Uma história de amor.
Ela lia histórias de amor. Desde pequena.
Ela lia histórias de amor e sonhava viver dentro de uma.
Ela queria uma grande história de amor. Queria viver de sobressaltos, uma vida de mistérios, de atitudes ousadas. Queria que brigassem por ela. Nunca escondeu isso de ninguém. Não escondia dos pais. Não escondia do marido. Sim, porque ela se casou. Tinha se conformado, o amor, o verdadeiro amor não existia. Só em histórias. E ela continuou lendo suas histórias em livros que comprava e ganhava de presente. Todos lhe davam livros com histórias de amor. E ela lia e lia. Prateleiras cheias saíram de um dos cômodos da casa e invadiram outros. A casa aos poucos teve que ser aumentada para caber todos os livros. Quando os filhos saíram de casa, seus quartos também foram ocupados pelos livros.
Às vezes lhe perguntavam, os filhos e mais tarde os netos: Se um grande amor aparecesse você iria com ele? Nunca teve dúvidas, sim ela iria. Sairia com a roupa do corpo sem olhar para trás. Sabiam que duvidavam. Mas não importava, ela tinha certeza. Um dia eu não precisarei ler mais histórias de amor porque viverei em uma.
O tempo passava e ela continuava lendo. As pessoas riam de sua ingenuidade. Ela nunca vai crescer, diziam. Por que era assim que a consideravam, uma criança, cheia de sonhos fantasiosos. Ninguém nem mesmo compreendia porque o marido não se amofinava. Era um homem sério, de pouca conversa, cumpridor de seus deveres. Um homem de bem. E todos, apesar de sua sisudez, viam nos olhos dele o amor que sentia pela mulher. O amor não correspondido. A quem ousasse ter a liberdade de lhe perguntar, o que era raro, se aquilo não o incomodava , respondia. Isso é bobagem. Deixem-na em paz. Cuidem de suas vidas.
Mas um dia... Há sempre um dia nas histórias sejam de amor ou desamor. Um dia em que algo acontece e tudo muda. E tudo mudou naquela tarde quando ela saiu de casa, com a roupa do corpo e sem mesmo olhar para trás... Todos a viram sair, na pequena rua onde morava. Inclusive os filhos, que tinham suas casas na proximidade. Inclusive o marido, que tinha o seu trabalho em frente a casa.
Ela saíra pouco depois do almoço, tinha ido a Livraria pegar uma encomenda. Não planejava demorar, estava ansiosa para chegar em casa, queria assenta-se na varanda com um dos livros que comprara na mão, ansiando pela Primavera que tardava em chegar. Eram tempos de muita seca e a cidade estava coberta pela fumaça das queimadas distantes, mas ela não se importava. Ia passar uma tarde agradável. Mas, um problema aqui e outro ali acabaram impedindo que ela voltasse cedo para casa. Aborrecida pegou o carro, pondo os livros cuidadosamente no banco do carona. Pensava: antes de ler, vou ter que preparar o jantar, ele já deve ter chegado. Só vou poder ler mais tarde, coisa chata.
Foi então, ao virar a esquina, que ela viu a fumaça. Não atinou que vinha de sua casa. Quando compreendeu, as labaredas altas dançavam em direção ao céu. Nem mesmo desligou o motor.Abriu a porta e saindo do veículo abandonou-o a sua sorte. Seus filhos e netos, todos já estavam lá e correram em sua direção. Falavam ao mesmo tempo, apavorados, o Corpo de Bombeiros demorava... Uma delas disse: Ele está lá mãe, disse que ia tentar salvar os seus livros. Não, ela não pensou. Ela se atirou porta adentro e não houve mãos que a cercassem. O Corpo de Bombeiros parou em frente a casa exatamente quando ela saia porta afora, arrastando um corpo que se apoiava em seus ombros, semi desmaiado... Seus cabelos estavam chamuscados e seus olhos brilhavam. Quando os bombeiros os colocaram, a ela e ao marido, em macas separadas para seguirem de ambulância para o hospital, ela estendeu a mão em direção a ele que a segurou ternamente. Ele balbuciou: não se aborreça meu bem, comprarei outros para você. E ela, no meio da tosse, conseguiu dizer: Não. Não quero mais ler histórias de amor. Só quero agora viver a nossa. E quem contou isso espalhou pela cidade inteira. E naquela noite na cidade inteira casais se olharam nos olhos e em pensamento todos disseram: o amor existe e mora aqui, conosco.
