AS NUANÇAS DO AMOR (C-Relíquias de uma Vida)

RELÍQUIAS DE UMA VIDA - CAP III

AS NUANÇAS DO AMOR

O curso da Mel era na área da saúde, e o Tom cursava na área de exatas. Tinham muito em comum: além de serem responsáveis, dedicavam bastante aos estudos e assim, a cada semestre a faculdade absorvia mais o tempo deles. Com isso e além da distância, as visitas dele ficaram mais espaçadas.

Mel, vez por outra, se queixava de que o convívio na república estava meio complicado, já não era como antes. Isso o deixara um tanto quanto preocupado, pois ela era a grande responsável pela criação da república, além da maioria das coisas serem dela.

Já havia se passado um bom tempo desde à sua última visita, então, ele achou que estava na hora de saber como ela estava, iria faze-la uma visita, esperaria chegar o final de semana.

Resolveu que naquele próximo sábado iria visita-la, mas estava um pouco temeroso, será que ela não estaria visitando seus pais??Iria arriscar. Então naquele sábado à tarde se dirigiu pra lá.

Ao chegar todo eufórico, encontrou a Mel conversando com um novo amigo, na porta da república, assim como ele fazia também, quando das suas visitas, nunca tinha o hábito de entrar.

Ela o recebeu de maneira fria, sem muito caso, sem muita atenção, muito diferente do calor das outras vezes. Continuou a conversar animadamente com o tal amigo.

Ele sentiu-se que estava sobrando ali. Ficou todo sem graça, desarrumado, sem lugar, se sentiu como diz o ditado, como um pato fora d’água. E assim, logo se despediu e foi embora.

Pelo caminho, com o coração machucado, não só pelo ciúme, mas pela maneira como ela o tratou, foi pensando.... agora ela já não precisa mais de mim...já não sou mais importante... Ficou remoendo esses pensamentos por todo o percurso de volta e decidiu que tão cedo voltaria a visitá-la .

E assim o fez, direcionou suas atenções para os seus estudos, pois a Mel parecia que não precisaria mais da presença dele.

Tom não entendia muito o comportamento da Mel, às vezes ela parecia gostar dele também, outras vezes, o tratava meio indiferente, como se ele não tivesse importância para ela, como da última visita.

Os dias foram se passando...os estudos cada vez mais apertados, absorvia quase todo o seu tempo, e a saudade era tamanha que ele já nem lembrava mais do que a Mel fez naquele dia. Ele na verdade sentia falta de saber como ela estava, precisava cuidar dela...mas...se ela parecia não querer mais...

E assim, nesse vai-e-vem de pensamentos, os dias lá se iam passando e ele, na sua “opinião” de ainda não voltar lá, apesar de estar muito preocupado em saber como ela estava.

Os domingos em Paraíso, eram sempre marcados pela tradicional missa das 10 horas na Igreja matriz, logo depois, os estudantes ficavam por ali, em volta da praça. Era o ponto de encontro daqueles que não iam para suas cidades nos finais de semana.

Em um desses domingos, Tom se encontrou com Helena – companheira e amiga inseparável de Mel, que fazia parte da república também – na porta da igreja Matriz, após à missa.

Oi Tom! Porque você não foi mais lá em casa? – perguntou ela. - Ela se referia à república.

Ah... é falta de tempo – respondeu.

Com àquele sorriso todo carinhoso que lhe era peculiar, ela lhe respondeu: não é isso não, eu sei o porque...

Ele sem dizer nada, apenas lhe esboçou um sorriso, tímido e meio que triste.

O Tom nunca havia dito nada à ninguém sobre os seus sentimentos, os trazia trancafiados, como se pra ninguém os roubar. Ele por ser muito tímido, não queria que os outros notasse o quando gostava da Mel. Mas isso de nada adiantava pois estava estampado em seu rosto, bastava ela estar por perto, ou se aproximar, ou ainda, seus olhos notarem a presença dela, que sua fisionomia ficava radiante, seus olhos adquiriam um brilho todo especial...

