Um dia escrito
O dia amanheceu nublado e frio, como qualquer dia chuvoso, ele acaba de acordar com o rosto amarrotado e com os olhos ainda entreabertos se olha no espelho do banheiro, molha o rosto e diz “hoje será um dia daqueles”, veste sua melhor roupa, abre a porta e começa o seu dia na expectativa do desconhecido, afinal nunca acreditou em destino, para ele a vida é como um filme de suspense as vezes assustadora.
Duas ruas a frente acontece o improvável, ele para perplexo diante de uma cena das mais simples, viu um pássaro pousando em um galho e aos poucos usando alguns retalhos de outros galhos montar um maravilhoso ninho. Espantado com a engenhosidade do pássaro se pois a pensar em sua própria vida, anos sozinho morando em sua espelunca que costuma chamar de “meu cafofo”, a espera que algo simplesmente aconteça como se a felicidade e a realização pessoal caísse do céu, e olhando aquela cena singela e puritana lhe da conta de algo, que até agora não havia edificado nada em sua vida.
Até aquele certo momento nunca tinha compreendido o significado daquela frase de que todo mundo costuma dizer que para ser homem você precisaria “ler um livro, plantar uma árvore e fazer um filho”. Descobriu que “ler um livro” é simples, mas nunca achou importância ou interesse algum em literatura, e que nunca havia plantado nada a não ser um pé de feijão para a aula de ciências no primário, e que o único filho que possuía era um peixe mal alimentado em seu quarto. “Ótimo então não sou um homem” - pensou o rapaz deprimido em seus próprios pensamentos. Toda essa vida vivendo por viver e esquecendo-se de aproveitar a dádiva que possuía.
Criou coragem e disse a si mesmo “hoje não será um dia daqueles, hoje será aquele grande dia”. Decidiu dedicar o resto o seu dia para compensar toda a sua vida. Correu para a primeira biblioteca e escolheu o seu primeiro livro para ler, “nossa que complicado” - falava para ele mesmo - “ler a Playboy e bem mais fácil”, viu um livro que lhe chamou atenção “Guerra e paz de Leon Tolstoi”, o livro contava a história de um jovem que não queria ir para guerra por estar apaixonado, mas a mocinha se casa com outro no fim. Impactante ele se volta para seu interior e se emociona, “é incrível todo esse tempo assistindo programas sem propósito em minha TV, fechado em meu quarto, enquanto o mundo estava trancado nesses livros”, era de se imaginar tamanha sua empolgação afinal lendo suas 1200 páginas em tão pouco tempo.
No fim da tarde pensou “preciso plantar minha árvore”. Correu para primeira daquelas casas de produtos agropecuários louco atrás de uma planta. Foi pensando, “nossa mesmo que eu a plante é provável que na altura do campeonato eu não a veja adulta”, esquecendo que o mais difícil seria a terceira, um homem que nunca ficara mais dois dias com a mesma mulher, como poderia um homem desde constituir uma família?
O Coitado nem imaginava que aquele homem desacreditado em destino que o próprio já mexia seus pauzinhos. Chegando a loja se deparou com outra cena que o fizera perder de vez o fôlego. A mais linda de todas as jovens a vendedora da loja já estava fechando a última porta quando o rapaz meio sem jeito a pergunta se poderia atendê-lo, ele estava tão abestalhado que não percebeu que a jovem havia retardado o fechamento da última porta ao vê-lo correndo ao longe, a jovem também havia se interessado pelo rapaz - “Árvore? O máximo que pode comprar aqui é uma semente de alface!” - “eu nem sabia que alface tinha semente”, pensou o rapaz. O que fazer afinal ele vinha convicto de plantar uma árvore e não uma alface, “vamos até o parque?” disse a menina, o rapaz ficou meio abobalhado e não soube encontrar resposta para a pergunta, “podemos encontrar alguma semente por lá. Eu te ajudo a plantar”, respirou um pouco aliviado ele havia entendido errado.
Na caminhada no parque percebeu que tinham muitas coisas em comum, torciam pelo mesmo time, gostavam das mesmas comidas e até de dormir até mais tarde. Ele citou o último e único livro que havia lido até aquele momento que por coincidência ou não era o livro preferido da linda jovem. Ela aponta para ele e grita “uma semente”, feliz o rapaz corre até a direção da menina que com a semente na mão mostrando para ele “de qual árvore será?” diz a jovem olhando para cima observando a copa das árvoes, para o rapaz pouco importa desde que a plante junto com ela.
Os dois se abaixam e cavam uma pequena covinha para colocar a semente encontrada. E entre troca de olhares se beijam. A noite pareceu curta para o momento de grande descoberta do rapaz. Naquele momento lembrou-se de tudo que passou naquele dia, desde o pássaro até aquela jovem. E percebeu que tudo o que ele faltava para se tornar um homem de verdade, estava no ninho que pássaro criava o lar, a vida, a companhia, e encontrava tudo que precisava naquele instante que mais parecia ter sido escrito especialmente para ele.
Se destino existe ele não consegue admitir ainda. Mas que naquele dia havia uma história especial para ele, isso não pode negar.