O Escritor

Escrevo limitado aquilo que eu sinto, que a minha alma me cochicha. Meu mérito, ou melhor, demérito é por isso no papel, transformar sensações indescritíveis e prazerosas em letras frias enclausuradas no papel opaco e sem vida. Depois essas sensações serão pinçadas, ou melhor, projetadas no espírito dos leitores e será fácil perceber que nada foi inventado ou criado. Será sempre um plágio, um plágio da vida real. Nada de novo, nenhuma novidade, quem ler se identificará, terá um "déjà vu", ficará, talvez, momentaneamente impressionado. Serei sempre um escravo desse recurso apelativo, não por opção, ou melhor, por falta de opção.

Acho que o verdadeiro mérito dos grandes gênios é escrever com maestria algo que não sentiram ou viveram, mas que ao serem lidos, os leitores são induzidos a erro, confundidos a pensarem o contrário. Tamanha sensibilidade e habilidade eles conseguem abstrair sentimentos para personagens abstratos, distintos de seu ser, mas tão reais como.

A vida às vezes nos engana, coisas pequenas são confundidas com coisas maiores, sem realmente o ser. Brigamos por migalhas, muitas vezes não por uma, mas por várias que ficaram represadas em nossa alma, e que chamamos de "águas passadas". Quando deveriam mesmo é ter desaguado numa conversa franca.

Talvez o maior escritor de todos seja o destino, que sempre nos confunde. Sempre escrevendo finais antes da conclusão da história e começos após o final. Parece subjetivo, mas acho que precisa desaguar numa conversa franca, disse Felipe novamente. Já que nem sempre as palavras escritas conseguem abrir as comportas da alma e libertar aquela água represada, contaminada de ressentimentos que não podem ser filtrados e só envenenam a quem armazena.

Foi a última coisa que ele disse a sua namorada. Ela, respondeu com lágrimas e a expressão de quem fora traída, traída pelo destino... Seu rugido de silêncio foi ensurdecedor, as pessoas num raio de dez quilômetros conseguiram ouvir o silêncio gritante que rasgava o domingo de sol. Ao senti-lo, muitas entraram em prantos, comovidas pelo desespero daquela que havia agora de escrever sua própria história sozinha...

ProjetoProsa
Enviado por ProjetoProsa em 01/10/2013
Reeditado em 10/01/2018
Código do texto: T4505863
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