Ela lia histórias de amor. Desde pequena.
Ela lia histórias de amor e sonhava viver dentro de uma.
Ela queria uma grande história de amor. Queria viver de sobressaltos, uma vida de mistérios, de atitudes ousadas. Queria que brigassem por ela. Nunca escondeu isso de ninguém. Não escondia dos pais. Não escondia do marido. Sim, porque ela se casou. Tinha se conformado, o amor, o verdadeiro amor não existia. Só em histórias. E ela continuou lendo suas histórias em livros que comprava e ganhava de presente. Todos lhe davam livros com histórias de amor. E ela lia e lia. Prateleiras cheias saíram de um dos cômodos da casa e invadiram outros. A casa aos poucos teve que ser aumentada para caber todos os livros. Quando os filhos saíram de casa, seus quartos também foram ocupados pelos livros.
Às vezes lhe perguntavam, os filhos e mais tarde os netos: Se um grande amor aparecesse você iria com ele? Nunca teve dúvidas, sim ela iria. Sairia com a roupa do corpo sem olhar para trás. Sabiam que duvidavam. Mas não importava, ela tinha certeza. Um dia eu não precisarei ler mais histórias de amor porque viverei em uma.
O tempo passava e ela continuava lendo. As pessoas riam de sua ingenuidade. Ela nunca vai crescer, diziam. Por que era assim que a consideravam, uma criança, cheia de sonhos fantasiosos. Ninguém nem mesmo compreendia porque o marido não se amofinava. Era um homem sério, de pouca conversa, cumpridor de seus deveres. Um homem de bem. E todos, apesar de sua sisudez, viam nos olhos dele o amor que sentia pela mulher. O amor não correspondido. A quem ousasse ter a liberdade de lhe perguntar, o que era raro, se aquilo não o incomodava , respondia. Isso é bobagem. Deixem-na em paz. Cuidem de suas vidas.
Mas um dia... Há sempre um dia nas histórias sejam de amor ou desamor. Um dia em que algo acontece e tudo muda. E tudo mudou naquela tarde quando ela saiu de casa, com a roupa do corpo e sem mesmo olhar para trás... Todos a viram sair, na pequena rua onde morava. Inclusive os filhos, que tinham suas casas na proximidade. Inclusive o marido, que tinha o seu trabalho em frente a casa.
Ela saíra pouco depois do almoço, tinha ido a Livraria pegar uma encomenda. Não planejava demorar, estava ansiosa para chegar em casa, queria assenta-se na varanda com um dos livros que comprara na mão, ansiando pela Primavera que tardava em chegar. Eram tempos de muita seca e a cidade estava coberta pela fumaça das queimadas distantes, mas ela não se importava. Ia passar uma tarde agradável. Mas, um problema aqui e outro ali acabaram impedindo que ela voltasse cedo para casa. Aborrecida pegou o carro, pondo os livros cuidadosamente no banco do carona. Pensava: antes de ler, vou ter que preparar o jantar, ele já deve ter chegado. Só vou poder ler mais tarde, coisa chata.
Foi então, ao virar a esquina, que ela viu a fumaça. Não atinou que vinha de sua casa. Quando compreendeu, as labaredas altas dançavam em direção ao céu. Nem mesmo desligou o motor.Abriu a porta e saindo do veículo abandonou-o a sua sorte. Seus filhos e netos, todos já estavam lá e correram em sua direção. Falavam ao mesmo tempo, apavorados, o Corpo de Bombeiros demorava... Uma delas disse: Ele está lá mãe, disse que ia tentar salvar os seus livros. Não, ela não pensou. Ela se atirou porta adentro e não houve mãos que a cercassem. O Corpo de Bombeiros parou em frente a casa exatamente quando ela saia porta afora, arrastando um corpo que se apoiava em seus ombros, semi desmaiado... Seus cabelos estavam chamuscados e seus olhos brilhavam. Quando os bombeiros os colocaram, a ela e ao marido, em macas separadas para seguirem de ambulância para o hospital, ela estendeu a mão em direção a ele que a segurou ternamente. Ele balbuciou: não se aborreça meu bem, comprarei outros para você. E ela, no meio da tosse, conseguiu dizer: Não. Não quero mais ler histórias de amor. Só quero agora viver a nossa. E quem contou isso espalhou pela cidade inteira. E naquela noite na cidade inteira casais se olharam nos olhos e em pensamento todos disseram: o amor existe e mora aqui, conosco.