A GAROTA DA ILHA
Era sempre assim, todos os dias, invariavelmente.
Ela desistiu de tudo pra ficar na ilha.Tinha lá as suas razões.
Tinha suas lembranças. Ninguém conhecia os seus motivos e nem porque todo fim de tarde, Anny ficava ali de olhar perdido no horizonte até que sol se escondesse por completo e a noite começasse a cair.Era como se fosse um ritual. Fica perdida em suas lembranças.Ninguém conhecia a extensão da sua dor.Era intimo e pessoal. Sabiam a tragédia que aconteceu naquele lugar,mas não o tamanho do estrago em seu coração ,o imenso vazio, nem da sua solidão, e menos ainda da sua imensa saudade.Para ela, a saudade é o amor que fica
E, enquanto o entardecer deixava no céu aquela cor avermelhada como se fosse uma pintura digna da assinatura do maior pintor do universo, seus pensamentos iam longe , buscando com saudade a imagem tão viva e real de Elisa. Seus olhos marejados deixavam fluir em lágrimas o que ainda restava do seu sofrimento.Lágrimas de uma saudade quase atroz que parecia rasgar seu peito sem piedade.Aquela mulher alegre que havia chegado na ilha há quase dois anos para escrever uma matéria sobre eco-turismo e fazer uma sequência de fotos para ilustrar a revista onde trabalhava, já não existia mais. Não com a mesma vivacidade. Tudo havia ido embora junto com Elisa. Só restavam as lembranças. O vilarejo não passava de uma aldeia de pescadores, mas era um lugar paradisíaco. Havia somente uma escola do ensino fundamental que ia até a quarta série somente, e os poucos habitantes daquele lugar que ainda viviam alí, tinha como única fonte de renda, basicamente a pesca e algumas hortaliças para consumo próprio. A pesca, o único produto que de fato era levado para a cooperativa de pescadores na cidade mais próxima, cujo transporte era somente através de barcos.
Anny chegou até a ilha na embarcação que abastecia o povoado de mantimentos e remédios, o que acontecia uma vez a cada trinta dias. Aquele lugar nem constava no mapa por ser apenas uma das ilhotas que faziam parte da cidade mais próxima, que já era muito pequena. O local não era explorado, não tinha visibilidade turística e por esta razão ainda conservava belas praias que circundavam a ilha, tornando-a um belíssimo cartão postal , um paraíso perdido onde o mar parecia um pedaço de céu e o céu um pedaço de mar formando um belíssimo quadro assinado pelo Criador.
Ela , a jovem repórter , ficaria alojada na escola , lugar de pouco conforto, possuía apenas um quarto pequeno que um dia fora usado como despensa da escola, e que agora ali dispunha de um pequeno catre de cimento fixo na parede com um colchão de penas de aves, uma mesinha de madeira entalhada antiga que servia de criado mudo e um banheiro de serviço que ficava do lado de fora.
Tudo ali era simples demais, rústico demais, assim como o povo que habitava a ilha, onde Elisa,a jovem de pele bronzeada pelo sol, no auge da sua juventude com vinte e quatro anos, voltava a viver depois de ter terminado a faculdade de pedagogia e retornado a ilha. Voltou para o vilarejo após a morte do pai, um dos mais velhos pescadores daquele lugar,conhecido como um velho lobo do mar, como era chamado pelos companheiros de jornada. Tinha muitas recordações dali, onde passou uma infância muito feliz, mesmo sem a presença da mãe que falecera ao dar à luz, o irmão caçula que nasceu prematuro e sobreviveu apenas por uma semana. Sentia-se tranqüila e feliz por ter retornado a ilha e aceitado o emprego de professora na escola da aldeia. Havia colocado sua modesta casa a disposição de Anny, que preferiu mesmo ficar nas acomodações do quartinho na escola sob a alegação de que ficaria escrevendo até tarde e não queria causar nenhum incômodo.
Elisa então propôs que ao menos as refeições fossem feitas em sua casa, já que a aldeia não dispunha de pensão , hotel, ou restaurantes, exceto uma birosca onde os pescadores ficavam jogando cartas e bebendo cachaça pra matar o tempo, portanto não recomendado para moças.
