pés estava feridos e ardiam sobremaneira, mas, precisa sair logo dali, se não se confundira com o alagado caminho, agora faltava bem pouco, talvez, mais uns vinte minutos, precisava resistir, seu celular e bolsa haviam afundado com o carro, não tinha como pedir ajuda a ninguém, só Deus por ela naquele momento. Depois de árdua e dolorosa caminhada, avistou a margem seca do pântano, deu glórias e pôs-se a forçar mais um pouco suas pernas, na estrada pediria auxílio ou num posto da policia rodoviária próximo dali.

Nancy, praticamente se arrastou pra fora daquele pântano, o corpo inteiro doía, principalmente seus pés, muito machucados, logo conseguiu uma carona até ao posto policial, de onde ligou pra casa e explicou a situação à enfermeira de Éder. O policial a levou para o hospital, onde cuidaram dela e lhe deram vacinas, com uma roupa doada pelo hospital e sandálias de borracha, o policial passou com ela em uma farmácia, para comprar pomada para seus pés, conforne indicado no hospital e depois ele a levou pra casa, onde foi recebida com alívio pela enfermeira Dinah e com um sorriso lindo, de seu filho Éder, tão inocente e especial. Dinah, a ajudou a preparar um banho demorado, a alimentou, untou suas feridas, depois a deixou bem acomodada na poltrona reclinável junto à Éder. Então, foi ela própria descansar um pouco, a tensão da espera por Nancy já se acalmara, precisava agora de um bom chá relaxante, para serenar de vez.

Nancy, ainda dolorida, olhava o rostinho de seu amado Éder, tão puro em sua ignorância de vida, tão dependente dela e com um amor imenso, expressado em seu olhar inocente e no seu sorriso  lindo. Nancy, fechou os olhos por alguns momentos, primeiro agradedeceu por seu filho e Dinah estarem bem, depois por sua própria vida, os bens materiais se foram e com o mesmo trabalho, com que conquistara seu carro, conseguiria outro em breve, o seguro estava em dia, isso só tinha importância mesmo, pois o carro, era muito necessário, para a locomoção de Éder, enfim, tinha recebido muitas bençãos e livramento de perigos, na insandecida travessia, pelo pântano. Percebendo que Éder, adormecera,  com um suspiro fundo, relaxou e dormiu nas graças de Deus.


Cristina Gaspar
Rio de Janeiro, 10 de fevereiro de 2016.
Cristina Gaspar
Enviado por Cristina Gaspar em 10/02/2016
Reeditado em 10/02/2016
Código do texto: T5539513
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