148 – MELHOR ASSIM...

Finalmente, depois de tanta insistência, depois de tanto pelejar, depois de tanto perseverar ela concordou com um encontro que na certa marcaria o início daquele romance. E o encontro seria às vinte e uma horas deste sábado, mais precisamente naquele restaurante que fica na praça central desta cidade.

E o dia estava maravilhoso, tudo estava colorido e jovial, até que enfim ela cedera, até que enfim ela concordara com este encontro, valeu a pena mendigar durante tanto tempo por este amor, valeu a pena esperar pacientemente pela decisão dela.

E ela finalmente decidiu, ele estava plenamente convicto que este encontro selaria seus destinos, e que juntos viveriam pelos restos de seus dias. Colocou o terno que a tempo não colocava, arrumou a gravata, se penteou, se perfumou, olhou para o espelho e se achou charmoso, elegante, irresistível.

O horário do encontro se aproximando, ele apressadamente passou pela floricultura e comprou um lindíssimo ramalhete de rosas cor de rosa, e chegou todo ligeiro ao restaurante, seria deselegante deixá-la esperando, foi logo reservando uma mesa localizada no terraço do restaurante, queria ver o céu, queria ver as estrelas, o luar, e uma lua toda feliz sorriu pra ele, e ele todo feliz também sorriu pra ela, sentiu o cheiro daquela flor que se chama dama noite, apesar de enjoativo, nesta noite ele o achou esplendoroso, tudo conjugava para que o encontro fosse marcante e inesquecível.

Cansou de tanto olhar para o relógio, e no relógio o tempo escorria pelos vãos do momento, deram-se as vinte e uma horas e nada da moça aparecer.

– Mulheres estão sempre atrasadas, se não fossem assim não seriam mulheres.

Agora o tempo escorria por entre o seu desespero e sua impaciência, e logo chegou às vinte e uma horas e trinta minutos e nada da presença da moça, nem um só telefonema justificando o seu atraso, somente um silêncio aterrador.

– Mulheres sempre se atrasam, mas não precisava atrasar tanto assim.

E logo o tempo marcou vinte e duas horas, rapidamente chegou às vinte e duas horas e trinta minutos...

Mais célere ainda chegou às vinte e três horas, e ele continuou olhando para o relógio, e paulatinamente um desânimo foi aprofundando contra o seu peito, o desespero foi apoderando de sua alma, cabisbaixo falava coisas sem nexo, sem serventia alguma para o momento, tecia suposições sobre os motivos e razões dela não ter aparecido, e um gosto de desgosto apoderou de sua boca, a bebida se tornou amarga, intragável, balançava negativamente a cabeça como que se conformasse com o acontecido.

– O que será que aconteceu com ela, será que sofreu algum acidente quando estava a caminho? Ou será que ela pensou melhor, ponderou e concluiu que não deveria vir, mas vá lá saber o que aconteceu?

Saindo do restaurante, sozinho se pós a passear pela praça carregando aquele bendito ramalhete, tirou do pensamento todas aquelas frases românticas que decorara para dizer baixinho confessando o já sabido seu imenso amor que sentia por ela, afrouxou a gravata, ele que há poucas horas atrás estava tão empolgado, tão sonhador, pra falar a verdade tão feliz, agora tão infeliz, tão perdido, mais perdido ficou quando em uma lixeira atirou o ramalhete, sem dele se despedir, de si para si contemporizou:

- Melhor assim, se ela não veio é porque não possui um mínimo de sentimento por mim, melhor assim, pra que começar um namoro em que só uma das partes ama, enquanto a outra fica na defensiva. Melhor assim...

- Melhor assim nada, melhor seria se ela tivesse vindo, melhor seria vê-la feliz recebendo o ramalhete, melhor seria tê-la em meus braços, beijá-la, acariciá-la, melhor seria ouvir dela, um eu te amo do fundo de seu coração, melhor seria dizer pra ela que a amava mais e mais e muito mais, melhor seria...

Magnu Max Bomfim
Enviado por Magnu Max Bomfim em 23/04/2013
Reeditado em 18/05/2013
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