O LEÃO, A RAPOSA, O FARMACÊUTICO, A DEUSA E O DESTINO
Às vésperas de completar seus, bem vividos setenta anos, o advogado Aurélio Convento de Moura, um grisalho jovem senhor, astuto, saudável, gentleman por natureza, alto e que ainda enverga um belo semblante, fruto de uma alimentação desregrada e abusiva, muitos amores dentro e fora de relacionamentos, mas, que apesar disso, graças ao Todo Poderoso, o mantêm com uma aparência ainda, garbosa, belo espécime de homem. Até poucos meses atrás, ainda exercia sua profissão de advogado na área de direito de família, logo ele, que não conseguiu manter por mais de três anos um relacionmento, se tornou um especislista em divórcio e conciliações familiares, pura ironia do destino.
Esse mesmo destino, quis com que ele fosse procurado por uma jovem senhora de nome Celestina Mendes de Aires, que estava com dificuldades no seu divórcio e ele lhe fora recomendado por duas outras amigas, para as quais ele já havia prestado seus serviços. Ao se deparar com aquele mulherão na tenra maturidade, aparentando uns cinquenta anos, ruiva de olhos cor de prata, que espetáculo de mulher! Aurélio em sua majestosa sexualidade amparada por umas bolinhas azuis muito generosas, se atiçou todo, cobriu-a de salamaleques e gentilezas, como se ainda fosse, um rapazola no auge dos seus dezessete anos, serviu-lhe chá de flores, fez com que ela se sentasse numa poltrona, deveras confortável, em seu belíssimo escritório todo de mogno e couro grená, era um advogado de muitas posses e afamado em seu meio.
Celestina pôs-se a discorrer sobre o assunto que trouxera até ali, explicando que o marido a traíra muitas vezes durante o relacionamento de quase vinte anos, não tinham filhos e ele agora, resolvera ficar definitivamente com a sua última amante, não lhe deixando nada além da casa onde eles moravam, alegando que era mais do que ela iria precisar. A raposa velha que era o advogado dele, estava se valendo de tantos artifícios e leis, para bloquear o direito dela à metade do patrimônio total do ex-marido, afinal, eles eram casados com comunhão de bens e não existiam filhos de outros relacionamentos deles. Se conheceram na infância, casaram muito cedo e tudo que construíram foi em conjunto, um império no ramo da indústria farmacêutica, onde trabalharam lado a lado até o momento, quando ele não lhe permitiu mais a entrada na empresa, ela precisava muito da ajuda de Aurélio, não era por mesquinhez que ela se encontrava ali e sim por um direito legítimo que o ex-marido estava renegando.
Aurélio pensou bem, o advogado raposa não poderia imaginar que iria enfrentar um leão. que rugia forte e visceralmente. Pediu a ela toda a documentação que ela tivesse sobre os bens da família, contas bancárias, certidão de casamento e toda a papelada que ela pudesse ter, referências de outras amantes de que ela tivesse conhecimento, contatos telefônicos, endereço, tudo o mais, para que montasse sua defesa e pudesse marcar uma data para a conciliação e finalização, do divórcio. Aurélio, não via nenhuma dificuldade na solução daquele processo, caso não houvesse algum empecilho, que não lhe tivesse sido ainda exposto, o caso era simples e embora ele já estivesse, praticamente aposentado, não iria negar seu auxílio aquela bela senhora.
Marcaram de se encontrar outra vez, assim que ele avaliasse o caso e montasse a estratégia que iria seguir, informando que seria em breve. Combinaram os honorários, ela lhe deu um adiantamento e com toda a cordialidade, se despediram e ele a acompanhou até a porta de saída, sem pedir para a secretária que fizesse isso, não quis perder, nem por um segundo, a oportunidade de vê-la pelas costas, muito assanhado era aquele advogado, mal sabia ele, o que o destino estava arquitetando. Voltou para sua mesa meio que saltitando, só Deus sabe o que se passava por sua cabeça naquele momento, enfim, pôs-se a trabalhar no caso.
