A MUDANÇA (D-Relíquias de uma vida)

RELÍQUIAS DE UMA VIDA - CAP IV

A MUDANÇA

A Mel acabou por fazer logo sua mudança e instalar no quartinho da dona Iolanda.

Nos primeiros dias ela estranhou um pouco a distância que tinha que percorrer até a faculdade, mas logo se acostumou.

Não era de todo ruim, apesar de mais distante da faculdade, para pegar o ônibus para sua casa, ficou mais fácil, pois como a casa da dona Iolanda ficava no extremo da entrada da cidade, os ônibus faziam uma parada logo ali próximo, antes de chegar ao terminal rodoviário.

Mel não demorou muito a se adaptar ao novo “lar” e também com as exigências da dona Iolanda, etc. Estava se sentindo realmente feliz ali, apesar de não demonstrar, se sentia mais feliz ainda por estar perto do amigo novamente, sentia-se mais protegida.

O Tom também estava muito contente por tê-la ali perto dele e assim poder cuidar dela.

Mesmo que os dois não tivessem propositadamente buscado isso, a vida havia permitido que eles viessem a morar tão próximo, quase que na mesma casa. Não entendiam direito que sentimento era aquele, nem como tudo iria acabar quando terminassem os estudos. Mas sentiam mais felizes agora, por estar perto um do outro.

Logo a Mel estava totalmente adaptada à nova morada e não só isso, todos também estavam adorando a nova companhia que chegou para dar mais vida àquela casa, pois a Mel era uma menina alegre, de sorriso franco.

Não demorou muito para que a dona Júlia logo se afeiçoasse a nova inquilina, como alguém da sua família, pois a Mel a tratava com carinho e ela, sempre vivendo sozinha, encontrou ali naqueles três estudantes, sentimentos de amizade e consideração porque todos eram boa gente.

O Tom acordava sempre cedinho, pois sua aula começa às 7:00 horas da manhã e ao passar pela janela do quartinho da Mel ele a chamava, dando leves batidas na janela para acordá-la e não perder a hora da faculdade, que começava um pouco mais tarde, às 7:30 horas. Ele tinha todo zelo com ela.

Nos finais de semana quando ela ia pra sua cidade, o Tom a acompanhava até o ponto do ônibus. Tanto no embarque, quanto na chegada. Normalmente na volta, o ônibus chegava sempre já um pouco tarde da noite, mas a Mel nem se preocupava muito com isso, pois sabia que o Tom estaria lá esperando por ela. E ele por sua vez, quase sempre, bem antes do horário previsto, já estava lá aposto.

Ela tinha a certeza de que ele a protegeria em toda e qualquer situação e por ser assim, se sentia amparada, cuidada.

Tom não compreendia direito que sentimento era aquele...tinha uma necessidade de protege-la, de cuidar dela e quando estava em sua companhia, ou como agora, com ela ali pertinho dele, não sentia falta de nada...pois ela lhe bastava...

O apartamentinho do Tom era muito simples, modesto, sem grande conforto, mas o bastante para ele e o Fred se sentirem felizes, como se estivessem no paraíso. Tinha uma geladeira, abastecida quase sempre com apenas água para beber; um fogão portátil, de duas bocas; uma cama beliche; um radinho AM; um gravador que funcionava à reboque, com cabo de tomada adaptado de um secador de cabelo, e como alto-falantes, uma caixa de som e um twitter suspenso em uma das paredes; duas mesinhas para estudo, duas luminárias de mesa, duas pranchetas para desenhos e dois tamboretes de madeira. Eram esses, os móveis e utensílios que compunham o apartamento. Se chegasse mais alguém, teriam que assentar nos degraus da escada que dava acesso ao quarto ou no portal da porta de entrada.

Já o quartinho da Mel era minúsculo, mal cabia a sua cama e um guarda-roupa pequeno, era um lugar singelo, mas aconchegante. Longe de ter o conforto que ela tinha em sua casa, porém, ela se sentia feliz assim mesmo.

A casa ficava bem recuada, o portão sempre trancado. A Mel costumava assim que chegava da rua, deixar suas coisas sobre uma mesinha de centro na sala, para depois levar para seu quarto, já que na maioria dos dias as aulas era nos dois períodos diurnos e assim o tempo ficava bastante corrido pra ela.

Certo dia porém, aconteceu um fato que desassossegou todo mundo: a bolsa da Mel sumiu...

