Sob um céu escuro de julho

“Minhas mãos estavam ali, estendidas pra você. Eu estava debruçada sob a varanda, disposta a te puxar de volta, mesmo tão fraca, eu sei que conseguiria, eu não iria te deixar cair. Aquele nó na garganta, me fez quase sufocar, mas eu engoli meu desespero e mantive um olhar calmo, você tinha que sentir segurança em mim. Eu te pedi pra não olhar pra baixo, eu te gritei o meu amor, te prometi que cuidaria de você… Estava tão frio, o vento soprava forte, nuvens começavam a se formar naquele céu escuro. Por que você ficou calado quando te perguntei se ainda me amava? Você não me disse sequer adeus, apenas me fitou sem piscar os olhos, mas parecia ignorar cada palavra que eu dizia. Durante aquelas 2horas36minutos25segundos eu tentei fazer você querer ficar, tentei fazer você não desistir; mas foi tudo em vão, você pulou. Eu tive que observar seu voo para a morte. Eu quis saltar logo atrás de você, e te abraçar naquele vão entre o céu e o chão, sem nada para amortecer a nossa queda, mas iriamos morrer juntos, eu enfim cumpriria minha promessa, de que não importasse qual fosse sua decisão, eu estaria ao seu lado, sempre. Mas de alguma forma, eu também morri naquela noite, foi logo após ver teu corpo imóvel na calçada do edifício onde moramos juntos por 3 semanas. Lembro-me de ouvir você falar que seria no 30º andar, onde iríamos formar nossa família. Você sabia do meu medo de altura, mas disse que seria ali também, que eu iria superar ele, por que afinal de contas, eu não precisava temer nada, se estivesse contigo. Você me mostrou a lojinha na rua de baixo, onde iríamos comprar a tela de proteção para colocar na varanda, mas eu tive dor de cabeça no dia seguinte e você ficou cuidando de mim, acabamos não indo comprar aquela estúpida tela. Você me disse que todas as manhãs de domingo, iríamos esperar o dia amanhecer, abraçados na varanda, para que lá do alto, pudéssemos ver a cidade acordar. Eu lembro da sua voz, sussurrando-me promessas de como seriam nossos dias felizes. Eu só não me recordo, meu amor, de você dizer que seria ali que tudo terminaria, da maneira mais trágica, mais dolorosa, e mais torturante. Por que você fez isso meu amor? Por que me deixou daquele jeito? O que deu em você para se pendurar naquela varanda as 4h da manhã daquele sábado? Por que você não conversou comigo, se estava passando por algum problema, iríamos resolver tudo juntos, meu amor, você sabe que não importa o que fosse, que você poderia contar comigo né? Então me responde, amor, por que você decidiu pular, se poderia ter escolhido segurar nas minhas mãos? Você achou que eu não fosse forte o suficiente para te puxar pra cima? Eu talvez não fosse mesmo, mas e daí se eu caísse também? O que eu vou fazer agora, sem você? Viúva aos 23, sem filhos, sem nada, além da dor e do vazio que você deixou…”