São eles.

O segredo é o olhar e falar as palavras mais doces de uma maneira firme. Primeiro eu conheci a Mel, foi todo aquele tempo de conquista, eu podia ter às 24 horas ocupadas, mas um jeito eu tinha para ligar, mandar sms. O que não podia acontecer era deixá-la sem saber de mim. Claro, isso às vezes acontecia. Mulher gosta disso, o mistério e o medo as deixam presas.

Depois de algumas semanas, ela já estava totalmente ligada a mim, o sentimento de dever cumprido é satisfatório. E o melhor, eu tinha a Mel, a Babi, a Fabiola, a Carlinha. E só dizer que sofri demais por amor e quero algo mais sério e um pouco de carinho, elas desabam. Com a Mel foi um pouco mais divertido, porque ela quis dar a de difícil, eu tive até um trabalhinho com ela. Mais isso me aguçou.

Enquanto eu “trabalhava” na batalha para conquistar a Mel, as outras ligavam, não tinham nem nada a dizer. Meu argumento de muito trabalho, cansaço já estava na ponta da língua. Bancar o trabalhador desperta os sonhos do genrinho ideal. Ah! uma dica é falar um pouco sobre igreja. Dizer que vai à missa e é cheque-mate.

As outras são pegajosas, certamente tem uma auto-estima baixa, um cara como eu que mostro que só quero brincar e elas se apaixonam? Eu acho muito engraçado, e uma delícia brincar com as mulheres, eu não consigo parar. Quando estou um pouco entediado, pego o celular, falo um pouco de desejos, sonhos e amizade verdadeira, convido pro cinema e pronto.

Enquanto isso, eu já estava conseguindo a Mel.

Muito bonitinha, de família. A conheci numa festa num bairro onde jovens se encontram. Tribos, músicas, tudo é convidativo. Ela usava o cabelo amarrado, vestidinho e sandália simples. Me atraiu por não ser aquele mesmo tipo de meninas que me envolvo em shows. São cópias fiéis umas das outras. Mel não. Mel estava lá, quieta, copo na mão, mas eu sabia que aquele jeito de dançar sozinha com os olhos fechados estava escondendo alguém exigente, garota linda.

Conversei sobre tudo com a Mel. Dividimos cigarros, cervejas e abraços. Não, eu não tentei beijá-la. Ela me olhou seriamente, tragou e perguntou se eu era gay. Eu sorri, fiquei sério. E disse que ela iria ser minha. Mel deu uma risada escandalosa e irritante. Eu sabia o jogo havia começado.

Passei a ligar para Mel todos os dias à noite. Trechos de livros e músicas. Ela nunca me ligava. Até saia comigo, mas na hora do beijo, ela ia embora, provocava e eu queria mais. Enfim, Mel, um dia, me ligou. Disse que queria saber como eu estava, afinal, eu tinha sumido.

Mordeu a isca. O jogo agora havia virado. A desculpa de estar sem tempo, meu chefe me sugava bastante deu certo.

Logo a Mel tão espertinha, vejamos, caiu. Os dias passando, comecei a levá-la a lugares bem clichês, programas idiotas. Daqueles que eu sabia que ela ia levar a câmera e tirar aquelas fotos bestas. Tudo bem, eu aguentei. Entre saídas, frases de amor e beijos, eu também dava meus pulos. Sumia.

Eu não iria namorar a Mel, deixei que ela pensasse que estávamos bem perto disso, coitada. Falava de uma música, dizia que era para ela. Mostrei a lua e disse que era dela. Apresentei vários amigos, passeamos bastante, era tudo um plano e claro uma grande diversão.

E então chegou o dia que Mel se declarou, falou aquelas coisas mais lindas e treinadas, voz trêmula. Abracei-a, beijei-a, chamei de amor. Mas não falei de namoro, falei que o problema era comigo, que precisava pensar e que eu não sabia se era o cara certo para ela. Que, naquela relação, eu preferia mil vezes sair ferido, não ela. Ela se derreteu.

O tempo, sempre meu amigo, fez Mel ficar loucamente apaixonada. Só que eu já estava me cansado, afinal, eu já havia conseguido a dose de ego. Uma mais bonitinha eu já tinha em vista. Comecei a sumir mais e Mel já tinha perdido todo o seu amor próprio. Enfim, a deixei de vez. Só que eu havia plantado uma semente, um trabalho assim tem que perdurar.

Eu sei que quando ela assistir filmes melosos de romance vai lembrar de mim, que quando escutar Paralamas vai lembrar de mim. O jeito que eu alisava os cabelos dela. Fiz questão de apresentar meus amigos porque eu sei que por onde ela costuma ir, sempre terá um deles lá. Ela vai lembrar de mim. Nas fotos fiz questão de fazer a linha mais apaixonado, ela vai pensar que a culpa foi dela. Por onde ela for, eu estarei para sempre na mente dela.

Mesmo quando ela criar ódio de mim, será uma mentira dita para si mesma mais de mil vezes, na verdade, ela me quer, mas não sabe como me perdeu. Mas eu nunca fui dela, nem da Babi, nem da Fabiola, nem da Carlinha, nem de mulher nenhuma. Despertar nelas o amor é uma prova de amor por mim mesmo. Me olhar no espelho, passar o perfume amadeirado, sorri e sair é um ritual, elas caem. Elas querem mais, é prático. Solidariedade a minha fazer tanta mulher feliz, só que no fim, a brincadeira é toda minha.

Batisthay
Enviado por Batisthay em 27/12/2010
Código do texto: T2694018
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