Em uma manhã fria Rosa se levantou. Olhou para um velho retrato onde se encontrava o seu amor. Que era ele, até que os seus próximos disseram que não seria seu calor. Como não poderia de ser, ela deixou seu ser, ser levado, por quem lhe falava ao lado, sobre como e o que fazer. Do outro lado da cama uma foto com todos os seus ao lado. Que dominaram tanto. Até levá-la a este canto, onde lágrimas secas fixam-se de um tanto, que todos os móveis e cômodos guardam seu pranto.
Rosa chegou ao chuveiro, olhando toda a arrumação que se encontrava em seu banheiro. Arrumação esta colocada por sua mãe, que tocou em tudo que lhe pertencia, para ficar do jeito que devia ser ao seu gosto.
Rosa caminhou para a calçada, entrou no carro que seu pai lhe dera. Por um desejo seu não o dela, para ela não deixar de seguir as vontades de quem lhe gerara.
E o tempo levou Rosa ao que nunca desejou. Como um vento forte que soprava tão forte que levava, até um destino que o corpo não desejava, mas deixava levar. De tal forma que os sentimentos se reviram até não ter tino de que moraram num corpo que chora, sem chorar.
Rosa recebe um telefonema. De um homem que vezes ela esquece o nome. Mesmo tendo falado, com todos os parentes ao lado. Num casamento que mais parecia um teatro com fantasias. Marionetes onde um fantoche, com o véu de noiva, caminhava movido por barbantes, sempre adiante.
Ela atende ao telefone. Do outro lado Rogério é o nome. Diz que chegará de viagem e espera contar com a sua bondade. Dos toques que não quer tocar, dos olhos que não quer fitar e da boca que não quer beijar. Quem dera ela pudesse voltar e ficar com quem realmente queria amar.
No trabalho Rosa medita. Secretária de um escritório em que seu pai dita. Tudo que vai ser até o amanhecer.
Rosa se despede e volta para casa. Observa a cama em que se entregará como a uma meretriz, na casa que não quis. Num destino de caminhar em tormento, sem nunca expressar seu desalento, apenas seguir o vento.
Rosa se banha. Coloca uma loção em todo o corpo e se senta. Observa seu corpo, dádiva que lhe pertence e lhe faz ter gosto, de viver. Nua em um fim de tarde a se perder na escuridão da noite.
Rosa caminha até a sacada de sua casa. Deixa o seu corpo dependurar-se. O vento sopra em sua face. Como se a guiasse a voltar para sua porta. Para dentro de casa. Mas rosa não desiste e se inclina ao vento. O domina, luta contra a sua natureza tanta e não cansa de reagir. Deixa a angustia de lado e arranca de seu peito tudo que foi deixado ao vento.
Quem passava na calçada percebeu, abaixo do prédio de Rosa pode ver. Do quinto andar, despencar. Sendo levado ao vento. Que traduzia toda a vida de Rosa. Tudo que ela não queria e teve que engolir. Tudo que esta vida lhe cabia e ela abriu mão. Largada ao chão, após despencar do quinto andar, repousava ela na estrada.
Uma mão na multidão. Uma pessoa que se abaixa e toca nela. Que num desespero, um instante, desceu ao vento e foi parar no tempo em que descansa na calçada. Então a observa como num último adeus.
Um derradeiro pensamento até Rosa lançar a foto de todos os que mexeram em sua vida ao lado. Em passadas longas pela calçada segue ao largo. A favor do vento, no tempo certo para viver. Sabendo que se deixasse se levar por quem a manobrava, não seriam apenas imagens em sua mente até a calçada, mas sim seu corpo em um sopro de vida antes mesmo de viver todos os ventos para esta Rosa.