COMO NASCE O AMOR
Houve-se por entre as gentes, por entre os humildes de coração, e isto, lá pelos lados da desembocadura do rio Tietê no majestoso rio Paraná, mais precisamente, do outro lado deste, que em certa ocasião e por capricho divino, um tucano deixou escapulir de seu imenso bico um caroço de seriguela o qual prazerosamente degustava.
Este caiu ao lado de uma estrada à beira do caminho e logo morreu.
Porém, quando a morte decretou a sua sentença sobre aquele miserável caroço, ele como a desafiá-la, transformou-se em semente.
E a morte do caroço gerou o nascimento da semente e a vida, mesmo de face com a morte, prevaleceu.
Certa jovem, donzela ainda, ao passar por aquela estrada teve a sua atenção direcionada para aquele brotinho que, apesar do solo arenoso e da escassez de chuva daquele lugar, se destacava por entre os espinhos.
Jovem sagaz que era logo se apercebeu de que árvore se tratava.
Apossada por um sentimento de afeto, até então por ela nunca sentido, debruçou-se sobre aquela muda e limpou ao seu redor.
Sem que ninguém lhe pedisse, com predisposição no coração e com todo o carinho sempre que possível, deixava seus afazeres cotidiano e para a estrada se dirigia com um galão de água para regar a planta e ficava a pensar sobre as deliciosas frutas que dela colheria.
Certo varão, homem de bem e honesto, em uma bela manhã por aquela estrada caminhava, absorto em seus pensamentos perambulava por ali, com quem não sabe para onde vai.
Ao ver aquela pequena árvore à beira do caminho logo percebeu que alguém com muito gosto, dela cuidava. Por se aquelas cercanias sua paragem não teve dificuldades para saber qual árvore era aquela.
Deteve-se por mais alguns instantes e pôs-se novamente a caminhar.
Deu alguns passos e parou.
Apesar de todas as suas preocupações, aquela pequena árvore e o zelo que a ela eram dispensados lhe chamaram a atenção, desde então, aquele rapaz dedicava dois dias de suas semanas àquela árvore.
De toda envolta em uma atmosfera de amor que os jovens a ela dispensavam, a árvore cresceu em tamanho, porte e beleza e não demorou, as aves do céu a ela se dirigiam para descansarem sua asas, outro, até seus ninhos nela fizeram.
No seu devido tempo a árvore floriu, apareceram os primeiros frutos que logo amadureceram.
Em uma bela manhã de domingo a donzela acordou sorridente.
Banhou e perfumou-se por inteira. Com alegria no coração se pôs a caminhar em direção ao pé de seringuela, pois pretendia passar um bom tempo a desfrutar os seus frutos.
Nosso rapaz, como que em sintonia de alma com a donzela, acordou com o mesmo intuito e se pôs a cumprir o mesmo ritual que a moça.
A jovem chegou primeiro e ficou a saborear as deliciosas frutas sob o aconchego da sombra da árvore.
De repente, passos, o barulho de galhos que se quebram, a jovem virou-se, era o rapaz.
No princípio não houveram palavras.
Olhos nos olhos. O descontrolar-se das pulsações.
Aproximaram-se. Tocaram-se.
Um primeiro beijo. Outro.
Logo depois, outro e mais outro.
Não mais queriam se separar.
E apenas queriam amar.
Sob as sombras do pé de seringuela trocaram juras de amor.
Já não mais eram dois. Eram apenas um.
Um tucano, um caroço.
A morte!
Uma semente, um nascimento.
Uma esperança!
O crescimento, o fortalecimento.
O Amor!