TUDO POR AMOR

Todos os dias eu passava por ela e meus olhos quase escapavam das órbitas por espiar de canto sua beleza impecável.

Quando não havia mais ninguém na rua, eu diminuía o passo e assobiava uma canção qualquer, apenas para sentir o exsudar de seu maravilhoso perfume.

Garoto com quinze anos de idade, tudo se transformava em medos e vergonhas e o receio do flagrante no tão planejado ato congelava cada centímetro da minha espinha adolescente.

No terceiro dia de contemplação, entuasiasmado pelo fraco movimento da rua, meus passos rumaram em direção àquela que era a detentora da síntese de beleza aos meus olhos joviais.

Parei temeroso antes da metade do caminho. Se algum colega me visse naquela situação constrangedora, eu sofreria com as brincadeiras de mau gosto pelo resto da minha vida!

Ao contemplar novamente a beleza materializada alí, a poucos metros de distância, procurei em algum canto do porão do medo qualquer resquício de coragem. Levantei o queixo, e como um soldado real britânico marchei desvencilhando dos pensamentos qualquer possibilidade de ser visto,tentando amordaçar o medo que aos berros amolecia minhas pernas.

Contagem regressiva, faltam cinco passos e poucos batimentos para um enfarto. De soslaio, uma última averiguação do território e a derradeira chance de reunir coragem.

Três passos apenas. Acelerei, tomei impulso e pulei com o apoio das mãos em cima do pequeno muro. Rápido como um gato saquei uma tesoura da mochila e com precisão cirurgica cortei a bela rosa que tanto me atraíra. "Mamãe irá adorar este presente", murmurei realizado escondendo o objeto do crime e estampando um sorriso de realização.