O canalha do marido de Celestina, até que o nome combinava com ela, era uma deusa nesse céu na terra, ele rira de seu pensamento vivaz, o farmacêutico, nunca escondera suas amásias, nem tão pouco, todo o dinheiro que gastara com elas, facilmente seu assistente levantara quanto do patrimônio dos dois ele havia dilapidado, nesses prazeres caros. Uma outra advogada que lhe auxiliava, também conseguiu com sucesso localizar com endereço e telefones, quatro das criaturas fartamente “amparadas” pelo “safado doutor farmácia”, esse divórcio iria lhe render muito dinheiro e sua nova cliente ficaria muito satisfeita, até a convidaria para jantar depois de finalizado o divórcio, riu desse novo pensamento, não conseguia tirar a bela mulher da cabeça, ela era realmente, um extraordinário espécime feminino, ele ficou pensando, como o canalha pôde traí-la, talvez, ele buscasse a sim mesmo nos relacionamentos, assim como ele, e esse novo pensamento o fez refletir, sobre sua própria vida, nunca se casara, mas, por três vezes tivera relacionamentos mais sérios e muitas amantes no entremeio, não produzira filhos, era muito cuidadoso e na verdade, não tinha lá muita paciência com crianças.
A única diferença é que nunca sustentara, nenhuma de suas muitas mulheres, apenas presentinhos generosos, talvez pelos serviços prestados por elas, rapidamente aboliu esse pensamento machista de seu pensamento, todas eram suas amigas e ainda o procuravam, para conversar sobre seus relacionamentos, tomar um bom vinho ou champanhe e lembrar dos bons tempos vividos. Nunca lhes fizera promessas vãs, sempre fora muito sincero e franco. Sempre soube escolher suas parceiras, nada de vínculos familiares ou dependência financeira, teve sorte na vida, não podia reclamar. Com o dinheiro que amealhou na vida, assim que terminasse esse caso, iria embarcar em cruzeiros pelo mundo, sem data marcada de retorno, pelo menos esses eram os seus planos.
Em pouco mais de uma semana, já tinha todas as armas, um verdadeiro arsenal, para meltralhar a raposa e o canalha farmacêutico, nada iria lhe agradar mais do que, ver transparecer a alegria no rosto de sua bela nova cliente, já sabia até onde a levaria para jantar, esse pensamento engraçado não lhe saia da cabeça, nem a visão da deusa ruiva de olhos cor de prata. Pediu para a sua secretária marcar uma reunião, para a segunda-feira seguinte, às dezesseis horas, com o advogado raposa, o farmacêutico canalha e com a própria Celestina, se dependesse dele, o marido dela ficaria apenas, com as roupas do corpo, mas, isso era pura utopia, ele também tinha lá seus direitos, infelizmente.
Chegado o bendito dia, a secretária de Aurélio recebeu o farmacêutico mulherengo, o advogado raposa e um assistente sisudo, os acomodou na sala de reunião, na mesa grande e ovalada feita de puro mogno brilhante, depositou, água, chá, café, guardanapos e uma travessa de cristal com petit fours de nozes e castanhas, lhes entregou pastas com a proposta, para que eles avaliassem, indicou que eles se servissem à vontade e saiu da sala, indo se encontrar com Celestina para levá-la até a sala de Aurélio. Celestina, nesse dia em especial, estava deslumbrante em um vestido flutuante azul pálido, muito bem cortado e com uma maquiagem que acentuava seus belos olhos cor de prata, até secretária de Aurélio a admirou furtivamente, Celestina era mesmo uma bela mulher.
Quando Celestina adentrou a sala de Aurélio, ele sentiu suas pernas fraquejarem, estava começando a crer que sentia por aquela mulher, mais do simples desejo, em suas várias conversas por telefone, para verificar alguns detalhes, percebeu o quão doce e inteligente ela era, também do ramo de farmácia como o ex-marido, cuidava mais de projetos e acompanhava as novas fórmulas, ele ficava mais voltado para a parte comercial da empresa, onde ela também o auxiliava nos trâmites burocráticos. A visão azulada esvoaçante e luminosa de Celestina, estava embaçando os olhos de Aurélio, ficava difícil se concentrar diante daquela visão magnífica, mas, precisava ser profissional, não queria decepcioná-la, ao contrário, queria o jantar que não lhe saia da cabeça, mais do que qualquer coisa no momento. Ele então a orientou para que ela ficasse séria, não falasse nada, deixasse que ele e seus assistentes discutissem o assunto.
