O SILÊNCIO QUE APRISIONA
Sentados no banco da praça, estávamos frente a frente. Era noite. Uma noite silenciosa. O vento insistente predizia uma chuva.
Nossos olhares penetravam-se.
O olhar dela demonstrava ansiedade, exigindo resposta. Para mim, tudo era angustiante.
Começou a chover. Uma chuva fininha e fria. Mas isto não nos fez mover.
Eu estava estagnado, ela também.
Ela havia me perguntado se não a amava mais. Olhando em meus olhos, perguntou-me. Eu silenciei.
Por instantes, recordei-me o início do nosso namoro. O nosso primeiro beijo. O meu primeiro beijo.
No portão da escola, entreguei-lhe uma carta. A minha declaração de amor.
No outro dia, estávamos os dois passeando de mãos dadas pelas galerias do colégio. O sinal que determinava o fim do intervalo nos motivou a um beijo no rosto.
Em instantes mágicos, frações de segundos, nossos lábios se tocaram. Senti-lhe a hortelã da boca. Era o meu primeiro beijo.
Foi uma paixão efervescente. Ela quatorze anos. Eu, quinze. De manhã, sempre juntos.
Aos finais de semana, no parque próximo à igreja. Éramos felizes. Muitas testemunhas: o parque, a calçada da igreja, o portão da casa dela. Era mais que uma paixão.
Recordei-me das palavras de mamãe. Dos sermões do papai. Esperava-me a faculdade, não existia tempo para namoricos de esquina.
A minha felicidade era medida pelo curso elitizado, escolhido por meus pais. Você merece tudo de melhor: A melhor universidade. O melhor curso. Uma namorada melhor.
Eu acatava. E encontrava-me ali. Frente a frente.
Estava estagnado, ela também.
Ela havia me perguntado se eu não a amava mais. Olhando em meus olhos, perguntou-me.
Eu silenciei.