Antes de falar do Eduardo, vou descrever como conheci minha amiga.
Era meu primeiro dia na academia, entrei para fazer aula de pilates, e um monte de garotas de corpos malhados me encarou, avaliando criticamente meu corpo.
Entre aqueles olhares avaliativos me deparei com Laura, uma loira de baixa estatura, o corpo perfeito esculpido por anos de treino, simpatizei-me com ela de imediato.
No vestiário puxei conversa e de perto pude perceber as rugas em seu rosto, demonstrando que ela já não era tão jovem quanto parecia.
Mais alguns meses de treino e já éramos amigas, ela era a diversão em pessoa. Porém tinha um defeito, dava mole para todos os homens da academia, fato que me deixava incomodada e por diversas vezes sem graça, principalmente por saber que ela já era casada e avó de dois lindos netos.
Um dia por curiosidade perguntei por que ela ainda continuava casada se era visível que não mais amava seu marido. Ela me chamou para um canto e sua história contou.
Laura tinha apenas 17 anos, morava no norte do Paraná quando conheceu seu marido, ele era de São Paulo e estava passando umas férias no interior.
Em sua pouca experiência ela se apaixonou perdidamente por ele. Trocaram alguns beijos e ele prometeu que voltava para buscá-la.
Ele retornou para sua cidade e escreveu para ela, foi um ano trocando confidências e juras de amor.
E como prometido ele foi buscá-la, casaram-se quase sem se conhecer, ela ainda apaixonada, tímida fazia tudo por ele.
Era uma dona de casa exemplar, dividiu com ele a alegria da chegada das crianças, criou os filhos com todo amor que só uma mãe dedicada consegue dar.
Mas quando as crianças já eram adultas, alguém chegou nela e disse que ele tinha outras mulheres, ela ainda tentou negar a verdade que estava sendo revelada, mas já com a desconfiança plantada, começou a averiguar.
Em um belo dia como fazia todos os sábados a tarde ele saiu para jogar futebol com seus amigos, ela o seguiu e logo percebeu que o rumo tomado por ele era totalmente diferente do que o informado, minha amiga ali chocada, tomou uma decisão. Iria acabar com aquele casamento.
Mas naquela noite sua filha foi acometida por uma terrível doença, na correria para resolver o problema a conversa ficou para depois.
Fato é que a enfermidade foi embora e a raiva também, ela foi ficando ali naquele casamento falido.
O respeito e o carinho já não estavam mais presentes, mas juntos há 20 anos, por costume foram ficando.
Até que um dia ela conheceu Eduardo, o sorriso matreiro e sedutor no olhar, os cabelos caídos sobre uma das sobrancelhas dava-lhe um ar libertino.
Ela sentiu-se lisonjeada quando aquele homem dez anos mais jovem mostrou interesse por ela.
Ele lhe dava a atenção que há muito ela não recebia em casa, e assim sem pudor eles continuaram a se encontrar.
Eduardo despertava sensações há muito tempo adormecidas, e os dois foram vivendo nessa louca aventura.
Ele era caminhoneiro, e numa certa noite ele pediu para se encontrarem, disse que ia fazer uma viagem mais longa e ficaria um tempo fora.
Ela disse para seu marido que ia a um baile da terceira idade com suas amigas, mas na verdade passou a noite despedindo-se de Eduardo.
Naquele dia pela primeira vez depois de saciados seus desejos ele abraçou-a fortemente, declarou todo o amor que há muito sentia por ela, pediu que ela deixasse o marido e fosse viver com ele. Minha amiga já vinha pensando nisso há algum tempo, combinaram de tomar a decisão definitiva assim que ele voltasse de viagem.
Ele não voltou e foi pelos noticiários que ela ficou sabendo que um triste acidente tinha ceifado a vida de um jovem caminhoneiro.
Laura entrou em uma depressão profunda, nada mais fazia sentido para ela, não conseguia acreditar que a felicidade tinha lhe escapado pelos dedos.

Muito tempo depois ela se recuperou, entrou na academia e se tornou essa mulher despojada, meio depravada, buscando sempre achar em outro homem a felicidade que um dia lhe fora negada.
A partir desse dia eu compreendi mais aquela bela mulher, que eu tinha como amiga, percebi que todo aquele fogo era na verdade carência, compreendi que não competia a mim julga-la e sim torcer para que um dia ela fosse totalmente feliz, pois a felicidade dela era contagiante.