Após uma hora e meia, solicitou à sua secretária Eleanor, que pedisse aos seus assistentes Vitor Santos e Amanda Lira, que se dirigissem à sua sala e fosse também, averiguar com a raposa, o assistente sisudo e o canalha do farmacêutico, se eles já haviam tomado suas decisões e se já poderiam discutir e resolver a conciliação. Foi até uma saleta anexa à sua própria sala, conversou com vozes femininas que á estavam e retornou para junto de Celestina, a deusa azul de olhos cor de prata iluminados. Como era linda aquela mulher, suspirou internamente, enfim, respirou fundo e retornou à sua mesa.
Poucos instantes depois, Eleanor retornou e disse que poderiam seguir, para a sala de reunião e assim fizeram, ao se deparar com tal advogado raposa, quase que Aurélio gargalhou, o advogado raposa, nada mais era do que um colega de profissão, que devia uma enorme soma em dinheiro e muitos favores jurídicos a ele, Aurélio pensou com seus botões, o que será que o traste preparou para apresentar, já se via num belo jantar com a azulada deusa Celestina, Deus lhe favorecia demais, como tinha a agradecer, a causa já era ganha mesmo, agora então, com aquela raposa na armadilha, então, tiro certeiro, só iria faltar mesmo, as assinaturas nas papeladas e oficializar tudo no cartório, quase saltitou de felicidade.
A raposa, já tinha o focinho com jeito acuado, mesmo antes de Aurélio começar a falar, depois da apresentação da proposta e também de contra propostas, depois de uma batida suave na porta, Amanda Lira, assistente de Aurélio perrmitiu a entrada de três jovens lindas na flor da idade, muito bem vestidas, elas eram parte do espólio de guerra do farmacêutico canalha, eram três das suas amantes, que aproveitando o ensejo, gostariam que o canalha alto, franzino sem muitos dotes de beleza, apenas com porte de homem poderoso, as indenizasse, pois na época em que foram suas amantes, todas ainda eram menores de idade, esse era o trunfo que Vitor Santos, assistente de Aurélio, guardara para o golpe final sobre a cabeça do farmacêutico mulherengo, agora a proposta de Aurélio iria ser aceita em sua totalidade, cabendo ao espólio que ainda caberia ao ex-marido de sua cliente, o pagamento das indenizações às jovens, cujos valores já estavam estipulados em um outro documento que, Amanda Lira, a outra assistente de Aurélio entregou à raposa acuada, que nesse momento estava emudecida e gelada. O ex-marido de Celestina estava pálido e esverdeando, o sisudo assistente da raposa, prontamente colocou um copo d`água à sua frente, pois pensava que ele estava prestes a desmaiar.
A raposa pediu a Aurélio, para conversar a sós com seu cliente e com seu assistente, no que foi prontamente atendido, Eleanor levou as amantes agora sorridentes do canalha, para a saleta anexa à sala de Aurélio. Celestina e Aurélio retornaram à sala do advogado para aguardar o embate, do ex-marido com a raposa assustada e seu assistente sisudo.
Nada de novo era esperado por Aurélio, a raposa não tinha saída, era só convencer seu cliente a assinar a papelada, que ficara sobre a mesa de reunião e finalizar o assunto, afinal, ele ainda ficara com um belíssimo patrimônio e a empresa seria só dele agora, pois Celestina queria distância daquela criatura e não precisava mais trabalhar, gostaria de poder curtir a vida um pouco, coisa que não fizera por vinte anos, iria virar essa página de sua vida, definitivamente. A certeza do total sucesso é que ela, Aurélio e seus assistentes, já brindavam com champanhe, Eleanor, também serviu champanhe na saleta, para as sorridentes antigas amantes do farmacêutico, agora sessenta por cento menos rico, o que as agradou por demais, afinal, sairam lucrando com essa história.
Eleanor foi chamada à sala de reunião pela raposa e pediu para que Vitor e Amanda a acompanhassem. A raposa apenas apresentou todos os documentos assinados, que foram conferidos pelos assistentes de Aurélio e se despediram por lá mesmo, Eleanor lhes acompanhou até a porta e furtivamente entregou ao advogado raposa, um cartão de Aurélio, que dizia no verso – Caro amigo, sua dívida comigo está quitada, seja feliz, Aurélio, situação que fez com que, a raposa abrisse um sorriso, que ficou sem explicação para o ex-marido de Celestina.
