Sábado à noite.......
Era sábado à noite, por que as coisas se tornavam tão difíceis para mim nesse dia? Deitado sobre o braço, eu apenas ouvia de fundo uma música desconhecida, tocada ao vivo por alguém no pequeno palco. Um violão nas mãos, a música solta, as cordas, a canção. Consentia-me a ideia de dormir lá mesmo, naquele estado sombrio de desespero afogado diante do copo de conhaque que se mantinha pela metade à minha frente. As pessoas envolta eram apenas borrões de lembranças que eu nunca, sequer, lembraria mais tarde. Havia algo na mesa também que prendia minha atenção: uma rosa branca. A maldita rosa que não consegui colocar no mármore repousante aonde meu namorado se encontraria para sempre. Lembrar-se daquela imagem supurante cortava minha alma – e a alma quando é ferida consegue superar em número e grau todas as dores físicas e emocionais, pois o emocional não faz parte da alma e sim do coração.
Para mim que não sobrou coração, ficou apenas a alma. Pisada. Esmagada. Deixou-me sem emoções, nem lágrimas. Tornei-me um lixo vivo.
E enquanto a música continuava, eu apenas fechei meus calmos olhos vermelhos para transpirar o ar do ambiente e tentar esquecer seu último suspiro acompanhado da frase que seguiria para sempre dentro de mim: “Sei que vamos nos separar. Sei que não teremos mais um ‘nós’. Eu sei disso. Mas não vou para muito longe. Vou continuar vivendo aqui, veja, dentro do seu coração”.