A estrada, a sombra, a dor
Irene fechou a janela, cerrou as cortinas de tule.
Na estrada, o silêncio da sombra que se afastava gritava adeus, como se fosse uma seta dilacerando a alma desta mulher que não se preparara para despedidas, menos ainda para a partida de Gabriel.
Lembrou o dia em que ficou sabendo que ele chegaria: era maio, outono. E, iluminada pela felicidade, da espera, foi ao jardim, colheu todas as rosas, encheu a casa de perfumes, depois atravessou o inverno, vivendo cada dia como se fosse primavera. Gabriel chegou no verão.
Na cozinha, o fogão a lenha voltara a crepitar, e a mesa tornara-se farta outra vez.
Na sala, nenhuma flor envelhecia.
A música inundava as noites: o violão, o cavaquinho, a guitarra, o banjo, a canção ...
Tempo de luz, tão feliz, tão curto ...
Por que a partida?
Por que a sombra se alongando em adeus?
Irene está curvada sobre si mesma, abraçada ao silêncio e a uma lágrima.
Maria Felomena Souza Espíndola