Eleanor levou as jovens antigas amantes, agora indenizadas até a sala de sua advogada Amanda Lira, para que fossem acertados os detalhes dos depósitos e recolhidos os honorários. As mesmas foram logo dispensadas e Amanda retornou até a sala de Aurélio, para as comemorações em equipe com Celestina, mais um caso muito bem resolvido, aproveitaram o ensejo para se despedirem de Aurélio que iria fazer a sua programação de viagem de muitos destino. O escritório iria pertencer a eles, sem ônus, como um presente de Aurélio, pelos serviços prestados pelos dois, por muitos anos de amizade e trabalho dedicado. Estavam felizes por ele, apenas sentiriam saudades do convívio quase que diário, ele era uma excelente pessoa.
Depois dos brindes, deixaram Aurélio a sós com Celestina, que agradeceu por todo o empenho dele e de sua equipe, na solução do seu divórcio e quando ia se despedindo, Aurélio deu o bote, perguntou se ela aceitaria jantar com ele para comemorar, afinal ela a última cliente de sua carreira, isso, se ela não achasse um abuso de sua parte, ela olhou para ele com olhos brilhantes e um sorriso lindo nos lábios e falou que se sentia honrada com o convite, pois gostava muito de sua companhia e também, depois do que ele fizera por ela, não poderia lhe fazer essa desfeita, ele poderia passar para apanhá-la às vinte e uma horas em casa, e assim ficou combinado, ele disse o restaurante que escolhera, só para que ela soubesse o que vestir, não ele tenha falado isso em voz alta, apenas achou que era cortesia certa a fazer.
Aurélio retornou à sua sala com um sorriso largo nos lábios e o coração pulsando forte, sua secretária Eleanor, disse sem rodeiros, acho que você está com estrelinhas no estômago, parece um menino de quinze anos de tão feliz, parece que o cupido dessa vez pegou você. Eleanor era sua secretária há muitos anos, tinha toda a intimidade com seu patrão, deixou-o sozinho e retornou aos seus afazeres rindo solto.
Aurélio foi para casa se arrumar para o jantar tão esperado, quando chegou a hora de ir buscar Celestina em sua casa, tremia como um adolescente no primeiro encontro. É, o destino prega peças nas pessoas, não importa a época da vida em que elas estejam, poderia ser coisa só da sua cabeça, mas, lhe parecia que a bela deusa também nutria, algum sentimento por ele, não era só um agrado para um profissional, vamos ver no que dá, ele pensou, mantinha as esperanças, quem sabe se tornaria um homem maduro e sério a essa altura da vida, não era sem tempo, ele pensou sorrindo.
Ao chegar à casa de Celestina, quase pediu para que ela dirigisse, pois suas pernas bambearam, ela estava fenomenal, em um vestido Chanel colante na parte de cima e flutuante a partir da cintura, de cor azul turquesa, com os olhos cor de prata acentuados com uma sombra azulada e brilhante, era a perfeita definição de um céu estrelado visto de alto mar, salvo o ruivo dos cabelos, estava linda demais, ofereceu-lhe o braço e a acomodou no carro então, seguiram fino restaurante. Lá chegando entre aperitivos e conversas amenas, um trio de cordas tocava uma música suave e antes do jantar, ele a convidou para dançar na pequena pista de dança no centro do restaurante, ela aceitou e se acomodou em seus braços, como sempre tivesse feito aquilo, seus corações estavam batendo na mesma sintonia, eles eram praticamente da mesma altura. Um leve rubor subiu às faces de Celestina, mas, ela não deixou que ele percebesse esse detalhe, no seu íntimo tinha certeza que, essa noite prometia fogos de artifício dentro de seu corpo carente de afeto, estava se sentindo uma adolescente em seu primeiro encontro e Aurélio se sentia da mesma forma.
Salvo os detalhes mais ardentes e o tempo passado, num elegante navio, um casal de adolescentes maduros, partiu em viagem, sem data marcada para um futuro promissor, embalados por um sentimento de total felicidade, renovados em vigor e absoluta paz de espírito. É, o destino entrelaçou os fios das vidas de dois seres que nunca antes haviam se aproximado e os preencheu de novas esperanças.
