Led's Love - II

Todos os meus amigos estavam ali, sussurros de tristeza, escapavam de cada um em frente ao caixão, da única pessoa que eu amei de verdade. Eu nem chorava mais, não sentia mais nada, ou pelo menos não sabia como sentir, apenas o olhava ali, belo e pálido, deitado em meio as flores. Tulipas, as preferidas dele. Minha cabeça só trabalhava o passado, voltando todas as memórias, como no dia em que ele me disse que também gostava de mim. Fecharam o túmulo. Todos foram embora, mudos - pelo menos por fora.

Quando cheguei em casa, fui ao meu quarto, onde eu sabia que ficaria bem. Levei um tempo até dormir...

Dez anos após sua morte, eu já havia me acostumado com sua surda ausência. Estarrecedora, triste... Eu já tinha arrumado outro emprego, já saía com meus amigos. Já vivia bem novamente: ia à praia, jogava boliche, escrevia novamente, e cantava - desafinadamente - minhas canções preferidas. Uma vez ou outra chorava, mas sempre tinha algum colo quente que secava minhas lágrimas, e uma voz rouca que dizia: "Você vai ficar bem. Tudo vai ficar bem..." E me fazia mesmo bem aquilo tudo. Eu voltava a sorrir, em qualquer lugar que estivesse, eu tinha certeza, que ele estaria sorrindo para mim.

Eu ainda estava acordada, terminando um conto, quando vi que os ponteiros do relógio enlouqueciam de vez. "Mas o quê?..." foi quando eu olhei pro outro lado, e até me doeu a vista. A claridade daquele ser, que eu ainda não identificara, olhando fixamente pra mim. Mas como um relâmpago, tudo ficou claro na minha mente. "Só pode ser ele!" Suas asas brancas, que me pareciam transparecer, agora se abriam, mostrando seu corpo nu, e um sorriso não tão branco, fez-se para mim. Sim, era ele, aquele que há muito me deixara - fisicamente - sozinha. Caminhando em minha direção, olhou nos meus olhos, e disse: "Venha cá, Tisha, não tenha medo." E eu corri para seus braços, encostei minha cabeça no seu peitoral não muito forte, e o abracei, dizendo: "Eu te amo muito. Obrigado por sempre cuidar de mim, meu anjo da guarda." E nossos lábios, devagar, encontraram-se num beijo caloroso e demorado, e uma lágrima escorria do seu olho, e do meu várias. "Agora eu tenho que ir, mas não será esse o nosso último encontro..." Eu o abracei mais uma vez, e depois me afastei. De repente, ele sumiu. Ledrick subiu ao céu, e vai me vigiar, sempre.