ÀS MARGENS DO LAGO PROFUNDO - CAPÍTULO VI e final

Levantaram cedo, estava claro e frio, mas, sem vento, soltaram os cães, abasteceram seus potes de comida e água, preparam juntos chocolate quente, suco de laranja, ovos mexidos e comeram também o resto da torta de maçãs. Afonso se preparava para ir até a cidade e perguntou se ela iria com ele, ela disse que não, ficaria para adiantar o almoço para quando eles chegassem, desta vez só Serena foi com ele, Laio resolveu ficar com Amely.

Ela aproveitou para afastar o armário do quarto para mais perto da cama, assim facilitaria o trabalho de Afonso na feitura do quarto, afastou também da parede da sala alguns pequenos móveis, deu uma arrumada em tudo, deu um biscoito canino para Laio, e cantarolando foi dar conta do almoço, como já haviam comido peixe por tanto tempo, resolveu fazer salsichas fritas naquele dia, fez um ensopado com cenouras, abóbora, batatas, ervas, tomates, cebolas e vagens, colocou um lata de carne enlatada dentro, engrossou com um pouquinho com uma colherada de aveia em flocos, acertou o sal. As salsichas fritaria em banha na hora em que eles chegassem, como hoje era dia de salsichas Serena e Laio iriam ficar na vontade, mas, nada de salsichas para eles, separou dois peixes que estavam no refrigerador, para juntar às suas rações mais tarde.

Amely deixou chá quente de limão na garrafa térmica, para quando eles retornassem, encheu uma jarra com açúcar mascavo, rodelas de laranja e suco de limão, o ar estava frio e o refresco estaria bem fresco, quando Afonso chegasse. Se juntou a Laio próximo a lareira e ficaram apenas deitados, Laio apoio sua cabeça nas pernas dela, uma cena linda e familiar, gostava muito da companhia dos cães e de Afonso, aliás, estava gostando por demais, sentia borboletas voando dentro do estômago, sempre que ele se aproximava dela, seria amor (ela pensou). Umas duas horas e meia depois eles voltaram e ela foi Laio ajudar a descarregar o furgão, Afonso também trouxera mais ovos, linguiças e um grande queijo amarelo, que Amely cobriu com banha, o envolveu num prato de prato e o guardou no armário da cozinha, junto à outro menor e mais claro que já estava lá, melhor usá-lo logo, resolveu então acrescentá-lo às salsichas na hora do almoço.

Deu chá para Afonso e Serena, ele lhe disse que preferia terminar o trabalho primeiro, enquanto o sangue ainda estava quente, depois almoçaria, ela aquieceu, colocou a panela do ensopado num banco bem próximo à lareira, para mantê-lo quente. Foi lhe passando as ferramentas que ele precisava, ele era bem hábil, rapidamente, colocou a parede divisória, fez um janela para os fundos e a porta com abertura para a sala, depois do almoço, faria a armação da cama, o colchão só chegaria dali a três dias, e o dono do armazém ficou de enviar até a beira da estrada, buzinaria e Afonso iria buscá-lo, era leve dava para carregá-lo sozinho. O armário ele iria fazendo mais devagar, não tinham muitas roupas, um só resolveria até poder concluir o novo. Ele acamparia dentro do quarto sem problema. Afonso foi se lavar e trocar de roupa, depois ambos lavaram as mãos e foram almoçar, deram os peixes e ração aos cães, água e uma maçã para cada um. De sobremesa tomaram chá quente de limão e biscoitos de canela. Afonso dividiu um biscoito de canela entre Laio e Serena para que desaguassem, pois os olhinhos pedintes estavam cortando seu coração, estavam ficando muito espertinhos aqueles dois, essa noite o sono chegou mais cedo estavam bem cansados.

