Querido Diário
Diário do Vinícius:
Domingo, 6 de julho
Hoje eu decidi que vou finalmente me declarar para ele.
Eu vou chegar naquele colégio amanhã de manhã, largar minhas coisas na sala e vagar pelo pátio como faço todos os dias, 15 minutos antes da aula começar. Ele vai aparecer. Lindo como sempre, com aqueles seus cabelos castanhos caindo nos olhos, bagunçados e de uma textura suave que dá vontade de entrelaçar os dedos e não soltar nunca mais. Ele vai estar com a mochila nas costas e o moletom surrado que ele sempre usa amarrado na cintura. Vai estar com os fones plugados no iPod, o direito na orelha e o esquerdo caído de qualquer jeito, porque ele gosta de se ouvir cantar enquanto escuta música. Se estiver chovendo, ele vai estar todo molhado porque ele sempre esquece a droga do guarda-chuva.
E eu vou estar lá, sentado na arquibancada do pátio, com o meu caderno de desenhos apoiado nas pernas e um lápis imóvel na mão esquerda, fingindo que estou terminando um esboço, enquanto, na verdade, o observo se aproximar de mim. Seu perfume chegará primeiro do que ele. Ele usa Kaiak, mas mesmo que não usasse, não teria importância. Seu cheiro natural é quase tão bom quanto. No entanto, aquele perfume me desconcertará todo e, quando eu olhar em seus olhos - aqueles grandes olhos cor de amêndoa -, minha confiança se evaporará como se nunca tivesse existido. Se é que já existiu.
Ele sorrirá, um sorriso perfeito de dentes brancos e retos naqueles lábios finos e bem desenhados. Mas não vai sorrir só com a boca; seu olhos vão brilhar mais e suas sobrancelhas grossas vão se arquear num conjunto perfeito de fisionomia. Eu já perdi a conta de quantas vezes desenhei os traços daquele sorriso, eu o conheço de cor.
Ele vai me cumprimentar com um "E aí, cara, beleza?", e o meu coração se despedaçará, pois é nessa hora que eu lembro que ele nunca me olharia do mesmo jeito que eu olho para ele. E o aperto de mão secreto que daremos, confirmará a minha fiel posição na sua vida. O melhor amigo. O cara que nunca vai desapontá-lo...
Foda-se, eu vou me declarar.
Mesmo que isso possa nos afastar para sempre. Mesmo que talvez ele nunca mais confie em mim. Mesmo que isso possa provocar seu asco. Mesmo que ele nunca mais volte a olhar na minha cara. Mesmo que eu perca seu sorriso para mim, todos os dias de manhã...
Eu... Vou me declarar?