A lembrança do melhor beijo da minha vida

Não se trata exatamente de como as coisas acontecem, mas, principalmente, do motivo que esta por trás delas; é o que te leva a beijar alguém, e não o beijo em si, que o torna especial, inesquecível. E foi um beijo bem simples pra ser franca, não teve troca de olhares, coração saltitando no peito, pé flutuando, mãos suadas ou o tão famoso frio na barriga. Foi um beijo rápido, nada comparado aos beijos de cinema, que parecem tão surreais. Tem coisa que só acontece em filme, a vida real é bem diferente. Mas aquele beijo, que aconteceu a 8 anos atrás, ainda faz com que eu suspire ao lembrar deles, do melhor beijo da minha vida e do único homem que eu amei. Ah… Era uma noite típica de São Paulo, enluarada e fria, e eu sei que as estrelas daquele céu testemunharam um dos momentos mais bonitos da minha vida. Ele andava ao meu lado, segurando-me pelo braço, guiando-me para um beco escuro, onde eu jamais imaginei beija-lo pela primeira vez, é, nem sempre as coisas acontecem como planejamos, sonhamos, queremos… As vezes, elas simplesmente acontecem, e nós não controlamos absolutamente nada, apenas estamos lá, e somos guiados pela força do desejo, quando percebemos, já foi, já aconteceu, e o que ficou daquilo foi uma lembrança tão especial quanto a lembrança que ficaria se tudo tivesse corrido a nossa maneira. Não tinha ninguém além de nós dois ali, e quando nervosa eu não consigo parar de rir, mas ele calou-me o riso num surpreso gesto, puxando-me para perto, deixando nossos corpos colados, o que com certeza me fez ficar muda, pois nunca antes havíamos compartilhado o mesmo espaço daquela maneira, tão íntima… Ah, o roçar da barba dele em meu rosto ardia em minha pele como ardia meu amor por ele, ligeiramente fechei os olhos e deixei que aquele momento seguisse naturalmente, sem a menor interferência, absolutamente nada iria impedir aquele beijo, nada mais poderia deter-nos, nosso amor não permitia mais demora, eu ansiava euforicamente pelo primeiro beijo do meu primeiro namorado. Ele me segurou com força, apertando ainda mais meu corpo contra o dele, o que certamente deve ter me deixado desconcertada o suficiente para não saber o que fazer em seguida, então entreguei-me a sorte do momento e deixei-me a dispor da ansiedade da boca dele pela minha, e o que posso dizer daquele momento em que nossas bocas se encontraram? Foi um beijo forte, quente, e definitivamente repleto de desejo e de um amor, como eu jamais sentiria novamente… Será que aquele beijo também perturba-lhe a mente quando aparece sorrateiramente entre as memórias de dias bons? Prefiro acreditar que sim, pois um beijo como aquele, das poucas certezas que tenho, nunca aconteceu noutras bocas, como aconteceu em nossas bocas, bocas sedentas de amor, como é sedenta por água a garganta de alguém ao cruzar um deserto. Um beijo como aquele, nunca tocou tão profundamente o coração e alma de alguém, como tocou-nos. Um beijo como aquele nunca significou para outros apaixonados o que significou para nós, foi o marco de uma história de amor que dali em diante enfrentaria muitos obstáculos para conquistar o direito de ser livre, pois um beijo como aquele, num beco escuro de São Paulo, aconteceu por que um amor proibido nascia, por que duas pessoas resolveram lutar juntas por um sentimento puro, que havia chegado para mudar para sempre suas vidas. Um beijo como aquele jamais foi tão esperado, tão violento e impetuoso como a onda que que choca contra as rochas, nem tão singelo como o voar de uma borboleta sob as flores de um jardim. Um beijo como aquele, cabe somente a ele e a mim, ali, naquela noite, naquele beco, naquele momento. Parecia tão errado, eu me sentia tão rebelde, por ir contra as regras sagradas as quais fui submetida durante toda minha vida, e acho que foi isso que tornou-o tão único, tão especial, tão inigualável. Nenhum outro beijo no mundo inteiro, desde os primórdios da humanidade, foi tão belo.