Por alguma razão que Anny desconhecia, sempre ficava encabulada na presença de Elisa que era tão espontânea e cheia de vida.Falava , gesticulava e ria às gargalhadas e mostrava ser dona do sorriso mais lindo que já tinha visto na vida.Tinha um jeito cativante e quando sorria formava um par de covinhas em cada lado do rosto.Havia sido dada a largada sinalizando o inicio de uma grande amizade. Pela manhã, enquanto Elisa lecionava para as crianças do povoado, Anny percorria a ilha, tirando fotos, anotando dados no seu caderninho, entrevistando um ou outro morador, colhendo informações para sua matéria.Ficaria por um mês inteiro na ilha e quando concluísse mais este trabalho, tinha já pronto seu projeto de férias. Queria dar uma esticada pela Europa.Queria retornar a Paris e rever velhos amigos que fizera por lá por ocasião de sua passagem na cidade luz quando estudante. Na hora do almoço as duas se encontravam e a conversa fluía agradável e tranqüila.
Pouco a pouco, Elisa foi conhecendo mais sobre as atividades de Anny que parecia levar uma vida agitada, meio cigana, viajando de um lado ao outro do mundo sempre correndo atrás de noticias. Uma vida completamente diferente da sua, que era pacata e muito ao contrario, nunca trazia nada de novo. Era sempre as mesmas coisas, dia comum no meio de pessoas comuns sem nada de novo no front. Mas ela gostava dessa calmaria, dessa paz. Não sentia falta de nada, não tinha namorados, aliás, na ilha não tinha lá muita opção. Os jovens quando passavam para o ensino médio, sempre eram levados para a casa de algum parente na cidade onde concluiriam os estudos , como ela fez.De lá nunca mais voltavam. Por lá mesmo arrumavam oportunidades de trabalho iam pra cidade grande, casavam e por lá mesmo ficavam. Começavam uma nova vida, com outras histórias. Um ou outro, voltava para buscar os pais, e nunca mais retornavam. Elisa nunca fora do tipo namoradeira, era sempre quieta, tímida e chamava a atenção pela sua beleza típica. Os garotos atordoavam-na com propostas de namoro, alguns chegavam a apostar quem seria o primeiro a conseguir derrubar o muro invisível que ela erguia diante de cada um deles com suas tentativas. Sempre com muito bom humor, ela os deixava vermelhos de vergonha com as respostas negativas e inteligentes que disparava contra eles.
Na faculdade era muito assediada e delicadamente sempre dava um jeito de escapar. Dizia aos rapazes que queria viver um grande amor e que um dia esse grande amor viria do mar. Os colegas da faculdade gargalhavam do seu romantismo fora de moda e diziam que o seu destino então era ser mulher de pescador, ter meia dúzia de filhos e terminar seus dias num fim de mundo qualquer. Ela entrava na brincadeira e ria tanto quanto eles de si mesma, mas não acreditava nisso.Gostava de crianças, mas não pensava em filhos.Pensava ser professora. E foi.
Assim que se formou, surgiu a vaga na ilha. A antiga professora se aposentou e mudou-se para a cidade grande para junto das filhas já casadas que se foram na adolescência e nunca mais retornaram.Ia agora curtir os netos com quem pouco ficara.Era a vez de Elisa ocupar o posto até que um dia também se fosse daquele lugar como acontecia com todos que por um motivo ou outro ali chegavam. Os dias foram passando e amizade que havia nascido entre elas também ficava cada vez mais forte. Descobriam afinidades culturais, pontos de vista comum, pouca discordância em relação a vida, e isso levava horas de conversa por muitas madrugadas afora.
