176 - A SOMBRA DA SAUDADE...
Pelas frestas da solidão um pingo de luz cai na palma da minha mão e surpreendentemente o universo inteiro nele se refletiu, e para minha tristeza e desesperança só não vejo você ali refletida, vejo uma sombra que se destaca pela beleza da brancura de suas vestes, e esta em tudo se assemelha a ela...
Inesperadamente ela acena pra mim, e num gesto carinhoso levando as mãos aos lábios me atira um beijo, e isto me deixa sobressaltado, aquele beijo traz em si toda a ternura de outrora, toda a felicidade que um dia vivenciamos... É a revelação...
E ela caminha desacompanhada, solitária, sem rumo a vagar pelos escombros desassistido de cor e emoções do que restou de nossas vidas...
Eu que tanto sonhei em reencontrá-la agora posso vê-la e senti-la, meu coração se descompassa, estou trêmulo, com a voz enrouquecida pela emoção ouso a falar com ela, mas ela não me escuta, queria tanto ouvir a sua voz, sentir novamente os seus braços em nossos abraços, seus lábios em nossos beijos, tê-la ao meu lado nem que fosse por um breve momento, mas tudo isto é em vão...
No açoite da brisa foi se o pingo de luz e com ele o meu universo, e ela para o seu mundo voltou, mas a sua sombra persiste em minhas recordações e sublimemente ainda produz em mim um encanto que a tudo entrelaça e estremece!
Pelos vãos das minhas lembranças uma doce saudade inexoravelmente me conduz a tudo o que fomos, a tudo que sonhamos, e a tudo que desejamos, coisas que há muito o esquecimento julgava ter-se esquecido, é a felicidade de outrora estremecendo novamente o meu coração, num repente me desvencilho agoniado deste encantamento, acordo para a realidade, e a realidade é por demais cruel, mas as lembranças persistem...
Que paradoxo...
A realidade me condena a desejar somente o que você pode oferecer...
E você não pode oferecer-me nada mais do que a sua sombra.
Mas tudo isto que é tão pouco, é o bastante para que haja felicidade em minha vida.
Basta-me a sua sombra.