O sol de paraíso era sempre muito bonito...no verão, proporcionava um lindo entardecer, com lindos pôr do sol de rara beleza e as manhãs, sempre ensolaradas, mesmo na época do frio, quando o sol aparecia timidamente, ainda assim, trazia sempre uma bela manhã.

E naquele domingo, o sol estava radiante, o Céu com seu azul celeste, salpicado com algumas nuvens brancas, proporcionando um dia lindo, de um calor que incomodava e os transeuntes tinham que procurar um sombra para se abrigar. Tom e Helena, ao saírem da igreja, foram até uma sombra e ficaram à jogar conversa fora por alguns instantes mais. E sem que ele tocasse no assunto, ela lhe disse:

Tom, a Mel nunca vai deixar sua estabilidade...e arriscar numa aventura...ela não vai trocar o certo pelo duvidoso.

Ele ficou surpreso com a colocação dela, pois nunca havia dito nada nesse sentido.

Como ela pode saber que eu gosto da Mel?-pensou ele.

E olhando-o de maneira carinhosa – porque também eram amigos – lhe disse: vai lá depois...E se despediu.

O Tom apesar da saudade, da falta que sentia do convívio com Mel, não voltou lá, pois era de muita opinião.

Mas quando existem dois corações que se amam, duas almas que se encantam, ou como queira, duas pessoas que se adoram, o mundo se curva diante da grandeza desse sentimento, e com eles não seria diferente. Era muito bem querer para que algum deslize pudesse à vir afastar os dois.

Durante o tempo em que eles ficaram sem se encontrarem a convivência na república para Mel ficou insuportável, já não dava mais para continuar...Ela, apesar do seu temperamento meio que “esquentado”, era uma menina de convívio fácil, companheira, muito rigorosa com suas ações e responsabilidades, se sentia cada vez mais infeliz ali...Então, resolveu sair. Mas onde encontrar um lugar pra morar? Precisava sair o quanto antes, já não agüentava mais.

Ela gostava dos cuidados, da atenção, dos mimos do Tom, sentia-se protegida, cuidada. No seu interior já existia uma coisa diferente, começava a enraizar um sentimento também...e ela relutava para que esse sentimento não tomasse forma pois seu coração já estava prometido. Algumas vezes ela até dava um pouco de “corda”, mas controlava a situação para que o Tom nunca tivesse oportunidade de dizer algo, pois ela não saberia como lidar com isso.

Ela sabia que no coração dele, existia esse sentimento também. Por isso, era comum em algumas vezes ela o trata-lo de maneira fria, na verdade, ela não queria atingi-lo mas sim, queria se proteger. E, mulher de real fidelidade aos seus princípios que era, não admitia nascer em seu coração, outro sentimento que não fosse de amizade, pois o seu coração já tinha dono.

Então, quando ela se sentia ameaçada, sem medir as conseqüências, a razão entrava em cena...ela sabia que feria Tom, mas isso era mais forte do que ela, a sua consciência a cobrava muito.

Ela insistia em tentar se convencer que era apenas um sentimento de amizade, o que ela nutria pelo Tom, embora em sua alma, parecia dizer o contrário.

Sem poder dominar o sentimento que crescia no seu coração, ela procurava não pensar muito nisso, apenas deixar a vida seguir, porque ela sentia feliz ali com ele por perto.

Ela não entendia direito o que estava acontecendo, mas o certo é que nos períodos de férias sentia muita falta dele e como agora também, quando já faz algum tempo que ele não aparecia.

Já havia passado alguns meses da sua última visita e ela sabia o porque. Sabia que tinha sido fria com ele naquele dia. Embora não desse o braço à torcer, nem demonstrasse seus sentimentos, ela estava incomodada com o “sumiço” dele, sentia falta, estava com saudades.

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Quando a Mel decidiu a montar a república, ela estava um pouco temerosa de não dar certo, mas com o apoio do seu amigo e a confiança que tinha nele, sabia que podia contar com ele em qualquer tempo, resolveu encarar. Agora diante daquela situação, ela precisava mais do que nunca, do amigo para ajuda-la a resolver.

-O Tom sumiu...sei que ele ficou chateado naquele dia...Mas vou procura-lo amanhã, quem sabe ele me ajuda a encontrar um lugar – pensou ela – E assim o fez.

