O Arquiteto e a Chuva

Há algum tempo, conheci um arquiteto que tinha uma verdadeira adoração pela chuva de Belém. Ele não era daqui, veio do Centro (Goiás ou Brasília, não lembro ao certo), pra cursar arquitetura, formou-se, gostou da cidade, em especial do clima chuvoso, e decidiu ficar.

Sentia, pela chuva, o que se pode chamar de uma paixão louca, avassaladora, egoísta mesmo, dependia da chuva, das suas gotas, fossem grossas ou finas, rápidas ou duradouras, e queria que elas fossem pra sempre suas, mas a chuva, livre, independente, inconstante na sua constância amazônica, não entendia isso, não aceitava o gostar egoísta do arquiteto... Até que um dia, a chuva choveu sem ele.

E ele, do cume do seu patológico egoísmo, sentiu-se traído, abandonado, sozinho, pequeno e desprezado.

Desde essa vez, nunca mais apaixonou-se, ficou amargo e frio. Eventualmente ainda a encontra, mas não é mais a mesma coisa, não existem mais os banhos de chuva, as caminhadas na chuva das 3, os sonos embalados pelo barulho dela no telhado. Todo aquele amor virou ressentimento, congelou e endureceu, ficou diferente, e indiferente, sempre que a encontrava, esquiva-se, evitava-a, até que, por fim, esqueceu-a.

Hoje em dia, ambos dizem não sentir nada um pelo outro. Nem o arquiteto, nem a chuva. Dizem que são completos estranhos uns aos outros. Mas alguém que os conheça de verdade dirá, sem sombra de dúvida, que, no fundo, ainda se querem muito.

Magno Brito e Silva
Enviado por Magno Brito e Silva em 16/06/2011
Código do texto: T3039220
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.