DEVOLUÇÃO
Ela chegou e sem nada dizer, sentou-se. Estava um pouco pálida, mas a frieza no seu rosto fez com que nada perguntasse.
Era o primeiro encontro após a última briga. Briga que resultara na separação definitiva.
Estavam ali, lado a lado, e nenhuma palavra quebrava o silêncio entre os dois. Tão próximos e um abismo tão profundo os separava.
Pessoas passavam na rua. Crianças brincavam ali pertinho. O vento soprava anunciando a aproximação da noite. E os dois sentados no banco da praça, na lateral esquerda, próximos ao canteiro de rosas que reflorescia devido às chuvas fora de tempo. Nada diziam.
Ela olhava fixamente duas crianças que corriam atrás de um cão. Ele mantinha o olhar fixo no relógio da igreja. A respiração dela se fazia ofegante, a dele também estava descompassada. Os dois não deixavam transparecer a angústia.
Como você está? Enfim, ele perguntou, quebrando o tão incômodo silêncio. Bem, ela respondeu sem nenhum outro comentário. O diálogo estacionou.
Naquele fim de tarde, tudo era angustiante. Após breve intervalo, ele abriu a bolsa que trazia consigo. De dentro, retirou a pasta e entregou-lhe.
Silenciosamente, e sem olhar, percebeu que o seu companheiro se afastava.
Sentiu forte aperto no coração. Talvez fosse a última vez que escutasse aqueles passos.
Abriu a pasta, com lágrimas nos olhos, e dentro apenas muitas fotografias cortadas.