A aparência real do amor
Me chamo Pierre Dufair e sempre fui muito imparcial com todas as pessoas presentes à minha volta.Nunca me permiti conhecer, viajar, ir além do que via, isso até àquele dia, isso até alguém me roubar de mim...
Era uma bela noite de Junho, a lua permanecia deslumbrante e transpirava beleza, também fazia frio e por isso me agasalhei.Pus-me à janela afim de olhar para a rua, tão vazia e silenciosa naquele momento.Já passava das 8 horas e eu ali continuava, minh'alma pairava em plenitude, embora meu coração estivesse embriagado,tinha perdido uma grande paixão, ela havia escolhido a outro.Passei naquele momento a refletir sobre os meus atos, tentando entender assim o porquê de seu esporádico abandono, eu não me conformava.Foi aí então que sem ânimo, pude ver uma dama que de longe acenava.Não compreendi no momento, não poderia ser para mim aquele aceno, talvez estivesse enganada.Decidido a ignorá-la, não fitei meus olhos novamente naquela miragem, o que foi em vão!A dama inconformada gritou em minha direção pedindo para que eu me aproximasse.Diante de tanta insistência senti-me constrangido em não atendê-la, peguei meu casaco e saí de casa ao seu encontro.Ao me aproximar percebi em seus olhos uma expressão de angústia, por certo sua vida não estava muito feliz, me atrevi então a perguntar o motivo de seu chamado.Ela simplesmente me olhava, eu podia sentir sua emoção em me ver, muito embora não pudesse explicar.Perguntei então quem ela viria a ser.Em tom suave e delicado, ainda com os olhos cheios d'agua ela me disse:
-Você não me conhece, não sou daqui.
Confuso, não hesitei em perguntar-lhe:
-Então por que me chamas?
A dama parecia acalmar-se aos poucos, apesar de meu comportamento um pouco agressivo.Para minha surpresa, sua resposta foi muito segura:
-Te chamei porque te amo.
Para mim não fazia sentido algum aquela declaração, apenas me calei e esperei que ela então explicasse.Sentei-me ao seu lado e em silêncio permaneci.A moça então pediu pra contar-me a sua história e eu aceitei ouvi-la:
-Me chamo Clarisse, e moro na rua paralela à sua.Percebi um grande homem em você desde que chegou aqui no bairro, mas nunca tive coragem de te falar.Ao saber que estava com alguém, minha situação se tornava cada vez mais crítica, e decidi por isso apenas te amar em silêncio, mesmo não estando com você.Sempre venho aqui te olhar na janela, mas nunca permiti que me visse, costumo aproveitar dos arbustos para me esconder.
Analisando tudo que ela estava me dizendo, insisti em perguntar, o porque de seu silêncio durante esse tempo, sua fuga se escondendo de mim.Ela me sorriu!E não foi um sorriso qualquer.Havia tanta beleza naquela expressão, tanto carinho guardado, eu começava a me render àquela dama que a alguns minutos era tão desconhecida.Depois de minha pergunta e de seu sorriso desconcertante, ela então respondeu:
-Não fugia de você,eu fugia de mim.Sabia que ao seu lado me sentiria totalmente feliz, e que essa felicidade corria um grande risco, pois você tinha uma vida, um relacionamento, outra pessoa que não eu.Meu espaço em sua vida seria limitado e não o bastante para me satisfazer.
Percebi nas suas palavras uma sinceridade incontestável e não pude deixar de reparar naquela bela moça.Na realidade apenas havia "deslizado" os olhos em sua face sem grande precisão quando a vi no início da conversa.Agora então já conseguia codificar cada um de seus traços, sua aparência tão apaixonada, sua pele tão macia.Sem pensar muito nas conseqüências a convidei para sair comigo no dia seguinte.Como já era tarde a deixei em casa e nos despedimos com um belo abraço.Com a Clarisse aprendi o que realmente significava o amor.Com ela aprendi a valorizar a expressão dos sentimentos e a cultivar o sorriso sincero.Ela me ensinou o quanto importante é sentir as pessoas antes mesmo de percebê-las e é com ela que estou vivendo os melhores anos de minha vida.Depois do segundo encontro, não conseguimos mais parar de nos vermos.Casamos em junho do ano seguinte, numa bela noite estrelada, recordando onde selamos pela primeira vez o nosso amor.Somos feitos da mesma carne, partilhamos de tudo, seu amor me pertence e eu a ela me entreguei.As vezes na vida precisamos perder uma paixão, uma amizade ou um carinho
para reencontrá-los todos juntos em uma única pessoa que nos dará amor.Desde aquela noite, não sinto mais frio, Clarisse é meu cobertor, meu refúgio...meu amor.