Marina

Quando o sangue dela cai no chão como caldo de feijão na casa que era minha, eu lembro dela dançando como uma bailarina de caixinha de musica, inofensiva em minhas mãos. Quando seus olhos tremem incoerentes quase alcançando o Tártaro, eu me lembro deles revirando-se de prazer da mesa da cozinha. Quando seu corpo quase sem sangue, pálido em meus braços, revira-se de dor em seus últimos suspiros, eu me lembro dele cálido, corado de raiva, criticando qualquer coisa que eu fazia.

Quando a tarde bate, a sensação de crepúsculo me atinge marinando minha melancolia e eu no chão vomitando minha bílis em mais um ataque nervoso, lembro de Marina. Quando estou no chão, sendo contido por quatro enfermeiros que, eu desconfio não foram contratados pelo cuidado com as pessoas, mas pela força, e quando eles me dão 30 miligramas de Haldol, eu me lembro de Marina. E, as vezes, de noite eu choro baixinho e quanto eu não aguento mais eu grito seu nome: Marina! Marina! Marina!

Ela chocolate para os sentidos, uma mentira que você quer acreditar, que você tem que acreditar, o canto de uma sereia guiando meu barco para as rochas. Quem pode ser mais doce? Ouso sua voz em meus ouvidos como uma machadada que ecoa para sempre nas florestas de minha mente, essa voz tão antiga, guardada com seus encartes. Mas ela não é real, ninguém consegue ser tão perfeito quanto nossa projeções. A mulher de carne e osso existia, a mulher que amei, talvez nunca tenha.

Ela com suas calças jeans levemente datadas; os dentes levemente amarelos dava a sua figura um ar de autenticidade, como se seu criador quisesse que sua criatura tivesse verossimilhança com os seres deste mundo; as orelhas essas ele tinha deixado muito perfeitas, um erro de disfarce evidentemente perdoável; o jeito de andar movimentando os quadris pendularmente do Alaska a Chukotka, uma cadeia montanhosa no meu hemisfério sul.

Eu subo no parapeito da janela do quarto andar do Hospital psiquiátrico Villa del mar em algum dia de março, colocando toda culpa nos meus bolsos. A maresia atinge meu rosto e me da a dose de adrenalina necessária para a empresa suicida. O mar olha para mim nos poucos segundo que fiquei no ar, e os Iates e o hiato está reparado, juntarei-me a Marina...Bem, talvez não.

Zygmunt Rodriguez
Enviado por Zygmunt Rodriguez em 30/12/2015
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