Anny era um pouco mais velha, estaria completando no próximo mês trinta anos. Já se dizia uma balzaquiana. Havia tido alguns relacionamentos, se envolvera com um homem casado e o resultado foi uma grande frustração amorosa. Não que estivesse muito apaixonada, mas a mentira havia deixado suas marcas, mágoas e se sentiu muito ferida com o fato de ter sido usada e enganada.Nunca pensou em ser a causadora de uma separação.Tinha um grande respeito pela família.Achava ser o laço mais importante.E sem saber , quase destruiu uma por causa de um mulherengo covarde. Não se perdoava por isto, justo ela que era vivida, tão esperta, justa e de repente se viu assim no meio de uma briga amorosa que envolvia mais de uma pessoa. Queria esquecer o episódio. Por esta razão mergulhou de cabeça no trabalho. O trabalho é uma benção pra curar qualquer ferida. E ao lado de Elisa, quase nem se lembrava mais que tinha aceitado este trabalho, exatamente porque queria ficar longe , isolada de qualquer tipo de aborrecimento. Queria trabalhar em paz , e estava quase conseguindo, se não fossem aqueles olhos brilhantes cor de mel, cabelos dourados como raios de sol em manhãs de primavera, de belos cachos caídos displicentemente sobre os ombros nus como uma imensa cascata. Anny sorvia com prazer cada palavra que saia da boca de Elisa em forma de estórias de pescador contadas por ela que relembrava e recontava as estórias do pai que ouvira por tantas vezes quando ainda menina.
As gargalhadas surgiam soltas, vindo do nada. Elisa em tom teatral interpretava as histórias como fazia quando as contava para crianças na sala de aula. Muito devagar, sem que desse conta, uma forte atração foi surgindo, mas nem Elisa se dava conta disso e nem Anny ia admitir que a companhia era boa uma para a outra.Ninguém se dava conta da proximidade e do perigo que teimava em acender o fogo brando que tanto uma como a outra mantinha lá no intimo do seu ser.
Três semanas já havia passado.Para Anny ainda restava mais uma de trabalho e pronto. Finalizando esta tarefa, Anny iria embora da ilha com a missão cumprida. Sem entender porquê, de repente sentiu uma tristeza infinita por ter que deixar aquele lugar. Ficou melancólica. Um mal estar se instalou dentro do peito e um grande desconforto começou a incomodar. Andando de um lado para o outro na beira da praia, sem uma viva alma ali que pudesse acalmar suas inquietações, se sentiu triste e esperou a hora do almoço para desabafar com a amiga.
- Elisa...tenho que admitir que vou sentir muito a sua falta quando eu for embora. E este dia já está quase chegando. Aprendi a gostar de você, deste lugar...Adorei estar aqui com você, ouvir suas histórias...Voce me ensinou muito, principalmente porque conhece este lugar como ninguém. Me ajudou demais no meu trabalho e a superar uns problemas de ordem pessoal. Se eu ganhar um prêmio com este trabalho, vou dedicá-lo a você.
- Eu também sentirei sua falta, minha querida...Apreciei muito sua companhia, foi bom demais ter alguém aqui com outra cultura, vindo de um mundo diferente deste , com histórias pra contar. Não sei explicar este misto de emoções estranhas que chega a incomodar, mas só de pensar que você vai embora logo, me dá tristeza, pânico, e uma sensação de perda que chega a doer.
- Também não sei explicar isto , minha linda. E olha que já escrevi sobre tantas emoções...mas esta está me deixando sem saber o que pensar...
- Escute, Anny... Voce só vai ficar mais uma semana, não é? Então porque não fica aqui em casa até o dia de ir embora? Pode ficar no quarto que era de papai. Lá tem uma escrivaninha pra você trabalhar e assim a gente fica mais próxima esta semana pra conversar mais e aproveitar estes dias que faltam. O que você acha?
- Acho uma boa idéia se não for invadir seu espaço... Ta bom... você me venceu...Não tenho mais forças pra discordar de você, Elisa...Deixa eu te ajudar com a louça...
Elisa havia se levantado da mesa e colocado os prato retirados da mesa na pia da cozinha. Anny havia retirado os copos e se dirigia para a cozinha.Elisa ao virar-se para retornar à mesa chocou-se de frente com Anny que deixava cair os copos que trazia nas mãos. Foi tudo pro chão. Num momento de reflexo ela se agachou pra juntar os copos espatifados no mesmo instante em que Elisa fazia o mesmo. Não disseram nenhuma palavra. Ficaram ali, paradas, mudas, com o coração querendo saltar do peito. Ficaram em silencio por minutos que pareciam horas. Anny tomou as mãos de Elisa entre as suas. Estavam geladas e trêmulas. Não podia mais resistir. Foi um desejo incontrolável mais forte do que ela.
