Três em um

Maria num dia de domingo caminhava a beira do mar quando de repente... Será mesmo esse o nome dela? Vou prosseguir se no decorrer da história lembrar, mudo o nome. Pensando bem Maria não era aquela mulher linda de olhos castanhos que morava nas geleiras do Sul? Agora que fiquei confuso mesmo, pois a mulher de olhos castanhos tem uma história bem interessante.

E agora, o que contar aos meus leitores? A história de Maria ou da suposta Maria? Acho que consigo intercalar os dois contos. Onde paramos leitores? Ah, sim! Num dia de domingo alguém caminhava... Alguém? Que história é essa? Peço desculpas aos meus leitores por essa grande confusão, mas a minha cabeça está um tanto quanto estranha.

Eu, Rafael Bernardo que nunca me senti desnorteado com nada, me vejo desajeitado a ponto de não mais saber contar uma história. Deve ter sido culpa daqueles olhos marcantes que não consigo esquecer. Talvez ela nem se lembre mais de mim, quem sabe ela nem saiba meu nome.

A primeira e última mulher que meu coração se deixou marcar. Talvez porque eu sempre fui o romântico da vez e nunca precisei me esforçar para prender os corações. Porque entrei naquela maldita livraria? Que livro mesmo eu comprei? Ah! Não comprei livros, lembro-me que naquele dia eu a confundi com uma vendedora e pedi sugestões, acho que eu fiz até propositalmente para chamar atenção dela.

O fato é que foi ela quem chamou a minha atenção. Estava ela lá comprando uns CD’s. Eu que na intenção de comprar livros trouxe um CD de uma banda que eu nunca ouvi. É melhor eu até desligar essa música. Acho que escrevi coisas demais, é melhor voltarmos ao que de fato deveríamos fazer. Espero que não estejam cansados de ler, porque agora me lembrei do nome da mulher que caminhava.

Num dia de domingo Samantha caminhava a beira do mar quando de repente sentiu uma sensação estranha como se alguém muito próximo que estivesse distante havia chamado-a. Olhou para os quatro cantos, mas não conseguia identificar, pois Tiago, o seu amigo de infância havia voltado e parecida ter mudado bastante...

O que está acontecendo comigo? Não consigo esquecer a moça da livraria, logo eu que escuto tantas vozes de mulheres com suas histórias de amor, numa cadeira da praça VII. Estou eu aqui a ponto de dar play novamente no CD.

Voltando ao casal, um homem lindo, como descreve Samantha, se aproximou tentando mostrar a ela que pudesse acreditar que era aquele mesmo Tiago de antigamente. Pois então, foi uma surpresa, porque na época de escola o ex-colega era magro, franzino e usava óculos, agora, porém havia se transformado em um homem forte, alto e bem apessoado, correndo nas águas em pleno março.

Samantha conseguiu perceber que eram aquele mesmos olhos dos quais somente ela pudera ter a honra de conhecer, no passado, quando Tiago não os mostrava para ninguém, quando os óculos ainda eram barreira.

-“Como pode um homem mudar tanto?” – Foram as primeiras palavras de Samantha quando chegou perto do meu stand de histórias. Ela havia acabado de encontrá-lo quando se sentou a contar. Posso estar até errado, mas no passado eles tiveram um pequeno caso, um beijo, um abraço, ou então a tal combinação fosse muito importante para ela, pois Samantha relembra com olhos cheios d’água, que quando Tiago foi embora eles fizeram uma promessa.

Ouço mil e trezentas histórias por semana, isso dá mais ou menos cinco mil e duzentas histórias por mês, mas mal posso esperar para receber a visita da dama persuasiva que conseguiu transformar livros em CD e envenenar esse coração vacinado.

Maria e Samantha apareceram no mesmo dia, uma pós a outra não lembro quem surgiu antes ou quem desapareceu depois. Eram duas mulheres lindas que foram enfeitiçadas por rapazes do passado.

Maria conheceu Will numa loja de sapatos. Era quase impossível não conhecer alguém ali, era seu local de trabalho. Will, William, ela o apelidou tanto, mas esse é o único apelido que me lembro. Samantha e Maria embananaram tanto a minha cabeça naquele dia com a empolgação que me pego confuso às vezes sem saber quem se apaixonou por Tiago ou quem se engraçou para Will.

Foram às histórias mais loucas da segunda-feira, tirei a semana toda a escrever, já é quinta-feira da outra semana e não me esqueço da falsa vendedora.

Foi naquela mesma segunda que fui pela manhã à livraria e conheci a mulher mais incrível do mundo, fui cauteloso e a convidei para participar das minhas histórias de finais de semana. Ela disse que iria com certeza na sexta da outra semana, no caso... Amanhã! O que vestir? Ser normal ou parecer autêntico, casual ou romântico? Falei em voz tão alta que não sabia o que vestir amanhã que escutei a filha da vizinha ao lado do apartamento 112 dizer:

- Vista você mesmo, seu Rafael. Apenas vista algo que você mesmo vestiria, seja você.

