À espera no rádio
Maria todos os dias como rotina ouvia incessantemente a um programa de rádio, famoso em sua região por unir pessoas até então desconhecidas, era um programa que pretendia fazer com que solitários encontrassem uma alma gêmea e alguém para amar.
Ouvia em seu radinho de pilha, buscando, querendo, desejando encontrar muito especial. Vivia em um recanto afastado, onde somente se ouvia o mugir das vacas no pasto e o cacarejar das galinhas soltasno quintal, seus pais já não mais acreditavam que encontrasse um homem para viver e já lhe intitulavam de encalhada, o que muito a magoava e no rádio acreditava que um dia este homem apareceria, lhe levaria por este rincão sem fim e em um lugar bonito fariam parada, criariam seus rebentos e seriam muito felizes.
Neste passar de dias iguais, no cultivo, cuidado com os animais entremeados pelas ondas do rádio, em um momento decidiu também se aventurar, escreveria uma cartinha, na visita mensal da vila nomercadinho que também de correio servia uma correspondência à rádio enviaria. Crente que então encontraria seu homem, seu esposo e com ele feliz seria, estava cansada de ser piada, de ser a única descasada e vendo o tempo passar, sua beleza acabar e as chances enfim se entornar.
Os dias passavam mornos, os zumbidos do rádio a pilha era sua companhia, até que um dia pode ouvir sua história ser contada e seus dados passados para que alguém pudesse em contato contigo pudesse entrar, pulos de alegria lhe fizeram constante, a espera de que uma cartinha receber.
Quando o pai da vila chegava, na correspondência procurava e o tempo de nada adiantava, pois nada recebia e as oportunidades esmoreciam... depois de um tempo passar novamente sua história foi contada, ela ouviu encantada, não sabia se a repetição era devido a falta de procura no rádio ou por sua ser uma história sofrida.
Desta vez a expectativa que já não era mais tanta trouxe sem demora uma carta floreada, com perfume borrada e uma letra de difícil compreensão demonstrando interesse e dedicação.
Maria enfim conheceu Tião, sem demora já marcou encontro, ele viria na roça conhecê-la, juntamente conhecer aos pais. O fatídico dia chegou, em terno branco, chapéu, todo empoado ele montado em um burro manco apareceu, ela de imediato se encantou, entre seus pais envergonhada na sala sentou, enquanto a conversa girava.
Mesmo sem mal conhecer, o pai já resolveu a mão de sua filha a Tião confiar, medo talvez de em uma perda e em sua morte a filha não ter consorte e sozinha nesta vida perecer.
As bodas foram ali mesmo, poucos meses depois, algumas galinhas mataram, um ensopado fizeram, vizinhos vieram, presentes receberam.
Maria toda bonita em um vestido branco e com flores de laranjeira nos cabelos se casou.
Hoje Maria vive naquela mesma vidinha, agora casadinha, com os pais mora, Tião se mostrou um bom homem da roça entendido, ao pai de Maria mostrou ser valente, a filha agora é feliz, o radinho hoje só toca músicas e nada mais de aguardar a um coração servir.
Pouco tempo atrás soube que Maria estava para parir, o que seria seu primeiro filho e fruto da união que o rádio fez surgir.
Publicado originalmente: http://www.camarabrasileira.com/exco15-003.html