- Me perdoe por isto que vou fazer.
E sem que houvesse tempo para que Elisa reagisse, Anny a trouxe lentamente para junto de si como se tivesse enfeitiçada e buscou-lhe a boca, a principio lentamente como se estivesse em câmera lenta , até se tornar ávida como se quisesse sugar a sua alma através desse beijo.Para Elisa, o mundo parecia girar , e em seu giro sentia-se tonta de prazer a cada toque de Anny correspondendo com intensidade a cada carícia recebida.Ficaram ali trocando beijos molhados enquanto a louça esperava na pia e os cacos de vidro dos copos permaneciam no mesmo lugar.
- Não pode ser...Não pode ser! O que aconteceu com a gente? Nunca tive desejo por mulheres, isso é uma loucura, Elisa. Me explica. Não entendo este sentimento por você.Nunca senti isto por ninguém, esse desejo louco...
- Nem eu Anny...Nem eu...Estou tão confusa como você. Mas admito que tenho pensado demais em você, em nós. E estou apavorada. Nunca pensei que comigo, isto fosse acontecer. Quando eu estava na faculdade, havia uma amiga minha que tinha uma namorada. Nunca fui preconceituosa, mas jamais pude imaginar que um dia eu viveria esta experiência, que aconteceria comigo.Estou me sentido estranhamente excitada e não vou negar que estou emocionada,trêmula, que minha pele gostou de ser tocada e acariciada por você. Mas não sei o que fazer, nem por onde começar, só sei que não quero abrir mão do prazer que estou sentindo. Nem quero pensar no resto do que pode acontecer se eu ficar aqui agora diante de você.
-O que vai acontecer, minha linda, nós duas já sabemos.E queremos que isto aconteça... Já sabíamos disso desde quando nos vimos pela primeira vez lá na praia quando cheguei naquele cargueiro. Parece que estava escrito nas estrelas. Eu que já andei tanto por este mundo de Deus, só agora percebo que não quero ir a mais lugar nenhum. Minha busca termina aqui, com você.
Segurou forte as mãos de Elisa e ajudou-a a se levantar.Afastou-lhe as mechas douradas da face e buscou novamente seus lábios, agora já semi abertos,como se já estivesse preparada para receber a língua invasora a vasculhar todo o céu da boca de forma suave ate enroscar a língua da companheira, sentindo seu gosto por inteiro. E sem solta-la, foi empurrando-a lentamente em direção ao quarto. As roupas já se tornavam incômodas e iam ficando perdidas pelo caminho desenhando uma trilha que ia finalizar aquele desejo contido.Os corpos pareciam pegar fogo. A respiração cada vez mais ofegante era intensificada pela fome de amor que se manifestava e brotava com força total. Nem Elisa, nem Anny jamais haviam feito amor com uma mulher.Elas estavam ali, juntas, se tocando, se descobrindo e se mostrando , se doando uma a outra.Era a primeira vez que o amor explodia dentro delas de forma intensa, sem reservas e se entregavam sem medo.Cada uma descobrindo na outra o que mais gostava. E ficaram assim a tarde toda, amando em silencio, com medo de que as palavras pudessem quebrar a magia e o encantamento desses corpos carentes de afeto abraçados , molhados de suor e tão iguais, sedentos de amor. Anoiteceu e elas insistiram pela madrugada afora a fazer amor como se não o houvesse um amanhã, ou que o dia seguinte pudesse ser uma grande ameaça e pudesse separá-las. Como poderiam uma viver sem a outra agora? Estavam exaustas de tanto dar e receber amor, e saciada a fome desse sentimento, adormeceram abraçadas, mergulhadas no sono profundo depois de tantas horas seguidas de intensa descoberta dessa louca paixão. Desse dia em diante, Anny se mudou de vez para o quarto de Elisa que passou a acompanhar a jornalista nos arredores da ilha para as fotos que fazia entre um beijo e outro roubado