Cinco Estações
Era chegada a estação de perfumes inebriantes, da dança multicolor que seduz a retina, do encantamento com a diversidade e a beleza da natureza. Mas eu estava com meus sentidos privados por uma falsa alegria de viver. Meu olhar sorria sem brilho, minha gargalhada era melancólica, meu corpo vibrava como de uma marionete, por fora era a representação da felicidade que muitos acreditavam existir. Menos eu.
Nem mesmo os raios que atravessavam o céu e renovavam a vida de todos os seres, eram capazes de me aquecer a alma.
Prostrado diante da moldura de vidro, podia observar o mundo lá fora. Minha mente conectada neste espaço transeunte, era alimentada por uma realidade virtual. Estava sendo programado pelo sistema dos homens-máquinas e não o da "Madre Tierra". Eu acordava todos os dias numa roda de ratos, onde o objetivo maior era a realização de sonhos. Mas não os meus.
Tudo a minha volta estava perdendo as cores, e até mesmo as engrenagens vivas, que pareciam imutáveis, se transformavam. As estações estavam fora de ordem. Por uma falha do sistema pude ver:Entre tantas folhas secas lutando contra o vento para se manterem conectadas a Gaya, uma me despertara a atenção. Ela mergulhou num voo profundo se despedindo da roda; leve e tranquila. E junto, uma lágrima que há tempos eu mantivera congelada, caia tão lentamente quanto ao filme que me passava aos olhos. Aquela folha não estava desistindo de um ciclo, mas apenas começando um diferente. Então pude perceber uma inquietude dentro de mim. Comecei a navegar por outras janelas do tempo. Ainda sem saber ao certo o que procurava, mas com a certeza que poderia mudar.
A mesmice do crepúsculo passado era tomado pela busca dicotómica de uma nova vida, anunciada pelo majestoso solstício de verão. E tomado pela energia de um Erê, não perdi o fôlego ao me deparar com tantas trilhas e árvores binárias. Sabia que alguma delas me levaria ao desconhecido tão desejado. Ao atravessar uma das portas buscando um momento de descontração, não podia imaginar que neste lugar seria surpreendido por uma força avassaladora. E como uma frase ingênua e sem grandes pretensões, poderia mudar o rumo da minha vida.- "Sim, eu vou!".
Neste instante, o brilho nos meus olhos reacenderam e senti uma força tamanha tomar conta de mim. E quanto mais era preenchido por essa energia desconhecida, mais leve me tornava.
Por um segundo, a alma estava liberta da matéria e a fonte de luz que me cercava se revelava: era um anjo em forma de mulher. Dançamos com as estrelas ao som orquestrado pela natureza e regido pelo astro rei; iluminadas almas gêmeas.
Nem mesmo a era do gelo, poderia apagar o calor de nossos corações; nem mesmo a frieza de uma alma invejosa, seria capaz de separar o que foi unido por Deus. E os flocos desta estação, cairão como um manto; os lagos congelados como espelhos, refletirão a beleza desse romance; os ventos uivantes propagarão o hino da felicidade; e que a neve seja uma cama macia, acolhendo os frutos deste sentimento tão mágico.
Que todas as janelas deste insano sistema, permaneçam intactas e permitam que outras almas gêmeas, possam vir se aquecer neste inverno. Pois eu, minha menina, estou nos braços da paz.
Próxima estação : AMOR!