Você Acredita?
- Você acredita no amor? – Alguém havia me perguntado a algum tempo atrás. – Você acredita que exista uma possibilidade insana que alguém, algum dia, vá verdadeiramente amar você?
Fiquei por vários minutos pensativo, observando o resto de cada um que estava a minha frente e de qual tipo de resposta eles realmente queriam ouvir. Tudo, naquele momento, dependia de como eu me sentia a respeito de tal assunto, sempre o odiei, sempre achei um tanto complexo e, por vezes, vazio. Nunca havia uma explicação sólida para o fato, nunca havia lógica nesta questão e sempre não tinha certeza de quase nada.
- Se eu acredito no amor... – começo dizendo. – Uma característica humana tão intangível quanto à fé. Como se pode explicar algo que não conseguimos compreender totalmente? Como se chegar ao ponto certo daquilo que queremos descrever? Não sei se acredito ou desacredito no amor, eu sei que ele existe, por ventura, devo acreditar.
Uma moça com feições delicadas levantou a sua mão e esperou que a permitisse falar, quando a consenti assim começou.
- Uma vez perguntaram-me se eu acreditava em tal sentimento, e eu disse a pessoa que sim, que eu acredito verdadeiramente. Esta pessoa ficou completamente contrariada, disse que amor era fogo fátuo, que a intenção humana era, simplesmente, ter alguém para perpetuar a espécie e tudo era uma questão de provas, provas tais que ela tinha irrefutabilidade na ciência. Daí eu perguntou a ele o quanto ele acredita nisso... – Alguns segundos se passaram até que ela pudesse falar novamente. – E ele me disse, demais... eu acredito nisso como o ar que eu e você respiramos. Então disse a ele, da mesma medida em que você acredita que a ciência lhe dá todas as explicações, eu acredito que o amor existe. Não há como refutar os dois lados da mesma moeda, nunca há.
As palavras faladas por aquela moça foram profundas. Algumas pessoas ali começaram a falar enquanto outras ficavam completamente caladas. Para mim aquilo foi como um turbilhão de memórias de um momento que passou e, volta e minha, me assombra por entre os meus sonhos. A palavra paixão veio a minha mente e um risco branco tomou a minha alma.
- Uma das bases do relacionamento, - disse eu – é que tentamos encontrar alguém que nos complete, que nos proteja e nos garanta a felicidade, quem aqui nunca procurou alguém que não fosse apenas um espelho da sua própria imagem? Agimos assim, por vezes, com egoísmo, lutemos com todas as nossas forças e, por fim, nada conseguimos, porque não podemos forçar um sentimento aflorar assim do nada. – Continuei. – Sentimentos não crescem como plantas, sentimentos existem e numa cadeia de ações, tramas, emoções, olhares, toques, cheiro, um trocar de palavras, e mostrando a afeição do jeito que ela é, sem máscaras, sem meias-verdades, sem temores, é que, por ventura, algum sentimento venha a surgir disto tudo. A vida, por si só, não é complexa, somos nós, seres humanos que tornamos a vida dura e complexa.
O seu rosto perturbava a minha mente, mas não da maneira má de lembranças de um passado distante que eu tinha de esquecer, mas sim, nos momentos vagos de como tudo fosse um sonho. Sentia um mister de alegria e tristeza, pois o que vinha a minha mente era exatamente aquilo que eu tinha restado dela. O seu cheiro, o seu sabor, os seus olhos, o seu sorriso. Sabia que eu tinha certa obsessão e, por isso, talvez, por isso, tenha sido a causa de tudo, não consegui me aguentar, fui afobado, mas, agora, havia aprendido a minha lição. Cada um no seu devido tempo.
- Não podemos jamais forçar alguém a querer gostar da gente, isto é impossível, para não dizer improvável. Não escolhemos o que o coração dos outros vai pensar de nós, não podemos controlar ninguém, porque não existe controle, não existe um destino prefixado para cada um de nós. As pessoas não são bonecos que estão a nosso bel-prazer, para nos servir. Faça isso, e o que terá é uma relação fria e sem cor. As pessoas merecem abertura, as pessoas querem isto, as pessoas querem não se sentir acorrentadas a outras e sim de serem um complemento da vida de outras, mas tão importante quanto o próprio respirar. – Sorri para aqueles que estavam ali, que olhavam atentamente a tudo o que eu dizia, pelos deuses, o seu olhar... – Queremos ser importantes, mas não queremos egoísmo, queremos dar tudo, mas não precisamos de tudo de volta, queremos beijar e transmitir aquilo que sentimos através dele. Queremos abraçar e sentir o afago que isto nos faz em nossas almas. Queremos alguém a quem contemplar, admirar e ser único, queremos ser o que somos, sem egoísmos.