às escondidas quando ninguém olhava. Ou quando andava pelos rochedos na praia deserta onde ninguém aparecia, arriscavam a fazer amor na areia, escondidas entre as pedras na beira da praia.Tinham somente o céu e o mar como testemunhas daquele sentimento que nascia forte como as ondas do mar, sempre com receio de que de longe algum pescador pudesse estar observando. Da mesma forma, na parte da manhã, enquanto lecionava, Anny assistia as aulas ministradas por Elisa para a garotada da ilha. Era uma boa forma de ficar perto da namorada, e bem discretamente sentava no fundo da sala e ficava olhando a professorinha encantada com seu jeito, com sua simplicidade. Em alguns momentos enviava beijos soprados na palma da mão. Elisa devolvia sorrisos e significativas piscadas. Quando retornavam a casa, vinham de mãos dadas, poucas palavras e eram só amor e carinho.Olhares silenciosos aumentavam ainda mais o desejo que nutriam uma pela outra. O silencio indicava o medo de tocar no assunto mais difícil, ninguém queria começar, mas tinha que ser dito. Era necessário falar , planejar como seria a vida dali pra frente.. Anny sentou se numa grande almofada enquanto Elisa veio aninhar-se em seu colo parecendo uma gatinha de sofá.
-Anny... como será nossa vida agora? Daqui a dois dias você vai embora...Vai voltar pra cidade...
- Sim... vou é claro! Mas vou voltar. Só vou resolver algumas pendências profissionais, do tipo: não quero mais ficar viajando por aí sem ter um lugar certo pra ficar. Quero permanecer fixa na cidade, fazendo matérias locais ou da região, mas quero voltar pra casa todos os dias e ficar ao lado da mulher que estou amando, entende? Eu já andava cansada demais para ficar um lado para o outro, cada dia dormindo em um lugar diferente. Agora não. Agora quero ficar com você, acordar do seu lado com seus beijos. Quero viver em um lar. E você? Viria comigo ? Eu tenho um apartamento na cidade e podemos morar lá, juntas, se você me quiser como eu te quero. Podemos arranjar um escola na cidade para você dar suas aulas. Deixaria esta ilha maravilhosa para viver comigo na cidade? Podemos voltar sempre nas férias, finais de semana prolongados, feriados... o que me diz?
-Digo que com você vou de olhos fechados até o fim do mundo...
E um longo beijo selou a promessa. Eram cúmplices.
- Amanhã vou fazer as fotos na ilha vizinha. É o meu último trabalho. Um dos pescadores vai me levar até lá de barco e vou ficar o dia todo, mas vou ficar morrendo de saudade. Prometo logo mais à noite te recompensar muito bem pela minha ausência.
Elisa entendeu a insinuação e abriu um amplo sorriso que terminou na boca de Anny.
-Então..., acho melhor começar agora a me dar a recompensa por causa desta ausência...
Brincou cheia de malicia.
E sem dizer nada, empurrou Anny de volta para a cama e foi desabotoando lhe a blusa, deixou a mostra os belos seios da jornalista que propositalmente estava sem sutiã. Pareciam dois pêssegos olhando pra lua.Ela os olhava e roçava com língua os bicos entumescidos de prazer. Beijava-lhe o corpo todo descendo e subindo enquanto a companheira se arrepiava e contorcia de prazer. Lentamente, com os dentes foi descendo a calcinha.Anny já não suportava mais a tortura.De repente, já quase sem forças, vira Elisa e começa a repetir o mesmo jogo, peça por peça. Ela já quase débil murmura no ouvido da amada:
- Anny..me ame agora de novo. Não resisto mais. Me entrego inteira pra você.
-Elisa...não esqueça isto nunca.Eu te amo, e minha vida agora em um novo sentido: você, meu amor.
- Não esquecerei , amada minha. Não esquecerei nunca. Porque demorou tanto a aparecer na minha vida? Eu te esperei tanto... Sou sua... sua...