Mas como, se ali não entrava ninguém estranho??? fato é, que a bolsa desapareceu.

A dona Iolanda ficou desapontada, porque o acontecido foi na casa dela, a Mel, desesperada, pois além dos documentos, havia ali, todo seu dinheiro para passar o mês e o Tom, não sabia o que fazer para ajudar.

Não se sabiam por onde começar à procura. Alguém na vizinhança sugeriu o nome de uma mulher, que com os seus poderes ocultos, poderia talvez revelar quem haveria de ter cometido o delito. E foram procurar a tal mulher. Ela fez o seu “trabalho” e revelou que havia sido uma moça que entrou e pegou a bolsa na sala. Mas apenas isso. Foi um desalento para todos, porque esperavam que a dita mulher pudesse dar alguma pista.

Tom por sua vez, tinha no seu íntimo que a bolsa seria encontrada. Ele, religioso que era, disse então para a Mel:

- Você tem muita fé em Deus??

- Sim. – respondeu ela.

Então ele pegou um livrinho de oração, já bem surrado pelo tempo, com suas folhas amarelas e até mesmo um pouco rasgada, pois advinha da sua avó, e que ele guardava com muito carinho, abriu numa página e disse:

- Faça essa oração aqui com bastante fervor... que você vai encontrar sua bolsa com o seu dinheiro dentro. A oração era o Ofício de Nossa Senhora.

-Ta bom, vou fazer – Disse ela.

Ele se despediu e voltou para o seu apartamentinho.

Os dias foram se passando sem novidades, não se falou mais no assunto. A Mel já conformada com desaparecimento da sua bolsa, já havia voltado à sua cidade e dado a má notícia à sua família.

Certo dia porém, ao passar defronte de uma loja, no caminho da faculdade uma atendente lhe parou na calçada e perguntou:

Por acaso você não perdeu um bolsa?

- Perdi – Respondeu Mel, surpreendida. Como aquela moça sabia daquilo.

- Pois eu sei quem a encontrou. Mora lá perto de casa, segundo a pessoa, estava jogada em um terreno baldio, perto do cemitério.

Nem acredito que vou ter minha bolsa de volta – disse Mel – Como farei pra encontrar essa pessoa?

- Se você quiser posso te levar lá amanhã na hora do almoço – Respondeu ela.

- Combinado, passo aqui às 11 horas.

E assim, no outro dia, ela foi com a tal moça da loja, e para sua felicidade, encontrou a bolsa com todos os documentos e, o mais fantástico: com o dinheiro também, com exceção de algumas moedas.

O Tom gostava de praticar esporte, apesar de não ter muito tempo. Deixava esse assunto para os finais de semana, especialmente no domingo quanto se juntava aos colegas nativos da cidade.

Naquele domingo, como era de costume, o ele saiu logo cedinho e se dirigiu para a quadra poliesportiva onde jogavam sempre. Nem bem começaram a jogar e o Tom levou um tombo e caiu desmaiado...

Os colegas ficaram apavorados e pegaram o primeiro carro que passava naquele instante, era um fusca e o levaram para o hospital.

Horas depois o Tom acordara...primeiramente achou aquele lugar esquisito...

viu algumas pessoas em sua volta, meio que distantes...aos poucos foi os reconhecendo, eram os seus colegas...O informaram que ele estava no hospital – o único da cidade, que havia levado um tombo e desmaiara. Ele não se lembrava de nada.

Devido ter levado um bate na cabeça, o médico informou que ele iria ficar internado, em observação.

Pediu um dos colegas para avisar dona Iolanda. Naquele final de semana coincidentemente a Mel tinha ido pra sua casa.

Assim que o ônibus parou, a Mel ao descer não viu o Tom como era o costume, ele sempre se postava defronte da porta. Olhos dos lados e não o viu. Ficou intrigada pois ele não era de se atrasar e logo começou a se preocupar. Ao chegar em casa a dona Iolanda foi logo lhe dando a notícia.

Eu sabia que deveria ter acontecido alguma coisa – disse ela.

Como a dona Iolanda disse que estava tudo bem, ele só havia ficado internado por uma questão de cuidado, ela ficou tranqüila.

No outro dia logo cedinho ele chegou e o tombo felizmente não teve maiores conseqüências.

Menino Sonhador
Enviado por Menino Sonhador em 30/10/2011
Reeditado em 31/07/2012
Código do texto: T3307668
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