O Mito de Orfeu

Descendo pelas escadarias dos portos

Ungido com sua lira em trovada,

Em uma íngreme passagem dos mortos

Viera resgatar a alma da amada

Próximo ao infinito mercúrio horizonte

Vem na gôndola o temível barqueiro

Acompanhe este barqueiro Caronte

Conduzir-te-á pelo grande desfiladeiro

Ao cruzar as margens do largo rio Estige,

Defronte estará desperto o guardião,

Que com três cabeças diabólicas se aflige

De Hades maldito, o Cérbero é o cão

Dedilhou uma lamúria canção Orfeu

Dormiu Cérbero em seu sono profundo

Assim pelo caminho o trovador procedeu

Caminhando mais além negro fundo

Guiando-se pelo alto e lúgubre declínio,

Percebeu Hades que um simples mortal

Adentrou em seu grandioso domínio,

Junto de sua indecência suja atemporal!

Mas acalmou-se sua fúria ao ouvir o som

Da lira que verberava funesta melodia,

Dentro do tristonho e monótono tom

Daquela canção em melancólica agonia!

Eurídice voltaria para a terra dos viventes,

Mas jamais volte a tua face para trás,

Senão suas lamurias assim tão dormentes

Não lhe trarão ao coração a real paz

Cantara ao retorno as suas celebrações,

Quando se aproximava a luz da saída,

Pulsaram-lhe mais fortes as emoções

E fitou-lhe o amor de sua divina vida

Por entre a neblina e espesso miasma

Viste tua mulher pela ultima vez,

Tornou-se ela novamente o fantasma,

Sem vida em uma branca palidez!

Triste Orfeu percebera enfim só sua lira,

Era a companheira da imortal solidão,

Alçando-se a própria alma que delira,

Condenou-se para essa sua maldição!

opoetakurita
Enviado por opoetakurita em 09/09/2012
Reeditado em 09/09/2012
Código do texto: T3873307
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