- Senhor. – Um homem de meia idade sentado um pouco mais a frente dos demais, veio interpelar – Acredito no que diz, e sei o que é criar expectativas. Sempre fui muito ansioso com tudo aquilo que eu faço e nos meus relacionamentos sempre criava uma expectativa fora do comum e sabia que isto era ilusório, irreal. Quanto mais alta a expectativa, maior ainda é a sua desilusão. A queda para o abismo quando a desilusão é real.
- Sempre tememos, obrigado. – Respondi de volta. – Sempre tememos que a pessoa a nossa frente jamais possa superar as nossas expectativas e, por isso, acabamos por criar camadas sobre camadas de uma pessoa irreal. De alguém que achamos que poderiam ser X enquanto ainda é Y, ou, até mesmo, de uma relação que é W enquanto ainda está no C. Os seres humanos, por natureza, vivem num mundo de ilusões que vai sendo aquebrantado de pouco em pouco, até chegar a dura e gélida realidade. Mas, por causa disso, devemos temer um relacionamento ou as pessoas? Não. Jamais. O que temos de fazer é nos focar naquilo que realmente deve ser apreciado. Sem ilusões e sem temores. Sem dúvidas e sem rancores.
Não havia notado como a chuva antes fraca e suave agora caia de uma forma continua e quase que devastadora do lado de fora do galpão onde estávamos. Era como se o tempo, como todo ele que o é, tivesse passado mais que o necessário. Mas quão pouco é este tempo quando o estamos usufruindo-o. Quanto mais passamos o tempo com alguém, menos sentimos o tempo de alongar. Não queremos segundos, nem minutos, nem horas, queremos dias, semanas, meses e que cada momento seja único e singular. E nunca estamos satisfeitos com isso.
Levantando-me para esticar um pouco as pernas, passo por meio das pessoas que estavam ali parados, cada qual escutando o que uma e outra pessoa queria dizer a respeito de relacionamentos e afins. Era uma boa terapia depois de tudo que se passou, por tudo no qual eu passei e, por fim, não tem mais volta. Gostaria de expressar isto de uma maneira mais uníssona, mas não consigo, apenas falando o que eu sinto para com estranhos consigo compreender como eu sou.
- Todos nós tivemos os nossos momentos. Momentos de pesar, momentos de refletir, momentos de olhar, momentos de acariciar, momentos de briga, momentos de discordância, momentos de sorrir, de sossegar, de sermos nós mesmos, de sermos sinceros, de desapego, de agarrarmos no último momento, de se apaixonar, e então descobrir aquilo que lhe falta em sua alma, em seu coração, o amor? Seria o amor? Pode ser esta palavra complexa e, para muitos, são gritos ao vento, não valendo quase nada... – Dizia isto enquanto caminhava por entre as pessoas. Elas continuavam silenciosas, mas, uma ou outra falavam algo diferente daquilo que eu estava dizendo e, parecia, alguém estava brigando. Então me aproximei destes dois e perguntei: - O que ela significa para você?
Os dois ficaram estáticos. Talvez nunca os dois, ou qualquer um, tivesse sido interpelado daquela maneira. Melhor ainda, ninguém nunca encarou um relacionamento desta forma. Quantos e quantos casais tentam explicar algo inexplicável? Por que continuar junto se não existe mais nada em comum? O que acontece para o sentimento se esvair tão efemeramente assim?
- Eu... – Começou ele. – Eu...
