OS SONS DO AMOR (B-Relíquias de uma Vida)

RELÍQUIAS DE UMA VIDA - CAP II

OS SONS DO AMOR

A vida naquela cidadezinha do interior para os dois se resumia em faculdade-casa, casa-faculdade, sempre estudando e quando podiam conversavam um pouquinho nos intervalos entre as refeições e o horário para pegar firme nos estudos e quase sempre à noite durante a semana iam à missa.

Nos finais de semana prolongados quase sempre Mel viajava para sua cidade, para visitar a família, o Tom muito raramente, já que à sua família morava distante dali, alguns pares de centenas de quilômetros e assim mesmo, para chegar até a casa dos seus pais, que ficava na zona rural às margens de uma via férrea, precisava coincidir também o horário do Trem que era o único meio de transporte regular, que corria uma vez por dia. Essa lida, demorava nada menos que dois dias, então o Tom quase não ia visitar sua família nas férias.

Esses finais de semana sem a presença de Mel era para Tom longo demais...os dias demoravam passar e o seu coração ficava sempre muito saudoso mas ele não deixava transparecer para ela.

A cidade não oferecia muita opção de diversão, existia dois cinemas, mas eles não eram muito adeptos à matinês, preferiam de quando em vez, sair ao entardecer nos finais de semana em busca de um pôr do sol para fotografar - e como eram belos os pôr do sol ali...

Já que não possuíam veículo, faziam o trajeto à pé, adentrando pelos velhos casarões inacabados existentes na redondeza da cidade, prova maiúscula de que o poder econômico esteve presente ali em tempos idos e seriam edificadas verdadeiras mansões, mas que foram abandonadas pelo caminho.

Ficavam os dois a admirar tudo àquilo, pareciam um sonho, parecia não ser verdade, que alguém pensasse em morar numa casa daquele tamanho... Faziam sempre àquele percurso procurando um pôr do sol que pudesse oferecer uma linda foto...iam andando pelas pastagens, ora pelo caminho, ora pelas pequenas trilhas dos animais, tentando achar uma posição melhor...para não perder o esplendor...mas nem sempre isso era possível, algumas vezes, bem na hora de maior esplendor, aparecia uma nuvem e cobria tudo – mesmo assim, eles se sentiam felizes - logo a noite caía...e os dois voltavam jogando conversa fora.

E assim, os dias iam se passando, crescendo entre eles cada vez mais o bem querer e a amizade se fortalecendo. Na companhia do outro, eles se sentiam protegidos, amparados, era como se ambos fossem o porto seguro do outro - e eram.

Certo dia a Mel disse: Tom, estou pensando em montar uma república com as meninas da pensão, o que você acha???

- Acho legal - respondeu ele - Como você está pensando fazer?

- Vou trazer as coisas da cozinha, fogão, geladeira, etc., porém, estou preocupada se não der certo.

- Não fiques preocupada, onde eu estiver, terás sempre um cantinho para você colocar suas coisas se assim precisar.

Essa resposta deixou Mel mais confiante, apesar de saber e confiar que poderia contar com ele à todo e qualquer momento, mas era sempre bom ouvir. A confiança que ela tinha nele era tamanha, que lá no fundinho do seu íntimo, sentia que ele seria capaz de “morrer” por ela, se preciso fosse.

E assim, ela passou então, a pensar com mais determinação no assunto.

As férias de final de ano chegaram e eles fora cada qual para suas cidades de raízes, ou melhor, para seus lugares de raízes, já que os pais de Tom moravam verdadeiramente na zona rural.

As férias para Tom, parecia mais longa do que eram na verdade...os dias ficavam mais compridos, a saudade de Mel era muito doída...ele não via a hora das férias terminarem e logo voltar ao convívio com ela.

Em meio às suas tarefas diárias - sim, quando chegava na casa dos seus pais ele ajudava sua família na lida diária do sítio - era muito comum ele ficar pensando nela... imaginando como seria bom se ela tivesse ali com ele para poder dividir um pouco do seu mundo...Pensava também, como seria sua reação diante da simplicidade que era a sua vida, os seus costumes, a sua família, o mundo em que ele fora criado, um mundo que com certeza muito diferente do dela.

