ELA QUERIA SER AMADA


– Eu preciso me sentir amada da forma como sempre acreditei que seria.
Ele riu e olhou mais uma vez para a janela que mostrava o mar agitado. Ela procurou os olhos dele que se mostraram fugidios, mas uma vez presos nas palavras que ainda ecoavam na sala silenciosa, encontraram os dela.
– Mas você é...
Ela continuou fitando o rosto bem definido e os olhos que sorriam tristemente. No passado já haviam conversado sobre isso. Ela sempre repetia a mesma frase. Ele sempre respondia da mesma forma, e ambos se viam pressionados pelo assunto incompleto.
O barulho das ondas chegou até onde eles estavam. O vento de começo de verão tocou as cortinas leves e ela limpou os olhos que transbordavam.
– Eu não me sinto assim.
Ele respirou fundo e se concentrou em uma gaivota que mergulhava na espuma branca do mar. As mãos dela repousavam entre as suas e subitamente ele sentiu um desconforto muito grande.
– Eu não sei o que dizer – ele disse lentamente.
– Então não dá. Não tem como...
A gaivota tornou a voar no céu claro e ele sentiu um aperto na garganta.
– Por que tem que ser assim? Por que você sempre insiste em complicar as coisas? – ele perguntou calmamente.
Ela recolheu as mãos e cruzou os braços em um sinal típico de defesa.
– Eu não complico nada, apenas preciso ter certeza de que o que há entre nós é real.
– Mas é...
– Então diga.
Ele olhou os olhos grandes e claros arregalados à espera de uma resposta. Poderia dizer que a amava, que no momento era a coisa certa a fazer, que a desejava ou mesmo que precisava dela, mas ao invés disto, suspirou e ficou calado.
Ela secou os olhos e ficou em silêncio, olhando minúsculos grãos de areia que brincavam no chão.
– É melhor eu ir.
Ele não se moveu. Continuou em silêncio mas o sangue circulou mais rápido e o coração disparou.
– Fica...
– Por quê? – ela perguntou, surpresa e irritada ao mesmo tempo.
Ele buscou as mãos que ela escondia e sorriu com tranquilidade.
– Porque faz todo sentido que você fique.
Ela recolheu as mãos com pressa. Queria ouvir outra coisa. Queria escutar ele dizer apenas uma vez que a amava. Queria que ele dissesse com palavras e que estas palavras se transformassem em mensagens, em recados escritos... destes que ficam marcados e que centenas de pessoas podem ver, ler, compreender e acreditar que ela era realmente amada. Era isto que queria e não sinais, gestos ou sorrisos. Precisava ouvir e se não ouvia, nada fazia sentido.
Ele sorriu mais uma vez e os olhos tristes buscaram amparo nos dela que o olhavam com raiva.
– Acho que não temos mais nada a dizer um para o outro – ela disse com a voz carregada.
Ele buscou a boca que tentava segurar o choro, mas ela recuou e levantou com a decisão tomada.
– Eu vou facilitar para você, está bem?
Ele continuou em silêncio, a respiração acelerada, os músculos retraídos.
Ela ainda ficou parada alguns segundos à espera da resposta que não veio.
A porta bateu alguns minutos depois. Dela, só ficou na sala o cheiro do perfume que ele gostava.
Quando o sol ia alto e ele cansou de esperar que ela voltasse, levantou e foi trabalhar no jardim.
As flores preferidas dela, vermelhas, intensas, raras.
Na mesa arrumada para o jantar que não aconteceu, colocou com cuidado, meia dúzia das flores que plantou com carinho para ela.
Um gesto, um sorriso, um nó na garganta.
Naquela noite, em meio ao barulho do mar agitado, dormiu sozinho pensando que nunca seria bom com palavras.

 
Edeni Mendes da Rocha
Enviado por Edeni Mendes da Rocha em 25/08/2011
Reeditado em 16/11/2011
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