Cristina Gaspar
Rio de Janeiro, 16 de Julho de 2015.
Às vésperas de completar seus, bem vividos setenta anos, o advogado Aurélio Convento de Moura, um grisalho jovem senhor, astuto, saudável, gentleman por natureza, alto e que ainda enverga um belo semblante, fruto de uma alimentação desregrada e abusiva, muitos amores dentro e fora de relacionamentos, mas, que apesar disso, graças ao Todo Poderoso, o mantêm com uma aparência ainda, garbosa, belo espécime de homem. Até poucos meses atrás, ainda exercia sua profissão de advogado na área de direito de família, logo ele, que não conseguiu manter por mais de três anos um relacionmento, se tornou um especislista em divórcio e conciliações familiares, pura ironia do destino.
Esse mesmo destino, quis com que ele fosse procurado por uma jovem senhora de nome Celestina Mendes de Aires, que estava com dificuldades no seu divórcio e ele lhe fora recomendado por duas outras amigas, para as quais ele já havia prestado seus serviços. Ao se deparar com aquele mulherão na tenra maturidade, aparentando uns cinquenta anos, ruiva de olhos cor de prata, que espetáculo de mulher! Aurélio em sua majestosa sexualidade amparada por umas bolinhas azuis muito generosas, se atiçou todo, cobriu-a de salamaleques e gentilezas, como se ainda fosse, um rapazola no auge dos seus dezessete anos, serviu-lhe chá de flores, fez com que ela se sentasse numa poltrona, deveras confortável, em seu belíssimo escritório todo de mogno e couro grená, era um advogado de muitas posses e afamado em seu meio.
Celestina pôs-se a discorrer sobre o assunto que trouxera até ali, explicando que o marido a traíra muitas vezes durante o relacionamento de quase vinte anos, não tinham filhos e ele agora, resolvera ficar definitivamente com a sua última amante, não lhe deixando nada além da casa onde eles moravam, alegando que era mais do que ela iria precisar. A raposa velha que era o advogado dele, estava se valendo de tantos artifícios e leis, para bloquear o direito dela à metade do patrimônio total do ex-marido, afinal, eles eram casados com comunhão de bens e não existiam filhos de outros relacionamentos deles. Se conheceram na infância, casaram muito cedo e tudo que construíram foi em conjunto, um império no ramo da indústria farmacêutica, onde trabalharam lado a lado até o momento, quando ele não lhe permitiu mais a entrada na empresa, ela precisava muito da ajuda de Aurélio, não era por mesquinhez que ela se encontrava ali e sim por um direito legítimo que o ex-marido estava renegando.
Aurélio pensou bem, o advogado raposa não poderia imaginar que iria enfrentar um leão. que rugia forte e visceralmente. Pediu a ela toda a documentação que ela tivesse sobre os bens da família, contas bancárias, certidão de casamento e toda a papelada que ela pudesse ter, referências de outras amantes de que ela tivesse conhecimento, contatos telefônicos, endereço, tudo o mais, para que montasse sua defesa e pudesse marcar uma data para a conciliação e finalização, do divórcio. Aurélio, não via nenhuma dificuldade na solução daquele processo, caso não houvesse algum empecilho, que não lhe tivesse sido ainda exposto, o caso era simples e embora ele já estivesse, praticamente aposentado, não iria negar seu auxílio aquela bela senhora.
Marcaram de se encontrar outra vez, assim que ele avaliasse o caso e montasse a estratégia que iria seguir, informando que seria em breve. Combinaram os honorários, ela lhe deu um adiantamento e com toda a cordialidade, se despediram e ele a acompanhou até a porta de saída, sem pedir para a secretária que fizesse isso, não quis perder, nem por um segundo, a oportunidade de vê-la pelas costas, muito assanhado era aquele advogado, mal sabia ele, o que o destino estava arquitetando. Voltou para sua mesa meio que saltitando, só Deus sabe o que se passava por sua cabeça naquele momento, enfim, pôs-se a trabalhar no caso.