Na manhã seguinte o frio já estava maior, apesar do dia claro, liberaram os cães para seus eventos matinais, tomaram café da manhã e Afonso foi fazer o pequeno armário. Amely aproveitou pra fazer dois pães, um recheado com linguiça e outro com peixe salgado e ervas. A rotina dos próximos 02 dias, foi absolutamente harmônica e normal, no terceiro dia o colchão chegou, e enquanto Amely preparava a refeição, Afonso foi arrumar os dois quartos, separou as coisas dele das de Amely, deixou o quarto novo para ela, e uma duas horas depois, ele a chamou, e a sua surpresa foi tão grande que ela ficou estática, ao abrir a porta de seu novo quarto, encontrou, lençóis, mantas, edredons, cobertores tudo cor de rosa e floridos, num gesto involutário, ficou na pontinha dos pés, e deu um beijo suave e rápido nos lábios de Afonso, ele ficou tão emocionado, vendo borboletas azuis e pássaros brancos voando ao seu redor, que nem conseguiu corresponder ao beijo, estava absolutamente sem fôlego, ah! o amor...

Continuaram arrumando as coisas, apenas se olhando, conversando apenas através dos olhares e dos corações. Depois ficaram junto aos cães perto da lareira, folheando revistas, mais tarde comeram uma refeição trivial, acrescentaram mais lenha na lareira e no fogão na cozinha, quando foram liberar os cães perceberam o brilho claro sobre as águas do lago, um brilho intenso, estava começando a gear, Laio e Serena voltaram em correria desabalada para dentro da cabana, pequenos cristais de gelo se formavam na relva.

Afonso acendeu lampiões pela casa, colocou tochas acesas na varanda, que até demoraram a apagar, estava frio, mas, não tinha vento, dentro de casa estava gostoso e um chocolate quente veio a calhar. Ficaram na cozinha conversando sobre o tempo naquela região, Afonso resolveu contar que era um homem de posses na verdade, não era rico apesar de ter uma vida garantida, pelos valores amealhdos com seu trabalho como construtor, explicou seu nefasto casamento, nada disso mudou sua opinião sobre ele na cabeça de Amely, ela agora já o conhecia um pouco mais.

De repente, do nada, Laio começou a farejar a porta da cabana desesperadamente, e olhando através da janela, Afonso e Amely viram um coelho bem grande, então liberaram os cães, e mais tarde no jantar, todos quatro, comeram coelho ensopado, com batatas e vagens, Laio era um pescador e caçador exímio, tinha um faro apuradíssimo, Serena era uma boa cadela de guarda, sempre vigilante, mas, não tinha os dons de caça de Laio,  eles se complementavam, grandes animais eram os seus filhos de quatro patas. Foram para o sofá da sala, e como se fosse a coisa mais normal do mundo, Amely deitou sua cabeça nas pernas de Afonso e assim ficaram folheando revistas, com Laio e Serena bem próximos a eles, como uma linda e feliz "família".

Bem mais tarde, Laio e Serena pediram para sair, para seus alívios noturnos, voltaram rápido, foram alimentados, Amely foi fazer um caldo de legumes com carne enlatada e suco para o jantar, após a refeição conversaram na própria mesa da cozinha, e a natureza fez o resto, seus corpos foram se aproximando e um esperado beijo ardente e calmo ao mesmo tempo, aconteceu, se abraçaram sôfregamente, Afonso a pegou no colo, foram para o quarto, e nessa noite de ardência e cumplicidade, perceberam que todo o trabalho da semana em relação à construção do novo quarto tornarasse absolutamente, desnecessário, a paixão completou aquela cabana, agora chamada de lar.

Os dias seguintes foram de muitos beijos, cheiros e chamegos, conversas sussurradas, Laio e Serena pareceram perceber a mudança e dividiam sua atenção entre os dois. No jantar Amely deu biscoitos para cada um dos cães, e Afonso disse que ela os estava mimando demais, observou, olhe só a barriga de Serena, Amely chegando mais perto e acariciando a barriga de Serena, ficou com um sorriso largo no rosto lindo, Serena não estava gorda estava era grávida, bem prenha, Laio pulava de um lado para outro, como que entendendo a situação. Foram dormir em um dos quartos, agora seu ninho de amor e na paisagem branca de neve, a família começava a aumentar, quem sabe, com tanto amor pairando no ar, no próximo Inverno, a cabana à beira do lago profundo e frio, já esteja mais bem povoada.


Cristina Gaspar
Rio de Janeiro, 28 de março de 2015.
Cristina Gaspar
Enviado por Cristina Gaspar em 28/03/2015
Reeditado em 29/03/2015
Código do texto: T5186719
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