- Se você tem alguma coisa a dizer, diga... – Falei para ele. – Por que continuar brigando? Por que continuar insistindo em algo que não dará nenhum bom fruto? Confiança e cumplicidade são uma das bases para qualquer tipo de relacionamento. Se você não confia em ninguém, como poderia confiar numa só pessoa? Se você não é cumplice de ninguém, para que jogar o peso todo numa só pessoa? Um dia, eu sei, você disse a ela o quanto a amava... Mas QUANTO isto era verdadeiro? Ou foi tudo de boca para fora.
- Tivemos os nossos momentos. – Foi a moça que começou a falar. – Fomos alegres boa parte de nosso tempo. E como eu curti muito esses momentos, mas parece que todos eles foram a muito tempo atrás. Agora não nos aguentamos, não nos suportamos, não sabemos mais quem nós somos e...
Aos poucos lágrimas vertiam de seus olhos e viajavam por seu rosto. A tristeza estava aparente não tão somente em sua face, mas na sua forma de falar, no seu coração, em sua alma. Tocou-lhe o ombro como que para tentar afugentar lhe parte destes péssimos sentimentos e iria falar-lhe quando fui interrompido pelo seu companheiro.
- E quem é você para dizer o que precisamos fazer? O que você fez de tão importante para estar aqui hoje sendo um guru de sentimentos, relacionamentos ou sobre o ser humano? Eu só vim por causa dela, por nosso relacionamento, mas não está dando em nada... e você, o que nós oferece? Apenas palavras que estão em livros de autoajuda e nada mais... quem é você? O que você fez?
Eu sorri. Toda vez sempre me fazem esta pergunta. E não respondo da mesma maneira, pois cada maneira é uma forma diferente de interpretação. Depende de quem estou falando, de como estou falando e como as pessoas precisam ouvir a transmissão de pensamento.
Tinha muito a dizer, mas, ao mesmo tempo, nada...
- Ninguém. Eu não sou nada e não sou ninguém. – Falei com um sorriso estampado no rosto. Vários se surpreenderam com minhas palavras, mas era algo comum. Muitos não gostam de ouvir incertezas, ou algo que soe como tal. – Eu sou uma pessoa comum como qualquer um de vocês. Tive minha vida normal, com algumas atribulações aqui e ali, mas nada de muito importante. Progredi na vida, tive os meus altos e baixos, e acabei chegando aqui. Sobre relacionamentos, digo o mesmo que grande parte de vocês. Tive os meus problemas, como vocês dois, tive os meus momentos de solidão e os meus momentos de pensar. Se se me perguntarem, sim, tive vários amores, mas um foi mais marcante que os demais e dela jamais esquecerei. E nunca esqueço, principalmente por seu perfume que fala por si mesmo nos quais os dois se complementam.
Fui andando por entre as outras pessoas e eles continuavam a me acompanhar com os olhos. O homem do casal que me acusara de nada iria me interpelar novamente quando eu voltei a falar.
- O que eu faço aqui é apenas guiar. Ouço vocês e, além de tentar explicar algumas coisas sobre a vida, acabo me ajudando, pois compreendo tanto a vocês como a mim mesmo. Sinto as nuances que existem em cada um de vocês e vejo as pequenas diferenças em que cada um traz para ser aproveitado e redirecionado para cada um. Isto é, tentar nos ajudar da melhor maneira possível. Só gostaria de ter este conhecimento em tempos atrás. Porque ela insiste de estar na minha mente e em meu coração.
- Todos nós temos os nossos segredos que não queremos compartilhar – Disse uma jovem com uma tez morena e algumas sardas no rosto. – Não que realmente não queiramos, mas é que não podemos. Temos certo medo de seguir em frente. Mas, por fim, como diz o velho ditado, água mole e pedra dura, tanto bate, até que fura. Quando não sabemos sobre o nosso futuro, o passado fica difícil de compreender e quando compreendemos as nossas decisões do passado, vemos o quanto nós podemos nos enganar. Isto com os segredos... e o nosso medo.
