O conto do amor solitário
E a palavra não dita dói justamente pelo que não disse como se um dia tivesse dito. Sentei no sofá que era todo feito de lembranças e pensei em tudo o que eu queria que você tivesse me dito antes de partir. Queria que tivesse dito que eu era tua liberdade, que sem mim tudo era demora e que nosso amor era criança. Que ao meu lado tinha um abrigo e que comigo o frio e o calor perderam a importância. Que dissesse que seu riso só fazia sentido ao lado do meu meu, e que comigo até discutir a política nacional era prazeroso. Que você não poderia viver longe das nossas conversas sem meio nem fim, e que você achava uma delícia os meus chorinhos ai de mim. Que dissesse que eu era tua musa e o que teu violão só conseguia tocar ao rodar da minha saia. Nada disso tu dissestes. O teu silêncio é que tem falado, gritado e corroído tudo que existe em mim. As paredes só perguntam por você. Nem um bilhete mal escrito em papel de pão de "adeus, amor", você deixou. Não sei o que você pretendia ao me deixar assim. Mas conseguiu. E ainda levou tudo. Só deixou um exemplar de teu livro favorito que você me dedicou e disse que teu amor por mim era feito de solidão. Pois foi isso mesmo que restou, nossa solidão.