A outra

Vou contar-lhes parte do meu infortúnio, não por que perguntam-me, sei que não é de vossos interesses saber sobre a infelicidade de uma garota estúpida. Mas lá estava eu, prestes a chamá-lo e dizer-lhe que estou com saudades e que já não aguento esse silêncio que se impôs sob nós. Mas por ironia do destino, não sei se para o bem ou para o mal do que se seguiu logo após, o vi declarar saudades de uma outra. Outra. E repito mais uma vez: Outra! Não eu, mas outra. Quem pode entender o que se passou dentro de mim naquele instante? Segundos antes eu iria cometer um erro, definitivamente vê-lo desdenhar-se em saudades por outra foi um aviso divino. Devo manter-me em silêncio, e longe, não importa se isso esta acabando comigo, sufocando-me e matando a pouca fé que eu tinha de que tudo iria ficar bem. Certamente ele não iria dar importância se eu o chama-se de amor e confessa-se que ainda tenho por ele os mais intensos, loucos e sublimes sentimentos. Não duvido que iria ter um discurso ensaiado sobre o quanto ele esperou ansiosamente por isso, e que havia ficado feliz por eu ter aberto mão do meu orgulho. Mas confesso, que foi um alívio perceber que não faço a menor falta para ele. Talvez faça, vez ou outra, principalmente pela manhã e quem sabe a noite, antes de dormir... Mas de que adianta eu instigar-lhe sobre o suposto incomodo que a minha ausência provoca nele? Se nem ao menos a decência de manter discreta a saudade que ele tem por outra lhe é necessário; pelo contrário, parece-me que o fez propositalmente, para que eu visse e me sentisse a pessoa mais dispensável e substituível do mundo... Que ele vá com a outra então, e que ela lhe de atenção o suficiente para que eu não tenha o desprazer de ver essa cena ridícula se repetir. Mas o que está me deixando muito confusa, é esse mal humor que provavelmente vocês chamarão de ciúmes que estou agora só por ele ter saudades de outra, e não de mim. Se alguém compreende o que se passa, por favor conte-me!