A flor de Deron

Como nos contos mais belos e baratos, uma paixão e agora Deron via todo o iceberg que guardava no peito incendiar, como se todo o gelo fosse feito de gasolina. De repente, simplesmente de repente, foi implodida toda a paz que encarcerava o solitário rapaz.

Agora com brilho, mesmo que um brilho estranho no olhar, logo tinha motivo para respirar, estava apaixonado por alguém, que se fazia de tudo, luz, cor e canção.

Todas as suas ações refletiam tal sentimento, Deron emanava amor e paixão, mesmo que apenas olhando o vazio, não existia ópio que lhe roubasse aquela realidade, viveu para sua paixão como o peito da mãe vive para a criança e a criança para o peito.

Mas como caem as folhas e nascem as flores, Deron adoeceu de amor, sentiu o fogo alastrar, expandir os limites do peito. Sofreu.

Todos os atos de amor soavam asceticistas, chicotes com pontas que dilaceravam suas costelas, mas ele não recuava e quanto mais cria no seu coração mais flagelos se faziam nas suas costas, eutanásia, gozada lentamente pelo ébrio apaixonado.

O maldito Deron se apaixonara por uma flor amarela, de perfume tão puro quanto libidinoso, tão curador quanto venenoso, quanto mais cheirava, mais entorpecia, quanto mais amava, mais morria. E Deron morreu por amar, por amar a flor que cresceu no lago em que se afogou Narciso. Não poderia haver beleza maior para se apaixonar. O apaixonado encontrou sua paixão em solidão.