Roubador de corações
Um homem gostava de passear pelas ruas do grande centro comercial. Olhava as vitrines, checava de fora o interior da loja. Era criterioso, não entrava em qualquer uma. Analisava várias e escolhia a que mais lhe agradava.
Chegava de mansinho, como quem nada queria. Olhava as camisetas como aquele leitor apressado que folheia as páginas de um livro para ver quantas páginas faltam para o seu fim.
Logo a vendedora chegava, ia tentar vender seu produto, as camisetas da loja, claro, E com aquela lábia de vendedora dedicada para ganhar sua comissão um pouco mais gorda este mês.
Ele perguntava, como comprador atento e exigente, como desses leitores que gostam mais de como a história é narrada do que dela propriamente. Ela, respondendo a tudo e mais um pouco.
Conversa vai, conversa vem, ele nada comprava. À vendedora só ocupava-a. As mercadorias só olhava. E foi só olhando que ele não comprou. Ele roubou. Aliás, ele não roubou as camisetas, mas o coração. Roubara os corações de todas as outras, seletas, do alvo dele. Pior, não os corações, esse órgão vital para a vida, mas o que tem dentro dele: Os sentimentos, que são essenciais para a razão de vida humana.
O homem seduzia-as apressado, como aquele leitor ansioso que folheia as páginas de um livro para ver quantas páginas faltam para chegar ao próximo capítulo.