O canalha do marido de Celestina, até que o nome combinava com ela, era uma deusa nesse céu na terra, ele rira de seu pensamento vivaz, o farmacêutico, nunca escondera suas amásias, nem tão pouco, todo o dinheiro que gastara com elas, facilmente seu assistente levantara quanto do patrimônio dos dois ele havia dilapidado, nesses prazeres caros. Uma outra advogada que lhe auxiliava, também conseguiu com sucesso localizar com endereço e telefones, quatro das criaturas fartamente “amparadas” pelo “safado doutor farmácia”, esse divórcio iria lhe render muito dinheiro e sua nova cliente ficaria muito satisfeita, até a convidaria para jantar depois de finalizado o divórcio, riu desse novo pensamento, não conseguia tirar a bela mulher da cabeça, ela era realmente, um extraordinário espécime feminino, ele ficou pensando, como o canalha pôde traí-la, talvez, ele buscasse a sim mesmo nos relacionamentos, assim como ele, e esse novo pensamento o fez refletir, sobre sua própria vida, nunca se casara, mas, por três vezes tivera relacionamentos mais sérios e muitas amantes no entremeio, não produzira filhos, era muito cuidadoso e na verdade, não tinha lá muita paciência com crianças.
A única diferença é que nunca sustentara, nenhuma de suas muitas mulheres, apenas presentinhos generosos, talvez pelos serviços prestados por elas, rapidamente aboliu esse pensamento machista de seu pensamento, todas eram suas amigas e ainda o procuravam, para conversar sobre seus relacionamentos, tomar um bom vinho ou champanhe e lembrar dos bons tempos vividos. Nunca lhes fizera promessas vãs, sempre fora muito sincero e franco. Sempre soube escolher suas parceiras, nada de vínculos familiares ou dependência financeira, teve sorte na vida, não podia reclamar. Com o dinheiro que amealhou na vida, assim que terminasse esse caso, iria embarcar em cruzeiros pelo mundo, sem data marcada de retorno, pelo menos esses eram os seus planos.
Em pouco mais de uma semana, já tinha todas as armas, um verdadeiro arsenal, para meltralhar a raposa e o canalha farmacêutico, nada iria lhe agradar mais do que, ver transparecer a alegria no rosto de sua bela nova cliente, já sabia até onde a levaria para jantar, esse pensamento engraçado não lhe saia da cabeça, nem a visão da deusa ruiva de olhos cor de prata. Pediu para a sua secretária marcar uma reunião, para a segunda-feira seguinte, às dezesseis horas, com o advogado raposa, o farmacêutico canalha e com a própria Celestina, se dependesse dele, o marido dela ficaria apenas, com as roupas do corpo, mas, isso era pura utopia, ele também tinha lá seus direitos, infelizmente.
Chegado o bendito dia, a secretária de Aurélio recebeu o farmacêutico mulherengo, o advogado raposa e um assistente sisudo, os acomodou na sala de reunião, na mesa grande e ovalada feita de puro mogno brilhante, depositou, água, chá, café, guardanapos e uma travessa de cristal com petit fours de nozes e castanhas, lhes entregou pastas com a proposta, para que eles avaliassem, indicou que eles se servissem à vontade e saiu da sala, indo se encontrar com Celestina para levá-la até a sala de Aurélio. Celestina, nesse dia em especial, estava deslumbrante em um vestido flutuante azul pálido, muito bem cortado e com uma maquiagem que acentuava seus belos olhos cor de prata, até secretária de Aurélio a admirou furtivamente, Celestina era mesmo uma bela mulher.
Quando Celestina adentrou a sala de Aurélio, ele sentiu suas pernas fraquejarem, estava começando a crer que sentia por aquela mulher, mais do simples desejo, em suas várias conversas por telefone, para verificar alguns detalhes, percebeu o quão doce e inteligente ela era, também do ramo de farmácia como o ex-marido, cuidava mais de projetos e acompanhava as novas fórmulas, ele ficava mais voltado para a parte comercial da empresa, onde ela também o auxiliava nos trâmites burocráticos. A visão azulada esvoaçante e luminosa de Celestina, estava embaçando os olhos de Aurélio, ficava difícil se concentrar diante daquela visão magnífica, mas, precisava ser profissional, não queria decepcioná-la, ao contrário, queria o jantar que não lhe saia da cabeça, mais do que qualquer coisa no momento. Ele então a orientou para que ela ficasse séria, não falasse nada, deixasse que ele e seus assistentes discutissem o assunto.