Ele não conhecia quase nada da vida dela, nem da família, e nem estava muito preocupado com isto, na verdade, a presença dela lhe bastava.

Sua imaginação criava asas...e o seu jeito sonhador lhe envolvia a alma...”Seria tão bom se ela pudesse estar ali...tão bom...como ele gostaria de poder dividir tudo com ela...”-pensava ele. Ela estava sempre presente em tudo...E uma dor invadia a tua alma, trazendo um vazio ao seu peito, ERA A DOR DO AMOR... Mas... não se tinha outra coisa a fazer, a não ser guardar todos esses sonhos, essa saudade, em sua alma, em seu coração.

A saudade judiava demais...e ele ficava ansioso à espera de notícias dela, mas iria demorar pois o endereço que ele deixara com ela era da cidade pois ali na zona rural o correio não chegava.

Especialmente nessas férias seus pais precisaram fazer uma viagem e ele teve que ficar tomando conta da propriedade.

A tal cidade era Floresta, com seus quase duzentos mil habitantes, responsável por subsidiar toda à região daquele sertão. Foi ali também que Tom passou boa parte de sua infância, conclui seus estudos do ensino fundamental e ficou ali até ingressar na faculdade, e assim essa acabou ficando como sendo a sua cidade, pois foi lá que nascera e fora resgistrado.

O seus pais, apesar da pouca instrução que tiveram, sempre se preocuparam com a educação dos filhos, aos doze anos, mandou o Tom para a cidade grande continuar seus estudos. E assim, morando na casa de alguns tios, ele acabou por se estabelecer na tal cidade grande.

Tom era um jovem sonhador...romântico por excelência...sensível...Desde os tempos de criança, quando lá ia fazer às tarefas diárias para ajudar seus pais na lida do sítio - vender os queijos, requeijões, no comércio próximo ou quando carreava mantimentos no carro de bois - enquanto fazia o trajeto, ele ficava sonhando...sonhando...os seus mais lindos e mais puros sonhos de amor...e esses sonhos, ele nunca abandonou...ele os trazia trancafiados no seu âmago, como para que ninguém os roubassem...

Tom nessas férias, havia iniciado um namoro com uma garota da sua cidade. Na verdade essa garota era uma antiga paixão sua, desde os tempos de colegial, mas agora, em seu coração estava a Mel. E agora o que fazer?? ele tinha esperado tanto por esta garota, mas agora... bem, agora a Mel tinha chegado e tomou conta do seu coraçãozinho sonhador...Mas ela também já tinha namorado, já estava com o coração prometido, ele não iria ter nenhuma chance...Será que ela também estaria pensando nele??estaria com saudades?? Esses pensamentos ficavam povoando suas idéias enquanto ele fazia suas tarefas diárias. O certo é, que a saudade estava muito doída, isso sim.

Mel, menina que trazia nas veias o sangue italiano, tinha por natureza não deixar que os sentimentos aflorassem muito, evitando que a emoção suplantasse a razão. Assim, estava sempre de vigília para que nada viesse a abalar ou mesmo desestabilizar o seu emocional. Quando isso acontecia, ela logo batia em retirada, procurava espantar o “mal” pois, além de ser uma menina recatada, era extremamente rigorosa e fiel aos seus princípios morais, que advinha de uma criação rigorosa. Por assim ser, ela não deixava externar o sentimento de saudade, a falta que sentia do seu amigo e, assim como ele, também não via à hora das férias terminarem para estar na companhia dele novamente.

Ela apesar de ter um namoro estável, no seu coração existia também àquele sentimento bonito, puro, sublime, que estava tomando conta do seu ser, era um sentimento diferente, ela não sabia explicar, mas o certo era, que fazia ela sentir vontade de estar perto do Tom. Esse sentimento, ela trazia trancafiado à sete chaves no seu âmago.

Tom, assim que seus pais chegaram de viagem, foi para cidade pois queria aproveitar e iniciar seu estágio e também lógico, queria saber se havia alguma notícia de Mel, estava muito doída a saudade.

