Como contos de fadas

Com um nó na garganta. A luz vazava pelas costinhas e incomodava meus olhos, mesmo fechados.

Me levantei e me arrumei, com a maquiagem básica de sempre. Um pó de leve e rímel, nada mais. Nesta noite sonhei com o que meu melhor amigo me dissera, na escola, no dia anterior. “Ella, eu te amo.” , foi o que ele dissera, se eu gostei? É claro, pois desde o ano anterior eu sentia o mesmo, mas não sabia como dizer, talvez por que não tinha certeza.

– El, venha tomar café, vai se atrasar pra escola.

– Estou indo mãe.

Hoje é sábado, mas estou indo pra escola. Motivo: nada mais que um maravilhoso simulado de ciências humanas. Talvez eu não devesse ir, e voltar para minha cama, mas eu acordei definitivamente, não tem mais volta. Desci, minha mãe preparou waffles, minha irmã, Annelise, é um ano mais velha que eu, a queridinha da casa. Sempre notas máximas, chefe do clube de matemática e física, e ainda, super popular. Não me importo com isso, não mesmo.

– Oi mãe, oi Anne. Tem prova hoje também?

– Ora, claro que tenho. Todo o ensino médio.

– O.k.. Mãe, podemos passar na casa do Rafael? Fiquei de dar uma passada lá.

– Claro, fala pra ele esperar na porta em quinze minutos.

Peguei o meu celular , procurei seu nome na agenda e digitei “me espera na porta em 15mim”. Acabamos o café, pegamos as bolsas e fomos para o carro de papai. Saímos e fomos pela rua do Raf que era caminho da escola. Chegando perto da casa dele vimos um garoto de 1,70m cabelos negros e pele clara, com o uniforme da escola e celular na mão, só podia ser ele.

Todo o dia foi tranquilo. Depois da prova fomos para o shopping mais próximo, combinamos de pegar um cinema. Será que eu deveria falar com ele sobre o que sinto? Talvez não seja tão simples, afinal o que mais importa é que estamos juntos e acima de tudo somos amigos. Não que estejamos juntos, juntos de estarmos namorando, apenas estamos juntos nesse momento, e isso é bom.

– Raf, sobre o que você me disse ontem...

– Esquece o que eu disse. – Suas bochechas estavam rosadas.

– Talvez eu não queira esquecer.

– Somos amigos, apesar de tudo. E não quero que isso acabe.

– O.k..

`Meu telefone tocou.

– Não vai atender?

– Aaa... – eu fitei-o – sim, eu vou. – peguei o celular que estava no bolso e

olhei.– é minha mãe.

Deslizei o dedo sobre a tela.

- Alo? Oi mãe.

- Está no shopping com Rafael?

- Sim, íamos no cinema, mas acho que não tem nenhum filme bom, pode vir de buscar em 20 minutos?

- O.k..

- Já vai? Pensei que íamos ao cinema.

- Íamos, mas ... É melhor eu ir.

- Tudo bem. Te vejo amanha?

- Pode ser. Me ligue.

Fui pra casa. Sei que eu deveria dizer a ele o que eu sinto, mas não acho que seja tão simples assim. Na verdade é. Somente dizer a ele o que eu sinto, mas acho que não devesse ser assim, por enquanto. Eu gosto da amizade dele.

Os dias foram se passando e não percebi algo a mais entre eu e ele. Talvez ele não me ama como disse, afinal, palavras são apenas palavras. Diariamente nos encontrávamos na escola, ele era da minha turma, fazíamos trabalhos juntos, atividades. E nada, nada acontecia entre nós. O silencio que reinava quando estávamos juntos doía, não porquê não havia nada pra falar, mas por que quando não se diz nada não existe a possibilidade de machucar. Sempre achei que palavras tem poder maior que uma faca para isso. Então nada mais que o necessário era dito. Como se a amizade estivesse se rompendo também.

O final do ano já se aproximava e junto disso, eram as festas de formatura, a de minha irmã e também todos outros da turma dela. Cada formando tinha direito a uma mesa com 6 cadeiras. Ela resolvera que iriam ela, mãe, pai, eu o seu namorado e Raf, que passou bastante tempo da adolescência aqui em casa.

-Olha que sorte ma-ni-nha. Sobrou uma cadeira pro Rafael. Eu digo a ele, ou você diz?

-Tudo bem se você dizer. Nem estou com muita vontade pra ir nessa festa.

-Para tudo. Já sei, você está sem vestido para a festa?

-Também, mas...

- Sem mas, vamos pro shopping agora, pai está de saída, e nos dá uma carona.

Não posso descrever essa tarde com minha irmã com outras palavras se não divertida e perfeita. Compramos vestidos, sapatos e claro, bijuterias. Tudo estava pronto para a festa no próximo sábado. Rafael havia me ligado e disse que iria e até comprava roupas novas. Tudo poderia ser perfeito, ou não. Me esqueci completamente da barreira que deixei que construíssem entre mim e ele. “Tudo ficará bem” pensei. Durante a semana tudo correu bem. Eu e Raf voltamos a conversar mais. E estávamos já ansiosos para a festa.

Hoje, sábado, Annelise acordou cedo e passou o dia no salão, eu não reservei horário nem nada. Gosto dos meus cabelos naturais, castanhos ondulados, nunca levei muito jeito para maquiagem, mas é simples, eu já havia treinado durante a semana. Quando faltava duas horas, comecei a me arrumar, fiz a maquiagem, penteei o cabelo, coloquei os meus sapatos , e... Annelise chegou com um coque loiro no alto da cabeça e um vestido longo branco, com a saia transparente. Linda. Me olhei no espelho e o brilho de minha irmã ofuscou a minha, estava com um vestido curto laranja e sapatos pretos. Fomos todos no carro, menos o namorado dela. Lucas, ele tinha carro e morava longe da nossa casa.

Quando chegamos, uma musica boa para dançar tocava e assim, fomos para a pista, nos quatro. Porém, a próxima era um musica lenta. Raf se aproximou e começamos a dançar juntos. Corpos mais próximos que o normal.

- Eu queria te dizer uma coisa. – ele disse bem perto de mim.

- Diga.

- Eu te amo.

- Você já me disse isso.

- Eu sei. – ele olhou nos meus olhos e riu.

- Então por que disse de novo?

- Esperava uma resposta. Os olhos castanhos deles não saia dos meus.

- Eu não sabia como te responder. – eu estava com um sorriso no canto do rosto.

- E agora sabe?

- Eu sei sim. – respirei fundo e o beijei.

Depois do beijo ele me olhou, sorriu e me abraçou.

- Com isso você quis dizer que sente o mesmo?

- Exatamente. - Afinal, não foi tão difícil como pensei.

Ábila Dutra
Enviado por Ábila Dutra em 30/09/2014
Código do texto: T4981999
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