E amaram de novo incansavelmente. Foram dormir de mãos dadas, como se tivessem medo que alguém as separassem. Os mistérios do amor...
Na manhã seguinte, ainda quase madrugada, antes do sol nascer, Elisa já havia acordado.Preparou o café, arrumou uma bandeja com flores e foi acordar a amada. Anny, ainda meio sonolenta esticou o braço para o travesseiro do lado procurando a companheira. Não sentindo a mulher amada ao lado , abriu os olhos ainda meio sonada e teve a impressão de que via um anjo na penumbra do quarto, de camisola esvoaçante deslizando no meio de seu sonho.Mas não era sonho. Era real.. Levantou e tomou a bandeja das mãos de Elisa e depositou na mesa de cabeceira. O café que ela queria para despertar estava ali, bem de pé na sua frente pedindo pra ser amada. E ela entendeu este pedido mudo, feito de gestos e de silêncio. Parecia uma despedida tamanho desespero com que faziam amor. Tomaram banho juntas e novamente embaixo do chuveiro se entregavam uma a outra como se seus corpos se recusassem a ficarem separados.
Após o café, quando o sol já dava sinal e o ar da sua graça emitindo raios dourados que ela fez questão de registrar com sua câmera assim como sorriso de Elisa ,acenou, entrou no barco e partiu para a ilha vizinha com a finalidade de concluir seu trabalho. Logo atrás, vieram os pescadores a jogar seus barcos na água para mais um dia de luta de no mar.
Elisa voltou pra casa, depois a foi a escola e olhava ansiosamente o relógio como se quisesse apressar a hora de ir pra casa e esperar por sua amada. Estava cansada. Riu ao relembrar a intensa noite de amor. Nunca tinha vivido isto antes. Que sensação de bem estar! Se sentia leve... muito leve... De repente sentiu um aperto no coração... Queria que Anny não tivesse ido trabalhar. Queria ter faltado a aula.Queria ficar do lado de Anny o tempo todo.Deixou a casa arrumada e saiu caminhando a passos lentos em direção a escola, para o turno da tarde.Nem quisera almoçar. Havia feito um lanche rápido. Tinha um sorrio desenhado no rosto. Estava feliz. Era uma mulher realizada. Ficava imaginado como podia ser tão feliz. Começava e ter planos para um futuro compartilhado com uma outra pessoa. E o que diriam então se alguém soubesse que o motivo daquela felicidade era uma mulher? Que loucura! Sim...pretendia deixar a ilha e iria viver em um lugar onde não era conhecida pra manter melhor sua privacidade. Só queria ser feliz, e tinha certeza de que esta felicidade tinha um nome: Anny, a mulher da sua vida, o amor que viera do mar, quem diria? Começou a cantarolar e rir baixinho. Que importava? Não tinha satisfações a dar a ninguém. Era livre. Retornou à escola para o segundo período.Tarde longa.
O dia estava custando muito a passar. Parecia que o relógio tinha parado.Logo após o almoço tempo começou a mudar.Na sala de aula , Elisa começou a ficar inquieta.Agitada ,dispensou os alunos pra voltarem às suas casas. O sol se escondeu e começou a ventar. Parecia que o furacão vinha do mar. Tudo indicava um violenta tempestade. Elisa começou a ficar muito preocupada. Queria que Anny ficasse atenta ao tempo, que viesse logo, ou que percebendo a mudança de tempo, que permanecesse na ilha até que a ameaça se dissipasse. Quando estava apreensiva, tinha o habito de verbalizar os pensamentos em voz alta.Seu pai sempre lhe dizia para tomar cuidado com as palavras proferidas, pois elas tinham uma força muito grande e na terra tem sempre um anjo de passagem que pode ouvir e interferir , portanto que tivesse muito cuidado com as palavras. O temporal continuava a escurecer o céu ameaçando derramar um verdadeiro dilúvio. Elisa já estava desesperada no porto olhando os barcos que haviam saído pela manhã e retornavam as pressas. No cais, umas poucas mulheres aguardavam em lágrimas a chegada de seus maridos... E a chuva começou forte com rajadas de vento. Ela também estava ali. Desesperada esperando a sua mulher amada. O vento agitava as águas do mar em gigantescas ondas. E ela não saia dali, sentido o gosto salgado das lágrimas misturadas com a chuva e a água do mar. O desespero tomou conta de seu coração, mil pensamentos ruins atordoavam sua cabeça. A angústia apoderou do seu peito de tal forma que não resistindo mais, caiu de joelhos olhando para o alto e gritou em prantos:
- Meu Deus... Me ajuda...Eu faria qualquer coisa para que nada de ruim acontecesse com ela.