Após uma hora e meia, solicitou à sua secretária Eleanor, que pedisse aos seus assistentes Vitor Santos e Amanda Lira, que se dirigissem à sua sala e fosse também, averiguar com a raposa, o assistente sisudo e o canalha do farmacêutico, se eles já haviam tomado suas decisões e se já poderiam discutir e resolver a conciliação. Foi até uma saleta anexa à sua própria sala, conversou com vozes femininas que á estavam e retornou para junto de Celestina, a deusa azul de olhos cor de prata iluminados. Como era linda aquela mulher, suspirou internamente, enfim, respirou fundo e retornou à sua mesa.
Poucos instantes depois, Eleanor retornou e disse que poderiam seguir, para a sala de reunião e assim fizeram, ao se deparar com tal advogado raposa, quase que Aurélio gargalhou, o advogado raposa, nada mais era do que um colega de profissão, que devia uma enorme soma em dinheiro e muitos favores jurídicos a ele, Aurélio pensou com seus botões, o que será que o traste preparou para apresentar, já se via num belo jantar com a azulada deusa Celestina, Deus lhe favorecia demais, como tinha a agradecer, a causa já era ganha mesmo, agora então, com aquela raposa na armadilha, então, tiro certeiro, só iria faltar mesmo, as assinaturas nas papeladas e oficializar tudo no cartório, quase saltitou de felicidade.
A raposa, já tinha o focinho com jeito acuado, mesmo antes de Aurélio começar a falar, depois da apresentação da proposta e também de contra propostas, depois de uma batida suave na porta, Amanda Lira, assistente de Aurélio perrmitiu a entrada de três jovens lindas na flor da idade, muito bem vestidas, elas eram parte do espólio de guerra do farmacêutico canalha, eram três das suas amantes, que aproveitando o ensejo, gostariam que o canalha alto, franzino sem muitos dotes de beleza, apenas com porte de homem poderoso, as indenizasse, pois na época em que foram suas amantes, todas ainda eram menores de idade, esse era o trunfo que Vitor Santos, assistente de Aurélio, guardara para o golpe final sobre a cabeça do farmacêutico mulherengo, agora a proposta de Aurélio iria ser aceita em sua totalidade, cabendo ao espólio que ainda caberia ao ex-marido de sua cliente, o pagamento das indenizações às jovens, cujos valores já estavam estipulados em um outro documento que, Amanda Lira, a outra assistente de Aurélio entregou à raposa acuada, que nesse momento estava emudecida e gelada. O ex-marido de Celestina estava pálido e esverdeando, o sisudo assistente da raposa, prontamente colocou um copo d`água à sua frente, pois pensava que ele estava prestes a desmaiar.
A raposa pediu a Aurélio, para conversar a sós com seu cliente e com seu assistente, no que foi prontamente atendido, Eleanor levou as amantes agora sorridentes do canalha, para a saleta anexa à sala de Aurélio. Celestina e Aurélio retornaram à sala do advogado para aguardar o embate, do ex-marido com a raposa assustada e seu assistente sisudo.
Nada de novo era esperado por Aurélio, a raposa não tinha saída, era só convencer seu cliente a assinar a papelada, que ficara sobre a mesa de reunião e finalizar o assunto, afinal, ele ainda ficara com um belíssimo patrimônio e a empresa seria só dele agora, pois Celestina queria distância daquela criatura e não precisava mais trabalhar, gostaria de poder curtir a vida um pouco, coisa que não fizera por vinte anos, iria virar essa página de sua vida, definitivamente. A certeza do total sucesso é que ela, Aurélio e seus assistentes, já brindavam com champanhe, Eleanor, também serviu champanhe na saleta, para as sorridentes antigas amantes do farmacêutico, agora sessenta por cento menos rico, o que as agradou por demais, afinal, sairam lucrando com essa história.
Eleanor foi chamada à sala de reunião pela raposa e pediu para que Vitor e Amanda a acompanhassem. A raposa apenas apresentou todos os documentos assinados, que foram conferidos pelos assistentes de Aurélio e se despediram por lá mesmo, Eleanor lhes acompanhou até a porta e furtivamente entregou ao advogado raposa, um cartão de Aurélio, que dizia no verso – Caro amigo, sua dívida comigo está quitada, seja feliz, Aurélio, situação que fez com que, a raposa abrisse um sorriso, que ficou sem explicação para o ex-marido de Celestina.