Quando sua prima lhe disse: chegou uma correspondência pra você e logo foi lhe entregando. Assim ele viu a letra que subscritava o envelope seu coração disparou...era da Mel...mal se continha para abrir, mas queria fazer com todo cuidado para não estragar o envelope. A ansiedade fazia suas mãos tremerem... Seus olhos iam degustando cada palavra daqueles escritos enquanto seu coração era acalentado por um sentimento de amor, suja alma vestida de ternura e paz.

As férias se acabaram, e todos estavam ali de volta, para começar nova jornada.

Mel acabou por decidir em montar a tal república e Tom a ajudou resolver o problema de aluguel da casa, na instalação, etc., se passando por primo dela, para que o proprietário, o reconhecesse como alguém de direito zelando por ela e cuidando dos seus interesses.

A república era localizada próxima da faculdade que Mel estudava, ficando assim, várias quadras de onde o Tom morava, o que fez os encontros dos dois ficarem mais espaçados, já não era possível se encontrarem tão assiduamente como antes, mas isso não diminuiu o bem querer dos dois.

Tom por sua vez, também acabou mudando de onde morava, ficando um pouco mais distante.

Sempre que possível, ele ia esperá-la no terminal rodoviário, nos finais de semana que ela chegava de casa. Para ele era um prazer muito grande poder cuidar de Mel.

Passaram-se, os dias...as semanas...os meses...e eles sempre que podiam se encontrava um pouquinho para saber do outro, ou para cuidar do outro. Tom tinha um cuidado muito especial com a Mel e ela por sua vez, embora procurasse não demonstrar isso, o tinha também.

E assim, logo mais um semestre letivo chegava ao seu final. As férias do meio de ano chegaram e cada qual tomou seu rumo em direção à suas raízes.

O Tom agora, aproveitava todas as férias para fazer estágio e a Mel, para descansar já que os seus estudos lhe traziam muito cansaço mental e também dar atenção ao seu namorado, já que se viam tão pouco.

Embora fosse prematuro, mas eles já começavam a pensar como seria quando concluíssem a faculdade e cada qual iria para sempre embora, como seria o depois...se naquele curto espaço de tempo a saudade já doía daquele jeito, imagina como seria então...Mas ainda teriam muito tempo para desfrutar da companhia do outro ali, melhor pensar nisso no momento certo.

Sentiam-se a falta do outro, a saudade não esperava muito, logo nos primeiros dias, já fazia presente. Então, a solução era recorrer às cartas, e eles o fazia sempre com muito carinho e muito zelo.

Enquanto a maioria dos universitários ficavam torcendo para as férias demorarem acabar, com eles acontecia o contrário, torciam para os dias passarem rápidos e assim eles voltarem o quanto antes a estarem na doce e agradável companhia do outro. E que bom que as férias do meio do ano eram só de um mês.

No semestre seguinte, Tom acabou por mudar de endereço novamente, foi para mais próximo da sua faculdade, feito Mel, ficando assim, mais distante dela já que as faculdades ficavam nos extremos da cidade.

A nova morada era um lugar simples, mas aconchegante, um “apartamentinho” composto de sala, quarto e banheiro, que ficava nos fundos da casa. A casa era bastante recuada da rua, e no trajeto até a porta de entrada, tinha um jardim com roseiras sempre floridas e alguns antúrios vermelhos que ladeava o corredor, e gramado em grama japonesa, intermediado com piso em ladrilhos. Era um jardim singelo, mas muito bem cuidado o que fazia ser uma entrada muito aconchegante.

A proprietária, uma mulher na casa dos seus 60 anos, viúva, sistemática, que tinha como hobby, criar alguns canários belgas. Assim era a dona Iolanda.

O Tom então se instalou ali com o seu amigo Fred, com quem já algum tempo, dividia seu espaço de moradia, era um colega e amigo de sala de aula e ali estavam muito felizes porque era um lugar espaçoso, tranqüilo.

Menino Sonhador
Enviado por Menino Sonhador em 19/07/2011
Reeditado em 11/08/2015
Código do texto: T3106097
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