- Isso, serei apenas eu. Obrigado, Pequena.

Maria! Maria tinha olhos castanhos, marcantes, estava toda arrumada, porém afobada. Ela disse que já me conhecia e voltara do Sul apenas para me contar com muita pressa a história que se perpassou juntamente com Will. Ele era um homem inteligente que há quatro anos conheceu na loja onde ela trabalhava. Ele pretendia comprar um sapato para um evento importantíssimo.

A mulher o atendeu naquela ocasião, mas quando um mês depois ele voltou a procurá-la, mas Maria havia tirado férias. William esperou ela voltar, mas quando acabou o período de descanso foi chamado a participar de uma grande conferencia fora do país.

Encontrando grandes oportunidades fora do Brasil, William desistiu de reencontrá-la. Maria, porém pouco tempo depois pediu demissão, ficando assim ainda mais difícil de reencontrá-la. Em uma viagem ao Sul Maria visitou um café do qual nem esperava encontrar um amor. Talvez ela nem se lembrasse de Will, como ele dela.

Maria estava sentada, Will a avistando meio sem acreditar não quis perder a oportunidade de contar a ela toda sua trajetória durante dois anos querendo explicar o fato de que se esqueceu de convidá-la para sair.

Quem imaginaria que dois anos depois eles se reencontrariam e um ano depois estariam já casados. Resolveram então voltar à cidade de origem, onde se conheceram e foi ai que Maria lembrou que aqui havia um contador de histórias e esse contador sou eu.

Na sexta-feira voltei para casa meio entediado de tantas histórias que ouvi, mas sinto muito informar ao meu coração que não foi dessa vez que ele se deu bem. Sim, leitores é isso mesmo que vocês estão pensando a mulher que conheci na livraria não apareceu. Sábado não quis ir para praça, nem domingo quis fazer nada, mas segunda eu precisava tomar um rumo, ou eu aparecia para ouvir histórias ou eu iria acabar com todas as histórias de todos os livros que venho guardando há anos. Então resolvi não abandonar a minha vida e eis que surge a esperança, na segunda-feira nove da manhã:

- Olá, espero que não tenha ficado zangado por sexta, mas é que me aconteceram coisas chatas que não precisam ser postas aqui. Pensei que sábado e domingo você aparecesse por aqui também, eu apareci ontem e não te encontrei, mas o importante é que aqui estou.

Lá estava ela toda linda, olhos verdes que nunca vou me esquecer. Comecei a tremer por dentro, tendo sensações das quais nunca havia experimentado, mas tentando ser o mais natural possível:

- Então, conte-me sua história. – Soei com um tom que mal dava para ouvir, então ela começou.

- Prazer, meu nome é Babette, mas como eu faço? Conto minha história e depois você se vira para escrevê-la?

- De preferência.

- Tudo bem. Num dia lindo, conheci um rapaz incrível, que me mostrou...

Na hora parece que um turbilhão de ideias e pensamentos ruins vieram a minha mente. Parece que eu teria que desistir daquela paixão em nome da felicidade da mulher que estava me contando sua história. Minhas esperanças haviam brilhado aquele dia quando ela apareceu, e parece-me que seria a última vez que brilhariam. Eu estava acabado, sem forças, sem energia, queria rasgar todos os papeis, queimar todos os textos, esquecer do acordo com a editora, abandonar a profissão até que ouvir uma palavra chave posta numa frase que sorrindo disse:

- (...) cada faixa daquele cd.

Por um instante quis sorrir e pedi que ela voltasse um pouco da história. Então ela me questionou se eu não tinha escutado se quer uma palavra que havia saído da boca dela. E por incrível que pareça eu havia escutado sim, só que pelo fato de estar cego, não consegui associar a mim. Eu sorri, a beijei e disse:

- Esse conto já foi escrito umas quatro ou cinco vezes no meu caderno de histórias, mas se você quiser posso escrevê-lo quantas vezes precisar.

Ela sorriu e me ajudou a fechar o coração de histórias. Cinco meses depois venho apenas informar aos leitores dessa narração que às vezes é preciso deixar de lado as histórias para que se possa criar o próprio conto.

Maria se casou com Will, como era de se esperar. Samantha começou uma parceria com Tiago que logo, logo se tornou amigo de William. Com a afobação das duas esqueci-me de lhes informar que Maria e Samantha de tanto confundirem minha cabeça se tornaram amigas e voltaram cinco meses depois juntas para o desfecho da história.

Eu, porém estou a ponto de me casar e não desisto de fechar essa história ouvindo Babette dizer que aceita passar o resto dos seus dias comigo. Ainda bem dizem que escritor tem poder de escrever até a sua própria história e mesmo que se não tivessem me dito isso ainda, não tem problema inventaria esse ditado agora.