Eleanor levou as jovens antigas amantes, agora indenizadas até a sala de sua advogada Amanda Lira, para que fossem acertados os detalhes dos depósitos e recolhidos os honorários. As mesmas foram logo dispensadas e Amanda retornou até a sala de Aurélio, para as comemorações em equipe com Celestina, mais um caso muito bem resolvido, aproveitaram o ensejo para se despedirem de Aurélio que iria fazer a sua programação de viagem de muitos destino. O escritório iria pertencer a eles, sem ônus, como um presente de Aurélio, pelos serviços prestados pelos dois, por muitos anos de amizade e trabalho dedicado. Estavam felizes por ele, apenas sentiriam saudades do convívio quase que diário, ele era uma excelente pessoa.
Depois dos brindes, deixaram Aurélio a sós com Celestina, que agradeceu por todo o empenho dele e de sua equipe, na solução do seu divórcio e quando ia se despedindo, Aurélio deu o bote, perguntou se ela aceitaria jantar com ele para comemorar, afinal ela a última cliente de sua carreira, isso, se ela não achasse um abuso de sua parte, ela olhou para ele com olhos brilhantes e um sorriso lindo nos lábios e falou que se sentia honrada com o convite, pois gostava muito de sua companhia e também, depois do que ele fizera por ela, não poderia lhe fazer essa desfeita, ele poderia passar para apanhá-la às vinte e uma horas em casa, e assim ficou combinado, ele disse o restaurante que escolhera, só para que ela soubesse o que vestir, não ele tenha falado isso em voz alta, apenas achou que era cortesia certa a fazer.
Aurélio retornou à sua sala com um sorriso largo nos lábios e o coração pulsando forte, sua secretária Eleanor, disse sem rodeiros, acho que você está com estrelinhas no estômago, parece um menino de quinze anos de tão feliz, parece que o cupido dessa vez pegou você. Eleanor era sua secretária há muitos anos, tinha toda a intimidade com seu patrão, deixou-o sozinho e retornou aos seus afazeres rindo solto.
Aurélio foi para casa se arrumar para o jantar tão esperado, quando chegou a hora de ir buscar Celestina em sua casa, tremia como um adolescente no primeiro encontro. É, o destino prega peças nas pessoas, não importa a época da vida em que elas estejam, poderia ser coisa só da sua cabeça, mas, lhe parecia que a bela deusa também nutria, algum sentimento por ele, não era só um agrado para um profissional, vamos ver no que dá, ele pensou, mantinha as esperanças, quem sabe se tornaria um homem maduro e sério a essa altura da vida, não era sem tempo, ele pensou sorrindo.
Ao chegar à casa de Celestina, quase pediu para que ela dirigisse, pois suas pernas bambearam, ela estava fenomenal, em um vestido Chanel colante na parte de cima e flutuante a partir da cintura, de cor azul turquesa, com os olhos cor de prata acentuados com uma sombra azulada e brilhante, era a perfeita definição de um céu estrelado visto de alto mar, salvo o ruivo dos cabelos, estava linda demais, ofereceu-lhe o braço e a acomodou no carro então, seguiram fino restaurante. Lá chegando entre aperitivos e conversas amenas, um trio de cordas tocava uma música suave e antes do jantar, ele a convidou para dançar na pequena pista de dança no centro do restaurante, ela aceitou e se acomodou em seus braços, como sempre tivesse feito aquilo, seus corações estavam batendo na mesma sintonia, eles eram praticamente da mesma altura. Um leve rubor subiu às faces de Celestina, mas, ela não deixou que ele percebesse esse detalhe, no seu íntimo tinha certeza que, essa noite prometia fogos de artifício dentro de seu corpo carente de afeto, estava se sentindo uma adolescente em seu primeiro encontro e Aurélio se sentia da mesma forma.
Salvo os detalhes mais ardentes e o tempo passado, num elegante navio, um casal de adolescentes maduros, partiu em viagem, sem data marcada para um futuro promissor, embalados por um sentimento de total felicidade, renovados em vigor e absoluta paz de espírito. É, o destino entrelaçou os fios das vidas de dois seres que nunca antes haviam se aproximado e os preencheu de novas esperanças.
Cristina Gaspar
Rio de Janeiro, 16 de Julho de 2015.