Chuva, bêbados, música alta e muitos “talvez“
Ele sentou numa das cadeiras do balcão do bar. Havia uma moça bonita ao seu lado, quero dizer, sentada ao seu lado. Ele pensou em oferecer à ela um whisky, mas ela já estava bêbada. Pediu uma dose individual. Chovia muito lá fora e ela começou a confessar suas mágoas. Dizia que não era feliz, que os homens não prestavam. E ele ouvia quieto.
Tocava Barão Vermelho. Na verdade, alguém estava tocando músicas deles. Ela começou a cantarolar Maior Abandonado. Ela não tinha a voz mais bonita do mundo, mas era o bastante. Tinha vezes que ela errava a letra. Enquanto isso, ele bebia mais e mais...
Quando ele finalmente estava no mesmo estado que ela, eles começaram a cantar. Algumas pessoas, que já estavam embriagadas também, cantaram junto. Outras riam. E eles? Nem se importavam.
E eles subiram ao palco. Dois microfones sobrando, duas almas estranhas. Uma, procurava a felicidade. A outra, procurava alguém com que pudesse ser feliz.
Os dois cantavam de tudo. Legião Urbana, Barão Vermelho, Rita Lee...
Os efeitos da bebida já começavam a aparecer. Ela tropeçou no fio do microfone. Ele, que por incrível que pareça estava menos bêbado, a segurou. O público pedia um beijo. Ele pedia a mesma coisa. Ela coitada, pedia que ele não a soltasse. Eles se olharam. E aconteceu.
Duas bocas. Um desejo incontrolável de um rapaz carente. A loucura de uma moça desconhecida.
É, talvez seja isso o amor. Um sentimento que nasce nos lugares mais inusitados.
Mesmo sabendo que ela não se recordaria daquela noite, ele tentou aproveitar o máximo daquele momento. Eles se soltaram. A banda continuou o show. Eles conversaram. Mais bebida.
Daquele dia em diante, eles nunca mais se veriam. Talvez eles tivessem cantado noite adentro, trocado telefone, se casado...
Talvez sim, talvez não.