E no meio da tormenta, vindo do mar misturada ao barulho da chuva entre raios e trovões, uma voz grave se fez ouvir:
- Faria qualquer coisa mesmo?
- Sim... Respondeu ela meio atordoada sem saber ao certo o que falava tentando identificar de onde vinha esta voz.
- Então... entra no mar. Dizia a voz que se misturava com o barulho do trovão, mas que parecia ecoar dentro dos seus ouvidos .
Ecoava ainda a voz em sua mente:
- Entra no mar... Entra no mar...
Já estava gelada de frio, e a chuva castigava em fortes rajadas de vento. E aumentava cada vez mais enquanto lentamente Elisa ia entrando no mar. Não ouvia um dos pescadores que ficara para traz e gritava para ela que se afastasse das águas... Acenava desesperadamente, mas não podia impedi-la. Parecia hipnotizada e não ouvia nada, nem via ninguém. Só ouvia a voz que dizia: Entra no mar. E foi entrando, primeiro sentiu os pés gelados, depois as pernas e em seguida o corpo todo parecia congelado mergulhado nas águas. Por alguns minutos que pareciam uma eternidade , tudo ficou escuro.Sentiu medo, muito medo.Chamou inúmeras vezes por Anny e tinha como resposta, somente o silêncio.Andara por uma rua escura e de repente tudo ficou claro. Não sabia quanto tempo havia passado, mas o temporal havia terminado e o sol voltava a brilhar radiante. Só se lembrava de que chovia, havia um temporal e que ela estava no cais esperando por Anny. Sabia que estava na ilha, disso não tinha a menor dúvida. Mas onde estaria Anny? Mas como viera parar ali.? Tudo era igual a sua ilha, mas pessoas eram diferentes, não eram as mesmas que ela conhecia. Tudo era tão calmo, as pessoas nem reparavam nela. Cada um envolvido com seus afazeres. Todos usavam umas roupas esquisitas, brancas e largas. Eram diferentes da sua aldeia. Se lembrava vagamente de que quando estava no cais usava uma calça comprida de sarja e uma camisa jeans amarrada na cintura acima do cós. Se lembrava que as mangas estavam dobradas na altura dos cotovelos. Porque ela não estava então vestida como todos ali? Qual era o mistério de tudo? Definitivamente ela destoava do lugar. Tentava se comunicar mas ninguém parecia lhe ouvir. Ignoravam-na por completo como se ela não existisse. Uns vinham devagar e outro passavam apressados.
Já estava cansada de andar de um lado para o outro, não reconhecia ninguém. Não eram pessoas da ilha que ela conhecia. Onde estava? Esta era a pergunta que ela fazia sem entender.
Parou diante de uma loja que parecia vender produtos esotéricos para perguntar a moça que supostamente seria a balconista.
- Desculpe... estou procurando por uma moça que veio pra ilha hoje de manhã fazer umas fotos.Ela é jornalista, mais ou menos da minha altura, morena de olhos amendoados. Voce a viu por aqui?
- Sim... vi. Passou por aqui, tirou uma fotos e se foi.
- Disse pra onde ia? – Perguntou aflita.
- Sim ... disse que ia tirar fotos no moinho.
Elisa se despediu e foi até o moinho seguindo a indicação da balconista. Lá chegando encontrou somente o rapaz encarregado da limpeza do lugar.
- Hei?....Estou procurando uma moça que veio tirar umas fotos aqui. Ela morena , quase da minha altura, olhos amendoados, cabelos nos ombros... por acaso você a viu?