- E dos nossos medos, da rejeição que pode e vai existir, da luta continua que temos de lutar e que, as vezes, achamos que não vai dar em nada, das decisões indecisas, de como nos dependemos de uma outra pessoa. Acabamos sendo pessoas falhas, não porque queremos, mas porque não podemos controlar alguém... e jamais podemos fazer isto... eu nunca o fiz, e mesmo vendo o passado, nunca ei de fazê-lo. Amei-a de tal forma livre que todas as decisões que eu fiz, faria de novo... Ela se tornou aquilo que eu imaginei porque fui sincero com ela e ela comigo. E, sinceridade, é outra base para um relacionamento. – Disse isto tudo de uma só vez. – Fiz muita besteira em minha vida. Muitas decisões inequívocas e mesmo que eu diga aqui que faria tudo de novo, do mesmo jeito, sem tirar nem por, mas eu faria, para ter os momentos infinitos com ela novamente.
- O que houve? – Perguntou uma outra pessoa. – O que lhe aconteceu para estar aqui?
- Muitos fatores... tais quais para com cada um de vocês. Erros e acertos. Nunca quis o fim, pois ninguém o quer.
- E o que você falaria para ela, caso tivesse uma outra chance?
- Que eu faria tudo de novo. E não a deixaria escapar por entre os meus dedos. Diria que sempre fui apaixonado por ela, mesmo que não fosse reciproco de inicio. Que eu a amo, como nunca havia feito antes e que não me importava e não me importo pelo que os outros pensam sobre o que fazemos ou deixamos de fazer. É isto que cada um deveria fazer. É isto que deveríamos ser. E ela continua no meu coração, eternamente... os seus perfumes, o seu rosto e tudo o mais.
- Assim segue a vida... – Disse a moça, por fim.
- Concordo. – Disse a ela. – Vou lhes pedir uma ultima coisa antes de ir. Não é nada de extravagante, simplesmente deem aquela pessoa próxima a você uma que a lembre bem, seja de sua autoria ou de autoria dos outros, mas que transmita um pouco aquilo que você pensa sobre a pessoa.
- E qual foi aquela que você escolheu?
- Esta...
E deixei tocar uma musica.
Agora que ela está de volta à atmosfera
Com gotas de Júpiter em seu cabelo, hey, hey, hey
Ela age como o verão e caminha como a chuva
Me recorda que há tempo para mudar,hey, hey, hey
Desde o retorno de sua temporada na lua
Ela ouve como a primavera e conversa como junho, hey, hey, hey
Mas diga-me, você velejou através do sol?
Você chegou até a Via Láctea,
para ver as luzes todas apagadas
E que o céu está superestimado?
Diga-me, você se apaixonou por uma estrela cadente,
uma sem uma cicatriz permanente,
e você sentiu minha falta
enquanto você estava buscando por si mesma lá fora?
Agora que ela está de volta daquelas férias da alma
Traçando seu caminho através da constelação, hey, hey, hey
Ela checa Mozart enquanto ela faz Tae-bo
Me lembra que há espaço para crescer, hey, hey, hey
Agora que ela está de volta à atmosfera
Estou com medo que ela possa me ver como um qualquer
Contou uma história sobre um homem
que tinha muito medo de voar então ele nunca aterrissou
Diga-me, o vento te fez flutuar?
Você finalmente teve a chance de dançar junto à luz do dia
e voltar para a Via Láctea?
E diga-me, Vênus te surpreendeu?
Foi tudo o que você quis encontrar
e você sentiu minha falta
enquanto você estava buscando por si mesma lá fora?
Você consegue imaginar, nenhum amor, orgulho, frango frito,
seu melhor amigo sempre te defendendo
(mesmo quando eu sei que você está errada)?
Você pode imaginar nada de primeira dança
Romance seco congelado
conversa de 5 horas no telefone,
o melhor leite de soja que você já tomou e... eu?
Mas diga-me, o vento te fez flutuar?
Você finalmente teve a chance de dançar junto à luz do dia
e voltar para a Via Láctea?
Mas diga-me, você velejou através do sol?
Você chegou até a Via Láctea, para ver as luzes todas apagadas
E que o céu está superestimado?
Diga-me, você se apaixonou por uma estrela cadente,
uma sem uma cicatriz permanente,
e você sentiu minha falta enquanto você estava buscando por si mesma?
Nanananananananananananana
E você finalmente teve a chance de dançar junto à luz do dia?
E você se apaixonou por uma estrela cadente?
Se apaixonou por uma estrela cadente?
E você está se solitária buscando por si mesma aí fora?
- E da primeira pergunta que me foi feita... digo-lhes... sim, eu acredito no amor.