No dia seguinte, logo à noitinha, depois do jantar se dirigiu pra casa dele. Como era um pouco distante, levou alguns minutos para chegar. Não foi difícil localizar, pois ele havia lhe dito como chegar. E ficou decepcionada, ele não estava, ela não contava com isso.. Queria resolver logo àquela situação, estava agoniada, ansiosa. Deixou recado que voltaria no dia seguinte no mesmo horário.

Ao retornar do jantar – o Tom fazia suas refeições agora, numa república de amigos, que ficava algumas quadras dali – a dona Iolanda disse assim: ôTom!? veio uma moça te procurar...

Ela disse o nome, dona Iolanda? – perguntou ele.

-Não, disse que volta amanhã no mesmo horário – respondeu ela.

Ele ficou martelando seus pensamentos, tentando imaginar quem poderia ser mas não conseguiu descobrir e se organizou para no horário marcado estar presente.

E pontualmente, como havia marcado a campanhinha tocou, ele foi atender o portão, e para sua surpresa , era a Mel...Lógico que ele ficou todo feliz...

Entre eles tudo se passava no maior dos cuidados...com todo zelo...nunca, jamais um toque...um abraço ou algo que pudesse entender como um gesto de certa liberdade...não, era tudo muito puro...muito sublime, onde o olhar, o sorriso, expressavam tudo...e assim, foi o encontro dos dois.

Oi Tom! – disse ela.

Oi Mel, tudo bem?- Disse ele.

Mais ou menos. Me desentendi na república, vou sair , está cada dia mais difícil conviver ali – foi logo dizendo ela.

Humm...mesmo??Mas...e as suas coisas?– perguntou ele.

-Vou deixar, se eu tirar, desmancha a república, e eu não quero por causa da Helena.

- E como está pensando fazer?

- Pois é, gostaria de encontrar um lugar numa casa de família, um lugar que eu tivesse sossego.

Diante daquela notícia e ainda ali no portão, Tom começou logo a pensar onde encontrar um lugar para Mel ficar, e lógico, tinha que ser um lugar onde ela tivesse paz, sossego, etc.

Começou a consultar os seus “botões”...a dona Iolanda morava sozinha, tinha um quartinho vazio na casa...

-De repente me veio uma idéia – disse ele - a dona Iolanda tem um quartinho sobrando na casa, é pequeno, quem sabe ela aluga. Vai ficar um pouco longe da sua faculdade, mas com certeza aqui você terá paz. Você quer que eu fale com ela? ela é muito sistemática, mas penso que pra você não vai ter problema. O mais importante você vai encontrar, tranqüilidade para estudar.

-Quero – respondeu ela.

E assim, ele foi falar com a dona Iolanda. Precisava ter muito tato, para convencê-la. A idéia de Mel vir morar ali pertinho dele, era tudo que ele mais queria...porque assim, poderia cuidar dela.

-Dona Iolanda?-chamou ele - A porta da casa ficava sempre fechada.

-Sim – respondeu ela - e abriu à porta.

-Essa é minha amiga, àquela que veio ontem aqui, ela desentendeu na república e agora esta procurando um lugar pra morar, então eu estive pensando: tem esse quartinho aqui, quem sabe a senhora aluga pra ela. Além de lhe fazer companhia, a senhora ainda ganha um dinheirinho...o que acha?

Ela é uma ótima moça...muito melhor do que eu...posso garantir que ela não vai dar trabalho nenhum, e terá todo cuidado com o portão...

-Bem, eu nunca pensei em alugar para mulheres, mas se você está me garantido que ela é uma boa moça, e tem cuidado com o portão, podemos fazer uma experiência – respondeu ela.

E assim, quis o destino que a Mel voltasse a estar muito próxima de Tom outra vez...E ele, todo feliz, não só por tê-la pertinho dele, mas principalmente por ela estar num lugar tranqüilo e mais, ali ele poderia cuidar dela muito melhor.

Menino Sonhador
Enviado por Menino Sonhador em 16/08/2011
Reeditado em 31/07/2012
Código do texto: T3164040
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