- Sim senhora... eu vi... mas ela já foi embora. Tirou umas fotos e se foi. Faz mais de uma hora. Disse que ia fotografar as cachoeiras.
Elisa já então tão cansada se dirigiu a cachoeira. Quando estava bem próxima já na entrada , encontrou uma senhora idosa que saia de lá com passos lentos trazendo um cesto nos braços.
- Perdão gentil senhora... estou procurando uma moça que veio tirar umas fotos aqui na cachoeira.A senhora por acaso viu alguém ? Ela é uma moça muito bonita simpática , morena...Me disseram que ela está lá embaixo na cachoeira. Por acaso ela ainda está lá?
- Não... ela esteve aqui sim moça... mas já foi faz mais de uma hora. Foi embora dizendo que ia na capela.
Elisa estava exausta de tanto andar. Havia percorrido quase toda a ilha procurando por Anny e em todo lugar que perguntava, a reposta era sempre a mesma:
- Sim ... ela esteve aqui, mas já foi embora há mais de uma hora.
Andou por mais um tempo até encontrar a capela. Parou... olhou...e ao aproximar , notou um velhinho de barbas brancas concentrado na leitura que tinha nas mãos. Elisa chegou mais perto já ofegante de cansaço.
- Meu bom senhor... Estou muito cansada e quero voltar pra casa. Estou andando há horas procurando uma moça que veio aqui tirar umas fotos desta ilha. Não consigo encontrá-la depois do temporal. Seu nome é Anny . Sempre que chego a um lugar e pergunto por ela, me falam que ela esteve aqui e já foi embora. O senhor é minha última esperança...Por favor, o senhor a viu por aqui? Não agüento mais procurar por ela.
- Sim... respondeu o velhinho sem dar muita importância para o desespero de Elisa. E sem levantar os olhos da leitura respondeu calmamente:
- Ela já foi embora.
- Mas como??? Já foi embora?? Foi pra onde???
- Voltou de novo lá pra ilha de onde veio. Parece que uma pessoa lá deu a vida por ela. Quando alguém vem pra cá, outro alguém tem que ir pra lá. É uma troca.
Foi então que Elisa pôde entender o significado de tudo.No lugar onde estava agora, não ia poder encontrar Anny novamente. Não ia mais poder sentir o calor do seu corpo, dos seus beijos nunca mais. E aí então chorou...
Chorou copiosamente a saudade do seu grande, breve , mas eterno amor...
Seu mundo agora, já não era mais o mesmo mundo de Anny.Estavam separadas temporariamente por alguma razão que somente agora ela iria descobrir e entender.
Se esforçaria pra aceitar e entender com clareza para eu um dia pudesse encontrá-la de novo em outra dimensão. Tinha certeza de que ela era sua alma gêmea. Levaria para sempre junto com a saudade eterna por todas as dimensões do universo, a esperança, e a fé ,de que com certeza haveria um novo reencontro em uma outra época, um outro tempo à frente. Que haveria uma nova chance.
Uma imensa claridade se abriu à sua frente e ela caminhou firme em sua direção. Era hora de voltar pra casa e esperar por seu amor, um dia. Era hora de cumprir o trato. E se foi no meio da luz, certa de que uma vez ou outra teria permissão para voltar e rever Anny. E ela com certeza saberia quando Elisa estivesse presente. Haveria de sentir a vibração da sua energia e do seu amor. Tinha certeza disso.
Mais um dia chegava ao fim e há muito o sol já havia se retirado para que a noite se apresentasse com suas estrelas cheia de brilho e luz.
Anny repetia o mesmo ritual desde que a companheira se fora para sempre. Levantava da pedra, jogava uma flor no mar para Elisa e um beijo para uma das estrelas que começavam a aparecer no céu. Seu pensamento ia para sua amada, a garota da ilha que ganhou seu coração.
- Boa noite meu amor...não sei em qual estrela você foi morar, mas o que sei com certeza, é que em uma delas eu vou te encontrar.Espere por mim, minha linda.Um beijo azul
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By Zildinha Alckmin