As histórias que não contei - Jairo
O dia já ia embora a noite começava a chegar, eu estava deitada em minha rede, ouvindo o vento batendo nas árvores observando os pássaros se refugiarem, quando um barulho estridente interrompeu meus devaneios. Meu telefone tocava insistentemente. Meio letárgica fui atender.
Era Carla, minha amiga de muitos anos, foi só eu dizer alô para ela despejar eufórica toda uma história, em meus ouvidos, ela me disse que precisava desabafar.
Sentei para ouvir a história que por sinal eu já conhecia e agora escrevo.
Em uma tarde ensolarada de junho, mais precisamente num dia de domingo, o frio castigava quem na rua passava. O sol fraco tentava transmitir calor, mas somente ao meio dia ele conseguiu vencer a batalha.
Carla olhou pela janela da sua residência em um bairro pobre, mas com muito gente decente, viu o sol brilhando lembrou que tinha festa no teatro da cidade. Ligou para sua melhor amiga que aceitou prontamente o convite para irem ao evento.
A festa já estava quase no final, havia muitas ginganas, as crianças corriam felizes e as duas amigas se sentiram meio perdidas no meio de tanta bagunça. Mas alguém pareceu notar a chegada delas e veio recebe-las.
Jairo era seu nome, ele era assim, como o sol no inverno, como o cheiro que exala das flores, como a luz que ilumina a escuridão, tudo isso misturado com uma grande dose de simpatia e inteligência.
Bastou um sorriso para deixa-la encantada. Naquele dia trocaram poucas palavras, mas durante toda a festa enquanto ele trabalhava ela acompanhava - o com o olhar, contemplava estasiada cada gesto feito por ele. A noite chegou e a encontrou em um suave torpor. Um puchão em seu braço tentou desperta-la e ela saiu assim, meio sendo levada, parecendo andar nas nuvens. Lançou um último olhar para ver se era notada, mas ele parecia estar ocupado e ela foi embora se sentindo frustrada.
Já fazia uma semana do seu primeiro encontro quando eles voltarão a se encontrar. Ela o avistou de longe andando com segurança, parecendo ser o dono do mundo, mas no coração tinha certeza que ele não se lembraria dela, ledo engano pois ele parou na sua frente e simpático como sempre deu -lhe um beijo no rosto. Eles foram caminhando agora lado a lado, conversando, esquecidos até do barulho dos carros que passavam na rua. Chegaram ao Banco e ele fez companhia a ela na fila, entre uma conversa e outra o murmurinho das pessoas presentes deixou de ser ouvido parecendo existir somente os dois no mundo.
Despediram-se com um suave beijo no rosto, um beijo que era a promessa de algo mais.
Passaram -se os anos e eles nunca mais se viram. Ela pensou que ele havia mudado de cidade, mas a saudade e a vontade de ve-lo novamente nunca passou. Um ano, dois, e derrepente já haviam se passado 6 anos, todo aquele sentimento parecia para sempre adormecido.
Um dia sua amiga lhe contou que havia encontrado com ele em uma festa, ao ouvir falar dele ela ficou parada fitando a parede, sua mente voltou para o passado e algo que estava adormecido foi despertado. Teve curiosidade em descobrir como ele estava. Carla não se lembra se foi ela que procurou por ele ou vice versa, fato é que depois disso trocaram telefones e emails.
Entre uma conversa e outra ele contou que tinha casado mas agora estava separado. Ela relutou em contar a verdade mas confessou que estava casada.
Foi um momento de silêncio, até eles se darem conta que a chance para os dois havia passado, parecia que a história teria que ser dada por encerrada.
Jairo não desistiu dela, ele era meio tinhoso, sensual, sabia usar as palavras a seu favor e assim como quem nada quer foi chegando devagar, dizendo coisas que só ele sabia falar, coisas que toda mulher gostaria de ouvir.
Um dia ela não mais resistiu, brigou com a consciência, lutou contra seus princípios e agora depois de 9 anos ela decidiu, precisava por um fim naquela agonia.
Eu sou aquela amiga que acompanhou a história desde o princípio e hoje ela me ligou só para dizer que marcou o encontro. A data? Amanhã......
by Vania Vacholz